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Amplifest 2022: Antevisão FDS1 - Parte 1 - Entrevista com Clothilde, Process of Guilt e O Gajo

25 de Setembro, 2022 ArtigosWav

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Amplifest 2022: Antevisão FDS1 – Parte 2 – Entrevista com Clothilde, Process of Guilt e O Gajo

Sonic Blast 2022: Antevisão
Não conhecêssemos nós as circunstâncias que causaram o adiamento do Amplifest que se avizinha, não seria de todo inverossímil assumir que o festival se tinha reformulado sob um evento trienal. Apesar das pausas entre as edições de 2016, 2019 e agora 2022, a verdade é que a família por detrás desta reunião sempre soube reagir à altura desses contratempos. “O que não me mata, torna-me mais forte”, citando Nietzsche. É essa a imagem chapada desta próxima edição. Não promete apenas um cartaz de luxo com uma vertiginosa curadoria de nomes, que coabita com o seu público sem qualquer barreira sonora, como também traz de volta os intermináveis serões com palestras, entrevistas, documentários e o melhor convívio que se pode encontrar na cidade invicta.

A meras semanas de tomar o Hard Club como epicentro, a oitava jornada desta experiência prepara-se para o inédito: uma dose reforçada de seis dias de Amplifest, dividida em dois fins-de-semana de muita da coisa boa que se mencionou acima. Perante uma proposta fortíssima de alinhamento no primeiro fim-de-semana, é impossível não saltar à vista a família portuguesa que irá abraçar o público do Hard Club entre os dias de 7 e 9 de outubro. Já em tom de antecipação, decidiu-se combinar um local e hora (virtual) para brindar umas palavrinhas entre as três pessoas por trás destes três nomes nacionais: Clothilde, Process of Guilt e o Gajo. Deu-se uma extensa conversa coletiva, onde se falou acerca do tão aguardado retorno aos palcos, os processos criativos em tempos de pandemia, e como todos encaram a aproximação deste encontro pelo qual ansiosamente aguardamos. Confere a primeira parte da conversa, em baixo.

 

Olá a todos e antes de mais quero agradecer-vos por se terem disponibilizado a participarem nesta entrevista! E começo já por perguntar algo bem pertinente: a cerca de 1 mês do Amplifest, como é que nós estamos todos a sentir?

Clothilde (Sofia) : Sinceramente só penso é que toco amanhã! Estou metida numa residência há praticamente duas semanas para outro festival que é o Phonetics. Toco amanhã e é justamente um mês antes de tocar no Amplifest. Confesso que, porque estou a tocar numa residência com outras pessoas, a minha cabeça já está a cansar porque estou a aprender imenso e a pensar em coisas que posso vir a fazer. Mas é engraçado porque apesar de estar a preparar um concerto estou a aprender de outras pessoas e isso é sempre bom, não é? Alimenta-te imenso. Já tenho imensos sons em que estou a pensar o que é que posso vir a preparar com eles, mas não sei mais que isso para já. Está a ser intenso.

Process of Guilt (Hugo) : Estamos contentes por voltar ao Amplifest! Conhecemos bem o festival. Fizemos parte da primeira e da segunda edição se não estou em erro. Temos uma relação de grande proximidade com o André, que é o organizador, e sei bem a devoção e o interesse que ele coloca neste festival. Sei bem a experiência que ele procura ter dentro dos concertos, a interação com outros elementos exteriores aos concertos, o próprio facto de muitas vezes a ordem das bandas não refletir aquele alinhamento normal de um festival... Acho que tudo isso torna o Amplifest um pouco diferente daquilo que temos no contexto nacional e aproxima-o mais de outros festivais em que já tocámos como o Roadburn. Por outro lado, já não vamos lá há muito tempo e o festival cresceu muito desde então. Lembro-me perfeitamente da primeira edição, o conjunto de bandas era muito apelativo e hoje certamente teria mais gente, mas era a primeira edição do festival. Sei bem o esforço que ele [André] colocou nessas edições e fico muito contente que ao fim destes anos ele ainda continue a ter um festival que está praticamente esgotado ou perto disso. Conseguiu ultrapassar a adversidade da pandemia e levar aquilo para a frente ao fazer dois fins-de-semana de festival, que é uma coisa ainda mais inaudita cá no nosso meio. E com isso estamos obviamente contentes por ir lá. Vai ser bom para nós! Também temos um concerto depois de amanhã e vamos fazendo uma gestão semana-a-semana, mas estamos com a energia certa e claro que já estamos a pensar no Amplifest.

O Gajo (João) : Para já estou muito curioso, porque já oiço falar do festival há algum tempo mas nunca estive presente. Estive quase, faltou a boleia na altura, mas tenho andado a pickar algumas das bandas para tentar perceber qual é o ambiente que se vai gerar ali. Eu sei que vão passar coisas muito distintas e que o festival é muito transversal em termos de géneros. Aliás, os três projetos que estão aqui são todos bem diferentes e acho que isso é muito interessante. Revela, acima de tudo, que quem organiza são pessoas com mentalidades arrojadas. Acho que é fixe não ser tudo dentro da mesma onda, senão a coisa torna-se um bocado circunscrita. Com esta viola acústica, vou tentando adaptar e preparar o melhor set possível. Acho que as pessoas vão estar disponíveis para tudo. Vê-se que é um festival feito com muito cuidado e gosto. Toda esta antecipação e a forma em como é promovido mostra que é um festival especial, com personalidade. Estou ansioso para que chegue, mas ainda falta um mesito e vem alguns concertos antes desse. De qualquer modo, vou experimentando algumas coisas para chegar em forma!

 

Este ano tem sido o mais assemelhado a um ano “normal” para o setor da cultura em Portugal desde inícios de 2020. Qual é o sentimento de estar finalmente a retornar aos palcos em 2022, e ainda para mais com os palcos do Amplifest à vista?

Sofia: É maravilhoso. Eu confesso que fazia-me muita falta. Felizmente estou a ter um ano em que estou a tocar bastante. Eu faço isto há muito pouco tempo, na verdade, sete anos, mas começas a perceber que isto é quase como oxigénio. Faz falta, alimenta-te, dá-te uma energia emocional muito grande. Tenho dito isto a toda a gente, mas acho que este convite ao Amplifest foi o que me deixou mais contente por ser o mais inesperado. Não o conseguia perceber apesar de realmente ser um festival muito transversal - tal como o João [O Gajo], tenho andado a ver as bandas. O meu trabalho é muito improviso, mas gosto sempre de me preparar para onde vou tocar. Nunca repito o meu patch, toco sempre com um patch novo para me adaptar a cada espaço. Estou com uma vontade gigante de fazer o gig do Amplifest. Não conhecendo muito bem, já estive a estudar a coisa e é impressionante o trabalho que este festival tem feito e só espero estar à altura!

Hugo: Enquanto banda, nós trabalhamos sempre os 4 juntos. Por muito que façamos coisas em casa e possamos gravar ficheiros e tocar, e por muito que tenhamos toda a tecnologia para fazer estas coisas, nós só fazemos e temos a certeza da música que estamos a fazer quando estamos os 4 no ensaio a ouvir e a reagir ao som. Eu já explico onde é que isto vai levar. Dito isto, em Março de 2020 nós estávamos a pensar em estúdio para gravar o disco que viria a ser o Slaves Beneath The Sun. O facto de apenas dois de nós viverem em Lisboa, outro em Évora e outro em Setúbal, aliado às paragens com a pandemia, impossibilitou não só que gravássemos, mas também que ensaiássemos e estivéssemos uns com os outros. Isso foi especialmente complicado para nós – e para todas as bandas –, lidar com toda uma planificação do projeto. Noutros patamares, estes problemas amplificam-se, e isso levou a que apenas em 2021, há pouco mais de um ano, conseguíssemos de facto entrar em estúdio, gravar o disco, e voltar a uma certa sensação de normalidade. Tocamos no final do ano passado no Back To Back com Mão Morta e Bizarra [Locomotiva] e isso foi um regresso à normalidade. É claro que também houveram questões pessoais que enegreceram esse período, mas o facto de termos conseguido lançar o disco, termos tocado e apresentado o disco em Lisboa e em Évora permitiu-nos ter essa sensação de regresso a essa quase-normalidade.

Aqui o senão é que foram dois anos parados. Muitos festivais e concertos estão ainda a despejar bandas de coisas que tinham marcadas, como por exemplo a nossa atuação daqui a dois dias no Rock dos Romanos, que era para ter acontecido em 2020 e vai acontecer em Setembro de '22. Há muita coisa que torna este regresso meio agridoce, porque de repente os preços dispararam, e nós, que precisamos de andar com a casa às costas, precisamos de toda uma logística que, perante aquilo que nos oferecem, é pena termos que dizer que não às vezes simplesmente porque não ser plausível estar nesta altura a fazer marcha atrás. Muitas salas fecharam, muitos promotores desistiram, e essa é a triste realidade com que fomos confrontados aqui. Neste marasmo de situações, podermos ir ao Amplifest, isso sim, é quase uma normalidade para nós. Podermos ir a um sítio onde já tocámos e fomos bastante felizes. Já fui muitas vezes e sei bem o ambiente que lá está e as pessoas estão lá porque gostam genuinamente da música. Algo que noutros festivais mais urbanos ou comerciais na zona de Lisboa já é mais duvidoso. Muita gente vai porque vai. Até nos festivais mais underground isso existe. Mas no Amplifest, se há algo que é diferente e bom, é começar logo com dois fins de semana para marcar uma afirmação do André no pós-pandemia: "vamos deixar isto para trás, perseveramos, continuamos". Eu sei muitas das dores dele, e ele também partilha da maior parte das nossas. O nosso último recurso continua a ser a satisfação e uma certa catarse que tiramos das atuações ao vivo, e é nesse sentimento que ainda continuamos a apostar e explorar. Espero que essa catarse também aconteça lá pelo Amplifest. Seria bom sinal para nós e potencialmente para quem nos vê.

João: Eu não tive o problema dos Process Of Guilt, tendo em conta que tenho um projeto a solo (...) Eu estou a dizer isto no sentido de ter conseguido manter-me a trabalhar. Por exemplo, desde que a pandemia começou já lá vão dois discos. Deu para eu continuar a compor, apesar de tocar menos, mas também como o projeto é relativamente portátil deu para tocar alguma coisa. Mas acima de tudo, nesta fase acho que estamos muito mais próximos da normalidade, sinto que já sabia que a música era muito importante para mim mas depois de uma fase destas percebi mesmo que é essencial e que quando há paragens isto mexe com o sistema nervoso de quem está habituado a estar sempre no ativo. Sempre a pensar, sempre com projetos, sempre com uma estratégia a funcionar em contínuo. E de repente esse contínuo quebra e ficamos a pensar "se não fizer isto, vou fazer o quê? O que é que me vai fazer feliz? O que é que me vai preencher?". Isso foi uma das coisas boas talvez, porque hoje valorizo muito aquilo que tenho a oportunidade de fazer. É uma grande mais-valia. No meio disto tudo, festivais como Amplifest e vê-los de volta, como tenho visto muitos festivais parados a retornar, é excelente. Também sou público muitas vezes, obviamente não toco só, e tem-me dado muito gosto poder ir a concertos e voltar a esse convívio. Com a música pela internet deu logo para perceber que não era caminho, porque realmente gosto de estar no meio das pessoas, às vezes no palco outras vezes no público. Pronto, deu para revelar um bocado essa importância.

 

Clothilde, a tua abordagem à síntese modular é algo invulgar – no melhor dos sentidos. Algo que se consegue notar no teu segundo disco de originais do ano passado, Os Princípios Do Novo Homem, é que há quase sempre uma tentativa de fuga ao loop – figurativo e literal –, loop este que geralmente se associa a este tipo de música. O que é que motiva esse inconformismo?

Sofia: Eu não sei explicar [risos]. É super engraçado fazeres essa questão porque tenho aprendido muito sobre o meu trabalho a ler o que descrevem sobre ele. Nesse álbum Princípios Do Novo Homem pensei bastante e conceptualmente, foi muito trabalhado pois é uma banda sonora para uma peça de teatro que tinha um conceito redondo onde o princípio era o fim e o fim era o princípio. Comecei a pensar "como é que crio isto? Vou por sinusoidais?" Aquilo eram 8 princípios. Só me pediram 4 faixas mas fui eu que propus um bocado esse silêncio porque A Base era o que se ouvia quando não era pedida uma faixa e essa [A] Base é uma onda sinusoidal que está em todas as faixas. Foi muito pensado, mas no momento em que me ponho a tocar é mesmo muito orgânico. Tento não tocar as máquinas, mas que as máquinas me toquem. Onde acaba uma começa a outra. Que seja uma coisa bastante orgânica. E li muitas vezes isso, que o meu trabalho se destacava porque não caía naquilo que toda a gente faz.

Fujo muito à sequenciação e à repetição. Acho que a minha ignorância quando comecei foi uma benção porque agarrei nas máquinas quase como brinquedos. O meu único interesse era tocar e que me soasse bem. Sempre fui fanática por música, sou muito eclética, oiço absolutamente tudo, não tudo porque há coisas que não se aguentam, mas oiço muita música. Por exemplo, adoro música de dança, gosto de dançar e adoro coisas repetitivas, mas é quando é um Terry Riley. Tenho aquela necessidade de estar sempre a trabalhar, sempre a alterar. Gosto de arranjar sons puros, gosto de arranjar guitarradas muitas vezes com um LDR, ainda vou tentar trabalhar com isso mas acabo sempre por fugir e tem a ver com aquilo que oiço e quero devolver. Quando me estou a ouvir, chego a um ponto em que não dá mais. Acabei por criar essa característica no meu trabalho, mas foi algo completamente intuitivo, não foi pensado. É uma questão que anda sempre muito na baila e eu própria não a sei explicar bem. Eu desenho, e muitas vezes quando estou a tocar penso muito não em cores, mas em linhas, em pontos, em texturas, em sombras, em se agora me apetece ouvir áspero. A minha cabeça funciona quando estou lá no meio dos cabos. Mas obrigada, porque acho a questão interessante mas não a sei explicar.

 



 

Com o baixo caudal de concertos que houve nos últimos anos devido à pandemia, as atuações dos Process of Guilt acabaram por sofrer uma redução inevitável. Diriam que este tempo fora dos palcos foi um fator importante na composição do vosso mais recente disco? E como é que esse período de “enclausuramento” afetou o processo criativo da banda?

Hugo: Obviamente tocamos menos vezes. Olhando para trás, também começámos a ser mais criteriosos na forma como íamos tocando e escolhendo os sítios onde tocar, porque lá está, já tivemos a fase onde fomos a todos, já tivemos a fase onde agora podemos ter alguma seleção. Em relação àquilo que era o nosso plano inicial, estivemos um ano e meio fora daquilo que seria o curso normal da nossa vida se não tivesse havido pandemia. É claro que, não tocando ao vivo, e não tendo aparecido no festival x ou y, perdemos alguma hipótese de ter captado mais interesse, mais público. Mas por outro lado, dentro do infortúnio geral da pandemia, a certa altura nós estávamos prontos para o estúdio e resolvemos olhar para os temas todos outra vez. Resolvemos cortar "gorduras" como lhes chamamos. Reformulámos e planeámos tudo como nunca tínhamos feito antes, desde ir ao estúdio até lançar o disco, foi feito de forma diferente, o que nos levou também, em última análise, a tentar que as atuações, quando eventualmente acontecessem, fossem um pouco mais especiais. Levarmos isto ao extremo quando achámos que tínhamos de apresentar um álbum antes dele sair. Foi uma coisa que nos deixou muito satisfeitos, porque estar a tocar músicas que ninguém conhecia e ver que a sala estava cheia de pessoas contentes com o pouco que ouviram trouxe pelo menos alguma satisfação pelo tempo que perdemos e por aquilo que a pandemia nos permitiu fazer. O nosso processo de composição é especialmente moroso e difícil. Há uma certa democracia que impera entre nós os 4 e se alguma coisa está mal, voltamos e voltamos. É uma questão de tentarmos enquadrar o melhor possível para nós. Já somos os mesmos há tanto tempo e já nos conhecemos demasiado bem para rapidamente percebermos quando alguma coisa não está bem.

(Sobre como o período de “enclausuramento” afetou o processo criativo da banda) Afetou, não havendo processo criativo novo durante essa altura. Deu apenas para ouvir e registar muita coisa em casa. Não foi aquela altura em que agarrasse na guitarra e fizesse meia dúzia de riffs e ficava tudo impecável porque estava com um problema na cabeça, e esse problema é que devíamos estar no estúdio a gravar um disco e não querer avançar sem ter antes acabado uma coisa que estava pronta ou quase pronta. Isso permitiu-nos exercer a criatividade de outra forma. Permitiu-nos traçar uma estética do disco do ponto de vista gráfico. Permitiu rever algumas letras, rever alguma estrutura. No fundo, permitiu-nos uma segunda camada de produção em cima do disco, mesmo antes de alguma pré-produção, antes de ir para estúdio, que também tornou essa experiência bastante melhor e mais fluida e deu-nos uma satisfação como poucas vezes tivemos. No fundo, a pandemia, com tudo de mal que teve, deu-nos este brinde que foi permitir-nos ir para estúdio numa forma em que nunca o tínhamos feito. Isso é fruto direto da pandemia, mas se calhar é pouco. Se calhar devíamos ter feito outro disco entretanto [risos]. Mas gosto que a nossa ação seja pautada por uma maior certeza nas coisas que fazemos e naquilo que queremos expressar. Nos outros discos antes, sempre fizemos colaborações com alguém, ou fizemos splits, ou aquele disco só de remisturas. Houve sempre essa margem para experimentar. Desta vez foi tudo baralhado. Desta vez fizemos o que podíamos e o melhor que podíamos nas circunstâncias em que estávamos e desse ponto de vista não me posso queixar muito porque, objetivamente, o resultado foi muito melhor do que o que tínhamos alcançado noutros discos. Este ponto de vista volta a ser outra vez acerca de uma situação agridoce [risos]. Foi bom por um lado, podia ter sido melhor por outro.

 

Gajo, a tua música transmite uma qualidade bastante intemporal. Quase que remete para uma viagem a tempos distantes e fora dos nossos - no entanto, a sua sonoridade permanece atual. Fala um pouco sobre como é que nasceu este teu desejo de trazer estas jornadas no espaço e no tempo à vida.

João: Vou só dar aqui um apontamento relativamente a isso que disseste de levar para outros tempos. Já me disseram que o som desta viola e a forma como componho e toco os leva para um Portugal antes de Portugal ser Portugal, sabes? Quase uma altura em que isto ainda era dos árabes. E realmente acho que essa viola terá com certeza origens nessas alturas. Não sei exatamente a história, mas diria que tem qualquer coisa a ver com o norte de África. A viola acabou por ser a grande protagonista deste projeto – a viola campaniça – portanto, uma viola que faz parte da família dos cordofones tradicionais portugueses. Ela tem realmente um som que me orienta, ou seja, eu não procurei a viola no sentido de querer levar o projeto desta forma. Ela tem uma sonoridade que roça um bocadinho a guitarra portuguesa às vezes, mas depois também vai um bocadinho para a música tradicional. Depois, as minhas referências são coisas muito mais recentes e portanto acaba por haver aqui uma saladinha desses timelines muito vastos.

Mas a ideia de chegar a esta viola veio por ouvir mais world music, aquela música que tem uma geografia, projetos que têm uma determinada origem geográfica. E pronto, como tocava guitarras americanas e japonesas, achei que a minha geografia andava algo perdida e resolvi agarrar-me a uma viola que tivesse raiz em Portugal e que fosse construída cá. Foi assim que encontrei este instrumento e os outros todos, se bem que me agarrei mais a este porque achei o mais indicado. Este projeto tem mais ou menos 5 anos, e ao começar a fazer essas experiências, ela começou a levar-me por estes caminhos antigos e meio arábicos: já estive num festival islâmico em que achavam que o projeto tinha tudo a ver, apesar de eu nunca ter ouvido música com esse tipo de sonoridade. Foi mesmo a viola que, de alguma forma, juntando àquilo que eu também fiz nela, me levou para esse espaço no tempo. Achei sempre interessante e ultimamente tenho tentando aproximar-me um pouco mais disso, explorar mais esse caminho. É uma viola acústica e tenho tentado não processar demasiado o som para tentar que ela esteja na sua pureza máxima, mas claro que tudo isto é relativo e ao fim de 4 discos já começo a sentir necessidade de mudar as fórmulas e virar-me para outros lados. Uma das grandes referências musicais que tenho é curiosamente a banda que ia ver ao Amplifest, na altura em que a minha boleia à última da hora decidiu não aparecer! Fiquei um bocado chateado mas pronto, eram os Wovenhand e eles...

Hugo: Eu fui ver esse!

João: Foste ver? Epá, eu adoro aquela banda...

Hugo: Já vi Wovenhand para aí uma meia dúzia de vezes. [risos]

João: Eu felizmente vi 3 em Lisboa mas era para ter visto essa no Porto... Pronto, e a curiosidade é que o vocalista dessa banda de vez em quando toca uns instrumentos de corda antigos. Ele toca aquilo e de repente parece que andas a viajar no tempo também, não é? E portanto acho que estes instrumentos para mim têm isso, essa viagem no tempo.



O FDS1 do Amplifest contará ainda com atuações de colossos como Cult Of Luna, Caspian, Oranssi Pazuzu e Wolves In The Throne Room, e verá igualmente o retorno de nomes de edições passadas, entre eles Amenra e Birds In Row, bem como uma imensidão de estreias inéditas em território nacional. O cartaz deixa ainda uma participação em aberto, que será revelada posteriormente durante o curso da experiência. Bilhetes diários e passes para o FDS1 já se encontram completamente esgotados.

 
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