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gnration open day: o futuro passa por Braga, e é gratuito

24 de Abril, 2019 ArtigosJorge Alves

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É já no próximo sábado, dia 27 de abril, que se realiza mais uma edição do gnration open day, em Braga. Iniciando-se logo pela manhã (10h) e terminando somente de madrugada (4h), o evento funciona como uma montra do melhor que se vai fazendo nos meandros da música alternativa e em outros campos da arte contemporânea, reunindo um excitante conjunto de concertos, exposições e instalações de entrada gratuita e proporcionando, assim, uma experiência cultural imersiva e acessível a todos.

Este ano, o principal destaque (apesar de o evento merecer ser apreciado a uma escala global) vai para o projeto AMMAR 808 (na imagem), desenvolvido pelo produtor tunisino Sofyann Ben Youssef, onde os exóticos ritmos do Magrebe se aliam a pulsantes batidas eletrónicas para uma viagem ao passado de sentimento futurista. Excitante, inegavelmente original e irresistivelmente dançável, AMMAR 808 traz na bagagem a aclamada estreia Maghreb United, lançada pela Glitterbeat, e fará da praça do gnration um palco de intensa diversão e profundo contacto com algum do mais rico património musical do Norte de África. Certamente um dos concertos mais promissores do dia, que tem tudo para figurar nas listas de melhores do ano.

Ainda no campo da eletrónica, o britânico Graham Dunning apresentará o espetáculo Mechanical Techno, onde vários vinis rodam sobrepostos, em loops bloqueados, ao passo que as Algobabez, dupla formada por Shelly Knotts e Joanne Armitage, criarão uma rave de algoritmos, servindo-se do live coding para oferecer um concerto de eletrónica altamente vanguardista mas, ainda assim, extremamente ritmada. Duas atuações em nada vulgares e que representam fielmente o espírito não só do evento, como da programação geral do gnration: diferente, atual, focada no presente e futuro da arte alternativa, pouco interessada (com raras exceções) em sessões de nostalgia. Essa atenção ao que hoje se faz reflete-se também na componente nacional do cartaz, onde se incluem os Sensible Soccers, em fase de promoção ao mais recente e muito elogiado Aurora, os bracarenses Quadra (cujo novo álbum foi concebido no âmbito da iniciativa do gnration Trabalho da Casa, que promove a elaboração e eventual apresentação de discos por parte de artistas locais), o já conhecido baterista, percussionista e escultor sonoro João Pais Filipe, e ainda a Escola do Rock Paredes de Coura, que nesta ocasião contará com a presença de diversos músicos de Braga. De modo a fechar com chave de ouro, o espanhol DJ KSets fará questão de pôr todos os presentes a mexer a anca com uma entusiasmante seleção da melhor música feita no Médio Oriente. Dança, aqui, será a palavra de ordem - já o foi, no ano passado, numa prestação memorável no festival barcelense Milhões de Festa.

À maratona de concertos (que terá, como já é tradição, uma pausa entre o final da tarde e o início da noite), junta-se, como referido anteriormente, um detalhado programa de instalações, onde se destaca a do artista digital francês Maotik (intitulada Wavelengths of Light), a da artista visual e compositora portuguesa Diana Policarpo (Total Eclipse) e também, no pátio interior, Machine Message, por Berru. Por fim, haverá igualmente um conjunto de atividades de serviço educativo. Com toda esta oferta grátis, coloca-se a questão: porquê ficar em casa?

 

 

Kelly Lee Owens: a eletrónica também cura a alma.


Se tudo o que foi escrito acima não se revelou suficiente para aguçar o apetite, fica aqui uma entrevista com a principal atração da última edição, a galesa Kelly Lee Owens, que se tem afirmado como um dos nomes mais entusiasmantes do atual universo da música alternativa. Autora de uma eletrónica tão relaxante quanto dançável, por vezes próxima do território de um Jon Hopkins ou Arthur Russell, explora as possibilidades terapêuticas da sua arte ao mesmo tempo que faz da mesma um meio para a autorrealização. Aquando da sua passagem por Braga, no gnration open day de 2018, fomos falar com ela para entender melhor o modus operandi desta tão singular artista.

 

O teu álbum de estreia foi muito bem recebido; acabou por ser uma grande surpresa para ti ou lidaste bem com isso?

Kelly: Bom, tentei não criar muitas expectativas, sabia que estava orgulhosa do que tinha e fiz o que realmente queria fazer. Na verdade, pensei nisto apenas como uma coleção de canções e não tanto como um álbum, de certa forma. Pela altura em que completei todo este processo, sabia que tinha feito algo que apreciava e esperava que essa honestidade e pureza permitissem que as pessoas se relacionassem com o produto.

 

Por falar em energia, quando escutei a tua música pela primeira vez, sem saber nada sobre ti, senti que era particularmente terapêutica. Foi um objetivo teu, algo que fizeste conscientemente como resultado da tua experiência como auxiliar de enfermagem, em que cuidavas essencialmente de doentes terminais numa clínica dedicada ao tratamento de cancro?

Kelly: Sinto-me extremamente sortuda por ter tido essa oportunidade. Tinha somente dezanove anos quando comecei a trabalhar em enfermagem e foi algo que me deu toda uma nova perspetiva em relação à vida, pois ser confrontada diariamente com a morte mudou a forma como passei a encarar a minha existência. Falei com médicos, enfermeiras e até pacientes sobre o que queria fazer, sobre os meus sonhos de compor música, e eles diziam sempre – bem, o que estás aqui a fazer, então? Não de forma pejorativa, mas no sentido de poder eventualmente regressar a esta área e que, por agora, devia seguir em frente e tentar concretizar os meus sonhos, pois se não o fizesse, mais tarde iria arrepender-me. Isto veio de pacientes na reta final das suas vidas, portanto foi sem dúvida algo muito poderoso. Por outro lado, sempre senti que devia haver mais locais onde estas pessoas se pudessem expressar, mostrar aquilo pelo qual estavam a passar e expulsar o medo que residia nelas. É curioso, costumava olhar para a enfermagem e a música como coisas opostas, mas a verdade é que há fortes ligações entre os dois mundos. Contudo, foi somente depois de começar a ser entrevistada e a palavra “curar” ser mencionada, que lentamente me apercebi que aquilo que fazia tinha um efeito terapêutico. Quer dizer, sempre teve para mim, era meditativo e permitia-me viajar de forma positiva…

 

No entanto, se pensarmos bem, faz sentido: pessoalmente, sempre achei que a música ajudava imenso a relaxar e era uma maneira de libertar energias negativas e alcançar um estado de espírito positivo.

Kelly: Totalmente, é precisamente essa a beleza do som e aquilo ao qual me tenho dedicado mais ultimamente - a exploração sonora, sobretudo, de certas frequências com propriedades medicinais. Isso pode ser atingido vocalmente, como fazem os monges tibetanos, que treinam as suas vozes para atingir frequências específicas, o que funciona supostamente como uma forma de recarregar energias. Aliás, conduziram um estudo com monges onde estes, ao deixar de cantar e meditar, deprimiam e ficavam letárgicos, tendo até de dormir mais; por outro lado, quando cantavam, conseguiam ficar acordados vinte horas seguidas.

 

Isso é realmente impressionante. Aproveitando esta temática, sei que praticas meditação com gongos. Podes explicar-nos como funciona o processo?

Kelly: Sim, claro - é fascinante, na verdade. Entras num quarto decorado com gongos, deitas-te com um cobertor e algo a tapar os olhos e basicamente permaneces estático enquanto relaxas o máximo possível…

 

Portanto, não vês nada…

Kelly: Sim, exatamente, pois o objetivo é privar a pessoa dos outros sentidos, o que considero crucial e particularmente interessante. Permite-te expandir a mente e deixar que o som penetre - daí chamar-se um banho de som com gongos, pois todas as vibrações são redirecionadas… é quase como uma limpeza à alma através da vibração. O impacto sonoro do gongo pode ser subtil ou mais acentuado, mas acaba por ser emocionalmente forte, consome-te completamente. Sempre que me submeto a esta experiência, sinto um formigueiro no meu corpo e tenho esta sensação maravilhosa de que alguma coisa foi desbloqueada. Quando fiz isto pela primeira vez, na verdade, tive a melhor noite de sono de sempre, então comecei a fazê-lo duas vezes por semana, o que não é necessariamente fácil porque quando há esta libertação, expulsa-se naturalmente algo de dentro de nós, a nível de emoções ou outra coisa qualquer; contudo, é importante que haja essa experiência, digamos, quase catártica. No fundo, trata-se de obter instrumentos que possibilitem uma reabilitação física que posteriormente conduza a um bem-estar emocional e mental.

 

“Ser confrontada diariamente com a morte mudou a forma como passei a encarar a minha existência”


Consegues fazer este ritual, à falta de melhor palavra, quando te encontras em digressão?

Kelly: Bom, faço-o mais frequentemente em casa, se bem que seria absolutamente fantástico fazê-lo em digressão, mas é obviamente muito mais complicado. Contudo, sou muito sortuda pois vivo atualmente com uma xamã especializada em terapia sonora e temos um quarto de cerimónias onde já demos banhos de som com gongos uma à outra; é uma experiência íntima e intensa, especialmente tendo em conta que, normalmente, há vinte ou trinta pessoas envolvidas no processo. Todavia, quando é somente uma pessoa… é inacreditável mesmo, como se o som refletisse aquilo que está dentro de ti. Curiosamente, o primeiro banho de gongos soa bastante demoníaco, é algo muito negro…

 

Quase como um exorcismo, de certa forma…

Kelly: Sim, é mesmo isso!!! No entanto, pode-se escutar o mesmo banho de som, passadas oito semanas, e soa completamente diferente, numa espécie de reflexo daquilo que foi expulso de nós ou que o está a ser naquele momento. Considero tudo isto algo incrível, sabes…

 

Parece ser, efetivamente. Confesso que nunca o fiz, no entanto.

Kelly: Devias, é mesmo bom. Até porque, verdade seja dita, é assustador meditar em silêncio, enquanto que desta forma acaba por ser mais fácil e poderoso também… descontrai o corpo e expande a mente.

 

Compreendo. Bom, falando mais detalhadamente da tua obra, tens óbvias influências de techno, mas não cresceste fã de música de dança e foi só quando conheceste o Daniel Avery (produtor e DJ britânico) que te apaixonaste verdadeiramente por este universo. Dirias que se tivesses tido um trajeto diferente, que o teu som também não seria o mesmo?

Kelly: Bem, penso que será uma das razões, sem dúvida, mas foi também consequência de um momento específico em que simplesmente me relacionei com este som de uma forma muito orgânica. Se não fosse isso, não teria cultivado este interesse, pois sou muito sensível em relação aos sons que incluo; se não gosto de algo, esquece, não gosto mesmo. É isso que a produção significa para mim, poder escolher este ou aquele som… sou muito rápida e decidida no que toca ao processo criativo.

 

Já agora, como descreverias a tua sonoridade? Sei que é uma questão muito complicada de responder para qualquer artista, mas o teu caso é muito interessante, porque apesar de se notar algumas influências de nomes consagrados - Björk, Arthur Russell ou Jon Hopkins, por exemplo - és capaz, ainda assim, de desenvolver algo com uma personalidade bem vincada.

Kelly: Oh obrigado, esse é o maior elogio que se pode fazer a um artista, e penso que provém muito da honestidade com que faço as coisas, pois apesar de escutar muitas cenas diferentes, procuro sempre produzir algo novo sem tentar copiar os outros. Adoro a Björk e o modo como ela coleciona batidas e cria um universo a partir de pequenos sons, mas quis construir o meu próprio legado e permanecer fiel aos meus instintos, gravar aquilo que queria no momento - ser eu própria, basicamente. Para mim, é o mais importante.
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