Este ano, o Milhões de Festa trocou o habitual mês de Julho pela primeira semana de Setembro, mas, mesmo com a mudança de datas, o espírito de descoberta (ou de redescoberta, em certos casos) e o sentimento de diversão desenfreada continuam a fazer parte do ADN do festival minhoto. Como forma de aguçar o apetite para o que aí vem, selecionamos cinco discos de cinco artistas que vão marcar presença no evento, esperando assim proporcionar uma entusiasmante e enriquecedora exploração musical. Vemo-nos em Barcelos!
Scúru Fitchádu - Scúru Fitchádu
A produção nacional desde sempre que esteve presente no Milhões de Festa, e a edição de 2018 mantém viva essa louvável tradição. No meio de todos os artistas portugueses que vão apresentar a sua arte no Parque Fluvial de Barcelos, um dos que mais se destaca é Scúru Fitchádu, o atual projeto do produtor Sette Sujidade. Misturando a garra do punk com o sabor exótico do funaná, música típica de Cabo Verde, o que daqui sai é um som irreverente, selvagem, tão vanguardista como tradicional; acima de tudo, um som original e inconfundível, o claro e genuíno resultado das vivências do seu criador. Ao vivo a festa será tão divertida como pujante, tão vibrante quanto visceral. Como preparação, nada melhor do que absorver a riqueza sonora do EP de estreia.
Gazelle Twin - Unflesh
Um dos concertos a não perder nesta edição do Milhões é do Gazelle Twin, o excitante projeto da talentosa produtora e compositora Elizabeth Bernholz. Em vésperas de lançar um novo disco, recordamos neste artigo uma obra que a confirmou como um dos nomes a ter em conta no universo mais experimental da música alternativa contemporânea. “Unflesh”, lançado em 2014, é uma experiência auditiva tão soberba quanto bizarra, onde a voz de Elizabeth - ora limpa, ora severamente processada ao ponto de soar verdadeiramente demoníaca - convive com batidas tão negras quanto pulsantes, construindo-se aqui uma eletrónica simultaneamente avant-garde e estranhamente dançável, com letras socialmente conscientes onde Elizabeth levanta questões pertinentes sobre o mundo que a rodeia.
Circle - Terminal
O prolífero colectivo finlandês Circle pode ser ainda desconhecido para muitos, mas é uma fonte inesgotável de criatividade (mais de 50 discos no currículo!) e um exemplo perfeito de ecletismo sem fronteiras. Na sua música escutam-se elementos de jazz, krautrock, metal, psicadelismo e tudo o que a banda desejar explorar, criando uma fórmula explosiva e imprevisível e promovendo, desta forma, o conceito defendido pelo Milhões, onde diversos estilos também se misturam no mesmo cartaz ao longo de quatro dias de pura e despretensiosa descoberta musical. Terminal, de 2017, é a mais recente viagem do dinâmico grupo por inúmeras paisagens sonoras, um disco para ser escutado com mente aberta e ouvidos atentos. A experiência será desafiante, mas menos do que isso não seria totalmente gratificante.
WWWater - La Falaise
WWWater é Charlotte Adigéry, belga dona de um currículo inegavelmente sólido (que inclui colaborações com os Soulwax e explorações em nome próprio) e que agora se lança sob o referido pseudónimo onde constrói uma eletrónica minimalista recheada de sensibilidade pop. O produto final é tão deliciosamente etéreo como irresistivelmente dançável, e La Falaise funciona como cartão de visita para o esplêndido universo de uma das mais promissoras artistas da atualidade.
Electric Wizard - Dopethrone
O Milhões também se faz de regressos, e a nostalgia é ainda mais forte para muitos quando envolve guitarras. Depois de terem passado pelo festival na já mítica edição de 2010, os Electric Wizard regressam ao mesmo recinto para o voltarem a cobrir de poderosas e negras camadas de doom metal. De forma a entrar lentamente no estado de espírito adequado para testemunhar tamanha avalanche de riffs, recordemos Dopethrone, obra essencial na discografia do grupo britânico onde o peso angustiante das demolidoras guitarras é a força motriz de uma densa atmosfera sonora.