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NOS Primavera Sound 2016: Woman is a Word

23 de Junho, 2016 ArtigosSara Dias

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Furacão Ho99o9 a caminho de Barcelos

The Bug e o Cubismo Sonoro
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“When she does not find love, she may find poetry. Because she does not act, she observes, she feels, she records; a color, a smile awakens profound echoes within her; her destiny is outside her, scattered in cities already built, on the faces of men already marked by life, she makes contact, she relishes with passion and yet in a manner more detached, more free (…)” 

 

Mais uma edição do NOS Primavera Sound passou, e como em todas as edições anteriores, passou a correr e já deixa saudades. Apesar dos cabelos ao vento com coroas de flores, bolinhas de sabão a passearem-no à frente do nariz, dos pés descalços e toalhas aos quadradinhos amarelos e brancos, copos reutilizáveis quase sempre vazios e câmaras fotográficas analógicas na mão, o NOS Primavera Sound marca-nos, ou devia marcar-nos, acima de tudo pela excelência do line-up que ano após ano apresenta. Bom ambiente sempre foi imagem de marca do festival, mas este ano, mais que nos anteriores, alguns “festivaleiros” não souberam respeitar quem os rodeava e acima de tudo, os artistas que se expõe em cima do palco - muitos que se se deixam em carne viva numa entrega total à sua performance - para ter um punhado de indivíduos a falar a alto e bom som sobre coisas supérfluas ou a calcular o ângulo para uma selfie. Mas claro que nem tudo foi mau, até muito pelo contrário: este ano assistimos a concertos que nos marcaram profundamente, que nos fizeram dançar e cantar ou até verter uma ou outra lágrima. Nesta crónica viemos dar realce a alguns dos nossos concertos preferidos, unidos por uma questão em comum, em palavras da grande Lorely Rodriguez, “Woman is a Word” – o que estas artistas têm em comum é serem do sexo feminino, mas não é um artigo sobre mulheres, (des)igualdade de géneros ou identidade sexual. Aqui abordamos a música, nada mais.

27040474454_a88037ba47_o Julia Holter

Julia Holter era um dos artistas mais esperados do primeiro dia, a par de Sigur Rós, o que se verificou pela quantidade de gente que inundou o Palco Super Bock. A música de Holter é extremamente introspetiva e pessoal, o que só por si pedia um ambiente mais reservado, uma sala mais pequena, um público menor e mais embrenhado nas sonoridades etéreas com pinceladas de jazz e de um pop altamente intimista. Para além deste handicap, a banda de Julia Holter não foi suficiente, as canções pelas quais nos apaixonamos em Have You In My Wilderness soaram vazias em termos de som. Era necessário um piano de cauda, uma secção de sopros e uma secção de cordas maior para compor as canções, para as encher, resumindo, para soarem mais robustas dentro da sua subtileza. Have You In My Wilderness soa bem mais pequeno ao vivo que em estúdio, o que foi um risco mal calculado pela americana quando fez a transformação de registo. Porém, tudo o que foi referido atrás não condicionou completamente a performance de Julia: o concerto foi, dentro dos possíveis e apesar dos seus defeitos, dos nossos favoritos desta edição do festival. A entrega e dedicação total de Julia Holter aliada à sua voz celestial e à sua forte mas subtil presença em palco encheu-nos o coração. A segunda parte do concerto foi mais intensa e os momentos mais entusiasmantes traduziram-se nas “Betsy on the Roof” e “Sea Calls Me Home”. Julia fez o que pode com o que tinha, e esteve à altura das expectativas.

Como completo oposto de Julia Holter encontramos Empress Of. Lorely Rodriguez era uma mais uma artista repleta de talento à espera da sua oportunidade, não teve que esperar muito já que logo com o seu primeiro longa-duração, Me, chegou às bocas do mundo, muito devido à aclamação da crítica, como uma das mais promissoras artistas Pop/R&B da atualidade. Não será por acaso que Empress Of nos chega através da curadoria da Pitchfork, tendo sido esta uma das principais impulsionadoras da carreira de Lorely. Empress Of encontra-se no total oposto de Julia Holter porque Me ganha dimensões astronómicas ao vivo. Quer pelo soberbo desempenho vocal de Lorely, quer pela maestria da sua banda, quer pela qualidade elevada do som que o palco Pitchfork providencia. Apesar dos ritmos dançáveis e da voz sideral de Rodriguez, a agressividade está lá: nos baixos prepotentes que fazem os tímpanos vibrar e mesmo sofrer e nas letras que Lorely projeta com ferocidade: “Don’t kitty, kitty cat me like I’m just your pussy / Any other night you treat me just the same”. A produção de cada faixa ganha uma pujança que no álbum não tem, assim como os sintetizadores ostentosos foram impossíveis de ignorar. Impossíveis de ignorar foram também os passos de dança de Lorely, tão inusitados quanto a própria música. Numa entrevista à Studio 360 afirma: “I listened to Björk for the first time and I was like, ‘Nope! I’m going to be the weirdest person I can possibly be’”. Para além das faixas de Me, Empress Of interpretou também o seu novo single “Woman is a Word” que foi um dos pontos mais altos da noite – “I'm only an image of what you see”.

 

27409482170_5b64a4a3aa_o Empress Of

“The body is not a thing, it is a situation: it is our grasp on the world and our sketch of our project” 

 

Mais tarde, nesse mesmo Palco Pitchfork tivemos o privilégio - sim, o privilégio - de receber Holly Herndon. Com o Segundo longa-duração, Platform, Holly consumou o seu estatuto de produtora e compositora de música eletrónica – um estatuto muitas vezes diminuído apenas pelo facto de ser uma mulher. O caso mais evidente é o de Jessy Lanza que recentemente afirmou numa entrevista à NFOP: “There have been certain articles that have left me out in terms of production, like completely. And obviously that’s pretty annoying to me, when it’s been pretty explicitly stated in press releases that I’m not just a singer. I produced the album as well. But I think that’s just a reflection of the general popular scene being really sexist”.

Regressando a Holly Herndon, a performance teve como mote de início algumas mensagens irónicas e cómicas de Brian Rogers nos visuais sobre a quantidade muito reduzida de pessoas que assistem aos concertos de Holly Herndon, acrescentando ainda que era sempre difícil ter uma plateia composta quando simultaneamente havia um concerto secreto dos Arcade Fire – na mesma slot tocavam os Beach House no Palco NOS. A performance foi genial e demos de caras com mais um álbum que ganha dimensões exorbitantes ao vivo, estávamos perante uma parede de som praticamente palpável, que nos absorveu por completo na sua tri-dimensão. Os corpos na plateia moviam-se de forma convulsa e quase involuntária. Holly explora também as reações que a música pode provocar no cérebro humano, e como grande exemplo temos “Lonely at the Top” – faixa que não foi inserida na setlist – concebida para provocar uma resposta chamada Autonomous Sensory Meridian Response. Talvez, a princípio seja estranho descrever um concerto com um conceito de neurologia sobre uma faixa que nem foi abordada, mas este é o resumo ideal do que sentimos no seu set: uma mistura de euforia, de relaxamento e de arrepios que nos percorrem a pele sucessivamente faixa após faixa. Existe uma dualidade em Herndon que se realiza no confronto entre a emoção e a tecnologia. No entanto, estas duas partes não se excluem, pelo contrário, misturam-se e deixam de existir fronteiras ou divisões. Se por um lado temos um conjunto de máquinas e por outro temos uma Herndon ruivinha e de presença tímida, no palco sentimos uma simbiose sem precedentes. Já a Mat Dryhurst, a timidez é uma daquelas palavras que não lhe entram no dicionário, e não foi com grande surpresa que o vimos a saltar do palco para as colunas para arrasar numa dança “quasi-tribalesca pós-moderna”.  No fim do set Brian Rogers agradeceu ao técnico de som pela sua competência, quase como se conseguisse ler os nossos pensamentos; agradecemos também. Ano após ano o Palco Pitchfork e o Palco ATP, agora Palco Ponto, têm oferecido qualidade de som soberba. O mesmo não acontece com o Palco NOS que foi fortemente criticado no ano passado.

 

"One is not born a woman: one becomes one." 

 

27077562503_c7386d1ca0_o PJ Harvey

 

Críticas que pelo menos surtiram o devido efeito. Polly Jean Harvey surgiu no palco como uma Afrodite para uma verdadeira multidão – sendo que uma parte dessa mesma multidão passou pelo NPS apenas para ver uma das maiores, melhores e mais conceituadas artistas da nossa contemporaneidade. Não era só por ser uma musa que Polly Jean era tão ansiosamente aguardada: a sua ultima passagem por Portugal foi há 6 anos atrás, em 2009, altura em que nem Let England Shake havia sido lançado; álbum que a par de The Hope Six Demolition Project esteve em grande destaque. Estes dois discos estão munidos de mensagens muito fortes e que se refletem nas letras, como por exemplo em “Words That Maketh Muder”: “I've seen and done things I want to forget; / I've seen soldiers fall like lumps of meat, / Blown and shot out beyond belief. / Arms and legs were in the trees.”. Mas nem só as letras merecem um alto destaque já que PJ Harvey é como a maestra de uma pequena orquestra magistralmente concebida e coordenada por ela, com uma secção de sopros que nos dá arrepios na pele; e o instrumento mais importante de todos que é a voz de Harvey que ao longo dos anos tem melhorado tal como o vinho do Porto, cada vez mais polida, cada vez mais marcante e única. Mas a carreira de PJ Harvey está muito longe de se ficar nesta década, esta é uma artista que marcou as últimas três décadas, metamorfoseando-se, recordemos álbuns como Dry ou To Bring You My Love, faixa homónima que foi reinterpretada e acabou por ser mesmo um dos momentos mais memoráveis do festival.

Ainda há aproximadamente duas semanas acabou a quinta, mas já ansiamos pela sexta edição dos NOS Primavera Sound. Um festival que tem vindo a crescer de forma exorbitante de ano para ano e que já se tornou uma das maiores referências no que toca a festivais portugueses. Porém, este crescimento tem também os seus contras, sendo que o principal é: com um crescimento tão assinalável que levou a uma enchente de 80 mil pessoas nos três dias, como é que o NPS se vai manter fiel ao seu conceito original e à sua magia inicial?
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