Daqueles álbuns que mudam a vida de uma pessoa. Tal como se disse dos Velvet Underground nos 70's, nem toda a gente ouviu os Pixies, mas os que o fizeram, quiseram todos fundar uma banda.
Um álbum que é um dos pilares do rock alternativo, a base dos Nirvanas, Radioheads e afins dos 90's, um disco repleto de grandes canções do princípio ao fim mesmo que apenas Where is my mind? e em menor escala Gigantic tenham sido singles relevantes. O álbum esteve longe de ser um sucesso de vendas mas a sua influência em termos musicais é esmagadora.
Nele encontramos de tudo, uma sequência de canções lentas e rápidas, com quiet-loud típico dos Pixies bem presente, catchy, introspectivas, por vezes quase eróticas, outras completamente tresloucadas, referências bíblicas e até sobre pesca submarina.
A produção do disco é no mínimo singular, uma tentativa deliberada de obter uma atmosfera crua, cortante e desconcertante para o ouvinte.
A abertura com Bone Machine coloca-nos logo no ambiente de Surfer Rosa, com a imponente batida e o suave baixo a entrarem antes das guitarras e vocais desvairados. Em Break My Body o ritmo abranda um bocadinho, mas sendo mantendo aquele som crua e dinâmica muito próprio. Something Against You é punk fortemente distorcido, bem nervoso, enquanto Broken Face tem um ritmo contagiante e vocais geniais de Black Francis, falando das deformações resultantes da consanguinidade e incesto, temos que lhe eram especialmente queridos! Em Gigantic temos uma canção que automaticamente nos faz perceber onde Kurt Cobain foi buscar a inspiração para mudar a face da indústria musical dos 90's. Uma fantástica canção pop-rock, catchy até mais não e cantada pela baixista Kim Deal, que dá um tom mais açucarado, em contraste com o que nos costuma servir o senhor Francis. A fechar o lado A em grande estilo, temos River Euphrates, com um refrão muito estranho com sobreposições vocais muito engraçadas e que resultam na perfeição, mesmo que às vezes não se perceba grande coisa do que estão a berrar.
Stop. O lado B começa com o título maior, Where Is My Mind?, um verdadeiro clássico. Não há muito a dizer sobre esta obra-prima. Segue-se a Cactus, talvez a minha favorita, da qual o senhor David Bowie fez depois uma versão num dos seus álbuns. Talvez a canção mais intrigante do álbum, no meio de tanta coisa estranha, embora curta (como quase todas) é um rasgo notável, até na maneira meio inesperada como acaba. Curiosamente ou não, é seguida a canção mais frenética do álbum, Tony's Theme, a relatar de forma genial a história de um "super-herói" chamado Tony, basicamente um puto a andar na sua bike. Altamente. Oh My Golly!, em espanhol macarrónico, é um pouco na mesma toada, mas desta vez fala-nos da Rosa surfista. Na senda da música em espanhol, aparece Vamos, em versão revista e aumentada, já que esta faixa já tinha aparecido no 1º EP da banda Come On Pilgrim. É uma canção muito simples, com batida repetitiva antes de irromper a guitarra sinuosa do Joey Santiago, a abrilhante a coisa em grande estilo. Resulta muito bem ao vivo. Penúltima faixa do álbum, I'm Amazed começa com um estranho diálogo entre Kim Deal e Black Francis sobre hoquistas com tendências homossexuais antes de entrar numa canção com guitarras estridentes e as habituais mudanças de dinâmicas deliciosas made in Pixies. A fechar, o belíssimo e quase totalmente instrumental Brick Is Red, bela melodia que encerra com chave de ouro este álbum fantástico.
Nota 10/10, sem sombra de dúvidas.