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"Tornar a banda na cena que eu sempre quis ver quando era puto" - Hetta em entrevista

15 de Setembro, 2023 ArtigosJoão "Mislow" Almeida

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Antevisão Sonic Blast 2023 - Nomes (não tão óbvios) a não perder
Se há banda jovem que tem trabalhado para espalhar o seu nome e, com devido reconhecimento, a levá-lo cada vez mais longe, essa banda chama-se Hetta. Juntos desde 2018, com um arranque adiado por uma pandemia, a banda pôde finalmente estrear-se em palcos em 2021, lançando pouco depois o seu EP de estreia Headlights. O quarteto do Montijo, composto por Alex Domingos, João Pires, Simão Simões e João Portalegre, está desde o seu primeiro concerto e até hoje a correr o país de norte a sul a picar cidades como uma coleção de cromos.

Mais recentemente, os Hetta abriram para os Soul Glo em Lisboa e no Porto, tendo já tido também a oportunidade de tocar em Espanha (por duas ocasiões), no Barreiro, Leiria, Aveiro, Montijo, Paços de Ferreira ou Lamego. Recolhendo inspiração da cena post-hardcore/screamo dos anos 90/2000, a premissa da banda é simples: tocar música rápida, intensa, emotiva e deixar uma impressão. DIY e desordem!

Para brindar tudo isto, foi com a chegada do quarteto ao cartaz do próximo Amplifest, a acontecer nos próximos dias 23 e 24 de setembro, que se fez pura justiça poética. Por todos estes motivos e mais alguns, tornou-se necessário trocar algumas palavras com a banda acerca de como têm passado estes últimos meses e do que ainda está para vir, mais concretamente com o vocalista Alex Domingos e o baixista Simão Simões.

 

Vamos começar por falar um pouco sobre a origem da banda. Quem, onde, quando e em que circunstâncias nasceram os Hetta?

Alex - Não me lembro exatamente qual foi o ano, se foi 2018 ou 2019. Quando os Violent Pup acabaram, eu e o Pires anda tínhamos a sala de ensaios onde a banda ensaiava e começámos à procura de malta para tocar. Bem antes disso já ele tinha trocado palavras com o Simão para fazerem uma banda juntos e, depois de falar comigo, juntámos o Portalegre, que tocou em Nagasaki Skateboarding. Passámos uma semana inteira a ensaiar depois disso.

Simão - Sim, foi pouco depois de termos cimentado a formação com uma ideia que fomos tocar pela primeira vez.

 

Tanto pelo DIY, a estética, a vossa presença em palco bem como a vossa sonoridade, é impossível não vos associar à cena post-hardcore/screamo dos anos 90. Orchid, Pageninetynine, The Jesus Lizard, Fugazi são alguns dos nomes que me passam pela cabeça quando vos descrevo. É seguro dizer que essa cena é a vossa maior influência?

S - Para projeto, mais ou menos, será alguma coisa nesse bairro. Ora Orchid, Jeromes Dream, Pageninetynine. Essa malta seria quem eu penso mais “yah, é isto que eu gostava de fazer.”. The Locust também.

A - Sim, é isso. The Locust, City of Caterpillar. Tens toda a cena da Three One G, da Epitaph. Eu também tiro muitas influências de Oxbow e Daughters.

S - Mas não se resume só a esse universozinho em específico. Adoro e sinto que sacamos muitas coisas de Number Girl para a banda, por exemplo.

 

Vocês têm até agora um EP (Headlights), um split e um single recentemente incluído numa compilação da Zegema. Tudo gratuito no Bandcamp, para quem esteja interessado. Para quem ainda não vos conhece, como descreveriam a vossa música?

A - Caótica, espásmica, por todo o lado e em lado nenhum. Nunca pensei muito nisso mas para resumir bem resumido, seria algo assim.

S - Músicas curtas de rock com jarda.

 

 

O caos que dispõem na música é também ele refletido nas palavras. O que nos podes dizer dos teus versos, que muito parecem poemas pessoais. O que é que eles significam para ti?

A- Eu diria que escrevo da forma mais natural. Não estou à procura de uma coisa propriamente específica nem estou a pensar num tema em particular. Vai saindo. A meio da malha é sobre isto, depois já é sobre outra coisa qualquer. É verdade que é muito pessoal mas também tento que não seja muito direto e parece-me ser muitas vezes propositado, apesar de não ter essa noção quando estou a escrever. De certa forma é tudo sobre mim, até porque no final das contas sou a única coisa que conheço realmente bem.

 

É evidente que a energia da banda se expande por completo ao vivo. Os vossos concertos já ganharam alguma notoriedade pela sua intensidade e imprevisibilidade. Falem-nos um pouco sobre a vossa relação com o palco e com o ato de tocar para um público.

S - Acho que é um bocado esse o propósito final para escrever, pelo menos dentro do tipo de coisa que queremos estar a fazer, em que a verdadeira casinha que as músicas vão parar é o palco. A imprevisibilidade que se faz acontecer nos concertos é que faz tudo um pouco mais engraçado. Às vezes vamos partir cordas, saltar lá para o meio, escorregar um bocadinho.

A - Aqui há dias estava a falar com o Pires sobre isto. À medida que a banda vai andando para a frente há mais coisas a fazer, outras responsabilidades como entrevistas por exemplo. E é bom sinal, é sinal que as pessoas estão interessadas. Então vejo-me cada vez mais obrigado a separar em duas componentes distintas: uma, que é muito impessoal para mim, que é o que não tem nada a ver com arte, entrevistas, pensar nos posts do instagram, merch, todas essas coisas que uma banda tem que fazer para andar para a frente; separar isso das coisas que eu considero artísticas como ir para a sala de ensaios escrever malhas, que dá muito gosto de fazer, e tocar concertos. Eu pessoalmente acho que todos nós quando vamos tocar somos muito honestos com a forma como nos estamos a sentir, bem como a saber o que é um bom gig. Ninguém está a combinar antes do concerto o que fazer, é uma questão de honestidade no final do dia. Tornar a banda na cena que eu sempre quis ver quando era puto.

 

A banda vive um crescimento cada vez mais acentuado pelo norte a sul do país, o que é fenomenal tendo em conta que vocês nasceram num nicho, mais especificamente no seio da cena local hardcore do Montijo, e por extensão margem sul, em que as realidades são completamente diferentes em relação ao restante panorama musical português. Falem-nos um pouco sobre a comunidade do Montijo e os desafios que uma banda tem de superar ao começar do zero.

S - Acho um pouco complicado responder a isso porque a banda não começou de todo do zero.

A - Exatamente. Também não sinto que começou do zero.

S - Todos nós viemos de sítios, uns mais parecidos que os outros,  mas vimos todos de um sítio, antes de formar a banda. Já todos tínhamos tocado ao vivo com bandas, já todos tínhamos projetos em que escrevíamos música. Como por exemplo o Pires e o Porti tocaram em Nagasaki Skateboarding, o Pires tocou em Violent Pup, eu e o Porti tocámos com Maria Reis, já há muitos anos que toco músicas viradas para a cena experimental e electrónica também. Acho que por causa disso já conhecíamos o meio em Portugal, já sabíamos um pouco como nos mexer.

A - Para mim foi um bocadinho diferente do que para eles. Como o Simão estava a dizer, eles pertenceram a algumas bandas que tiveram algum tipo de notoriedade na cena lisboeta e portuguesa, mas eu pessoalmente não tive essa ligação tão grande sem ser por exemplo a ver os gigs deles e doutras pessoas. Ainda não tinha encontrado pessoas com quem quisesse realmente fazer isto até esta banda. Para mim foi um bocado novo, pelo que eles me iam mostrando.

S - Mesmo antes da banda apanhaste muito dessa experiência por osmose, também. Ver os gigs, conhecer as pessoas que tocavam...

A - Sim, é isso. Também por a banda estar ligada ao hardcore da margem sul e à cena deste lado, acho que é legítimo e acho que há uma parte disso que é verdade. Mas eu, pelo menos, nunca senti que a banda fizesse parte de alguma coisa. Desde o início da banda que sempre sentimos grande dificuldade em arranjar pessoal com que tocar em termos sonoros e que se ligasse de forma semelhante.

S - Não havia uma cena que funcionasse como um espelho direto para nós e isso também é óptimo porque tanto a malta do indie com quem tocámos, malta da Cafetra por exemplo, como a malta do hardcore da margem sul e doutros sítios em Portugal, todos eles foram acolhedores para nós. Também nunca nos sentimos fora de casa em nenhuma dessas situações e acho que isso deu azo para crescermos de uma forma saudável.

A - Até adoramos essa diferença, poder tocar em cenas diferentes regularmente. É muito bom e até aprecio sentir essa cena de não estar integrado nesse circuito porque dá muito azo a outras coisas. Eu sinto-me muito confortável nessa posição e todos nós gostamos muito disso.

 
Alex Domingos e Simão Simões com Hetta no Maus Hábitos, Porto
 

Até ao dia de hoje já se perde a conta dos concertos que deram em Espanha. Falem-nos um pouco sobre essa experiência, histórias engraçadas da estrada. Foi intimidante?

A - Não foi intimidante. Foi muito fixe!

S - Fomos muito bem tratados sempre que fomos a Espanha. Acho que tivemos sorte em conhecer logo pessoas que nos percebem e que são realmente acolhedoras. Nós que somos um bocado patinhos fora de água e estamos do nada noutro país, nem nenhum de nós fala particularmente bem espanhol. Ainda nenhum de nós tinha tocado fora de Portugal, podia ter sido uma experiência assustadora e aterradora, mas fomos mesmo muito bem acolhidos. Particularmente pela malta do CSA Las Vegas em Málaga, que nos acolheu de uma maneira que eu acho maravilhosa. A última vez que fomos a Espanha fomos só lá.

A - Sim, fomos só lá. Sete horas e tal de viagem para lá, só para tocar esse gig porque gostámos tanto deles e da vibe que quisemos voltar de propósito. O Naz, que toca em The Only Traces Left of Sunken Ships, falou connosco por mensagem porque ouviu o nosso disco e curtiu, e perguntou-nos se queríamos ir lá tocar, uma mini-tour, quando quisessemos. É claro que sim! Ele safou tudo. Fez o percurso todo, falou com o pessoal todo, orientou as comidas, tudo. Não tivemos que fazer nada, só tivemos que agarrar as nossas coisas e ir. Só aparecer lá e tocar.

S - O Naz também toca em Have Fun.

A - Yah, o Naz também toca em Have Fun, que é uma banda que ele começou porque eu dizia “have fun” muitas vezes num gig e disse que ia usar isso. Histórias engraçadas em Espanha…

S - Tivemos numa paragem de serviços chamada Portugal 1 e 2..

A - E fomos maltratados porque éramos portugueses...

S - Às duas da tarde fomos almoçar a um sítio na Andaluzia mas a cozinha já estava fechada.

A - Porque estavam andavam à caça (*risos*).

S - Depois fomos a outra terra de caçadores, mesmo à frente, e comemos um gelado.

A - Como estávamos a dizer, a banda está a ir muito bem mas continua a ser uma banda muito pequena, não temos de todo uma estrutura por trás, fazemos tudo práticamente sozinhos e com ajuda de algumas pessoas que agradecemos imenso. A viagem foi muito fixe porque estávamos em Espanha a tocar em sitios não propriamente grandes com aquela vibe de palcos pequenos e depois a dormida, de repente, é uma mansão, um local incrível, com um jardim botânico enorme lá atrás, em que passeava por 15 minutos e não conseguia ver tudo. Foi lindo acordar e ter grandes pequenos almoços, foi muito fixe.

 

Além das viagens que já começaram a fazer fora do país, também a vossa música tem viajado por aí, nomeadamente por outros continentes, tendo chegado aos ouvidos de editoras como a lendária Zegema Beach. Qual é a vossa reação quando apanham pessoas de sítios tão distantes a identificarem-se com a vossa cena?

S - Ficámos todos com um carinho gigante pela malta da Zegema. O Dave é o maior. Um dos Daves (*risos*). A música ter chegado lá e ter esse nível de apoio por essa malta foi uma experiência mesmo boa e é sinal que talvez estejamos a fazer qualquer coisa fixe.

A - Nós já curtíamos da cena que estávamos a fazer, mas sei lá, uma pessoa de uma label tão importante do nosso meio, que tem tanta história, de repente ouve o nosso disco numa página qualquer do Facebook e convida-nos para editar as nossas coisas quando quisermos. Senti-me bastante atordoado e grato. Foi a partir daí que sentimos todos que estávamos a fazer qualquer coisa especial.

 

Por incrível que pareça, vocês ainda são uma novidade bastante recente. Apesar da quantidade absurda de concertos que têm vindo a dar desde que se saiu da pandemia, nem parece que fizeram a vossa estreia ao vivo em 2021. E que melhor forma de brindar essa vossa temporada com uma passagem pelo Amplifest? A ESTE Amplifest, ainda para mais. Comentários?

A - Yah, alguns de nós tem ido ao Amplifest desde que temos idade para ir, ver bandas que nunca podíamos ver nunca noutro sítio. Era incrível para mim. Um dos melhores dias da minha vida foi ver Daughters e Touché Amoré. Um dos dias em que tocámos no Barreiro o Pedro Roque veio ter connosco a dizer que curtiu imenso do que estávamos a fazer, falou connosco e sugeriu enviarmos um e-mail ao André da Amplificasom. E fizemo-lo, apresentámo-nos e demos a saber que existimos. Acabou por acontecer tudo ao mesmo tempo, saiu o artigo no Bandcamp, enviámos o e-mail, a banda estava com hype, ele gostou do disco e convidou-nos. Estamos muito gratos por lá ir tocar e acho que vai ser uma experiência incrível!

 

Algum nome que vos tenha feito gritar internamente?

S - Sunn O))), para mim. É das minhas bandas preferidas. Fiquei muito feliz por saber que vamos tocar no mesmo sítio que Sunn O))).

A - Yah, Sunn O))) é incrível e quero muito ver Ken Mode ao vivo. Nós não sabíamos qual era o cartaz antes de sermos anunciados, Soubemos uma semana antes só. E quando vimos o cartaz foi um sentimento muito bom. É ainda meio estranho ver a cena ter corrido tão bem.

 

Para terminar, sigamos para as últimas duas. Qual a missão atual dos Hetta? Quais os planos para o futuro próximo?

S - Estamos a escrever música. Queremos escrever a melhor música que conseguimos fazer. Vamos batalhar nisso, eventualmente fazer um álbum e queremos tocar lá fora.

A - O máximo possível.

S - Queremos tocar lá fora, queremos tocar em Portugal em sítios que nunca tocámos, queremos continuar, básicamente. Não temos nenhum plano particularmente específico que não seja fazer o melhor que nós conseguimos fazer, e fazer a música que nós queremos ouvir.

A - Para mim pessoalmente, a possibilidade de poder viajar com amigos e fazer aquilo que mais gosto. Isto é a coisa que sempre quis fazer desde que tenho 12 anos e está a começar a acontecer. Esperemos que no próximo ano consigamos fazer isso. Escrever umas malhas para um eventual disco, sair daqui a um ou dois anos, ainda não sabemos bem quando vai sair, mas para planos diretos será isso. O melhor de nós, sempe.

 

E a da praxe: o que  têm ouvido ultimamente?

S - Tenho andado a ouvir muito Botanist, e tenho andado a ouvir muito Jeromes Dream e o novo álbum que o SELA lançou, Life Unlimited que está muito bom.

A - Eu tenho ouvido novamente o novo disco de City of Caterpillar, entrei outra vez num pino de The Blood Brothers, e o novo disco de Agriculture que o Simão recomendou e tenho ouvido regularmente. Essas três!

Obrigado!

 

 

Além da divisão diária, também já foram divulgados os horários do Amplifest - confere aqui. Os passes gerais encontram-se esgotados, bem como os bilhetes diários para cada dia.
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