
Numa altura que a música portuguesa está a ser (e muito bem) divulgada no estrangeiro sob o mote "Why Portugal?", decidimos dedicar um pouco de tempo a um tesouro mais ou menos escondido que temos em Portugal. Porquê Barroselas? Perguntam vocês e perguntamos nós. Ora bem, porque é um dos festivais com mais longevidade no nosso país, com um cartaz de ouro, situado numa zona belíssima e, acima de tudo, pelo ambiente vivido dentro e fora do festival. O SWR é um verdadeiro tesouro escondido dentro de portas e rivaliza com os melhores festivais da Europa em termos de preço/oferta.
Desde há já alguns anos que, impreterivelmente, nos deslocamos ao norte, em finais de abril, afim de passarmos uma boa semana junto de amigos novos ou velhos e de outros tantos que vamos fazendo ao longo do festival. Estando empolgados, mais uma vez, este ano, que consideramos ser o melhor dos últimos tempos, com nomes sonantes transversais a todos os géneros e sub-géneros do Metal.
Foi no dia 25 de abril de 1998 que os irmãos Tiago e Ricardo Veiga decidiram iniciar esta aventura, num cartaz que primava pelo destaque do Grindcore e Death Metal, e em que os madrilenhos Avulsed (ainda em atividade) eram a banda em maior destaque. Dezoito anos depois e olhando para os cartazes de um passado recente, a evolução do cartaz é notória, tendo passado por Barroselas nomes tão importantes como: Immortal, Kreator, Sodom, Candlemass, Pentagram, Venom, Discharge, Cryptopsy, Belphegor, entre tantos outros. Em 2016 o cartaz é um dos mais coesos de sempre e nem o cancelamento de Aborted conseguiu alterar esse feito.
Ao longo dos anos mais recentes, o SWR tem apostado cada vez mais numa corrente em claro crescimento, o Stoner Doom e Sludge, aposta ainda bem mais vincada este ano, com nomes e estreias muito relevantes. Neste espectro, vamos poder contar com uns Conan que se assumem este ano como a banda Sludge/Doom em maior destaque por esses festivais na Europa. Regressam a Portugal com um novo disco, Revengeance, provavelmente o disco Sludge mais importante que este ano vai ver. Ainda no Stoner Doom há a destacar um regresso e uma estreia: o regresso é o do casal itinerante Jucifer, que prometem encher o palco LOUD Dungeon com uma parede incrível de amplificadores e potência sonora. Mas a verdadeira potência vem com a estreia em Portugal dos suecos Monolord. Donos de um dos melhores discos Stoner Doom do passado ano de 2015, Vænir, este trio que apanhámos no Desertfest Belgium 2015 vai certamente surpreender muita gente com a potência que o disco ganha ao vivo. Outra estreia muito aguardada é dos norte-americanos Usnea, banda de Black Doom que também assinou um dos melhores discos do género em 2014, Random Cosmic Violence, editado pela conceituada Relapse. Ainda no Black Doom destacar também os portugueses Vaee Solis, um dos novos projetos nacionais mais interessantes dos últimos anos, que atuam num palco de acesso gratuito.
E falando em Black, o Black Metal está também este ano muito bem representado, não só com os habituais Decayed (pioneiros do género em Portugal) como também com os casos de Taake, Marduk, Archgoat, Valkyrja, Misþyrming e Naðra. Os dois últimos, que partilham alguns membros, vêm “diretamente” do mítico Festival Roadburn da Holanda, onde os Misþyrming foram artistas residentes durante três noites, um feito inédito para uma banda com o tempo de atividade deles. Na primeira das noites, estrearam apenas material novo; na segunda noite fizeram uma parceria com os Naðra (também presentes em Barroselas) e com os também islandeses NYIÞ, a que chamaram de Úlfsmessa. A fechar o festival interpretaram o seu primeiro e único longa-duração Söngvar elds og óreiðu, integralmente. Honestamente, não sabemos o que eles nos vão trazer a Barroselas mas uma coisa é certa: as expectativas são elevadíssimas para a estreia nacional destes porta-estandarte do cada vez mais importante Black Metal islandês.
Como não poderia deixar de ser e a avivar o verdadeiro espírito de Barroselas, afinal de contas foi uma banda do género que inaugurou o festival que agora comprova a sua maioridade, temos o Death Metal de luxo dos Incantation e dos Grave (nota para os portugueses Dementia 13) e o Grindcore dos portugueses Serrabulho e Gorgásmico Pornoblastoma que prometem um verdadeiro festão. Os históricos Doom regressam também ao nosso país e trazem o Crust de novo ao Barroselas, fechando assim o primeiro dia no que toca aos palcos principais. Os Simbiose aproveitam a deixa e encerram o festival em definitivo, de forma furiosa, apresentando Trapped (que conta com Brian Talbot como convidado em “Deixós Falar...”) e, pensamos, algumas malhas novas, de modo a acabar com a energia restante dos presentes. Melhor término era impossível.
Mais razões não poderiam haver para rumar ao Minho. Vais mesmo ficar em casa?