
Estivemos à conversa com Bruno Abreu da Revolve, editora e marco revitalizador da música alternativa de Guimarães, que organiza o festival Mucho Flow. Em edições anteriores do festival houve nomes como Bitchin’ Bajas, Amen Dunes ou Radar Men from the Moon. Foi bem recebido, mantendo-se assim a estratégia para 2015: mais uma dose de artistas arrojados a pisar o Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura.
O Mucho Flow apareceu em 2013, 4 anos depois da fundação da Revolve. Foi um aparecimento natural, tendo em conta o vosso apetite pelo agenciamento e recentes apostas musicais?
Tudo na Revolve acabou por ser muito natural. O nosso envolvimento com a música, de uma forma ou de outra, sempre existiu e foi crescendo ao ponto de a fazer acontecer. O Mucho, surgindo já com quatro anos da Revolve em cima, foi já no embalo do que havíamos fazendo, com vontade de concretizar um evento que nos enchesse um dia inteiro com o nosso entusiasmo — ou, antes, com um alinhamento que nos entusiasmasse.
Artistas como Girl Band ou Circuit des Yeux, apesar de já serem relevantes, são nomes novos a pisar território nacional. Vocês vêem-se como disseminadores de projetos frescos e interessantes para o público português? Gostam dessa responsabilidade?
Não assumimos nenhum papel de iluminados, mas nesta edição acontece estarmos a fazer ondas, mais do que as apanhar: dos artistas que marcámos para esta edições, há penas dois (excluindo os DJs) que não levam material novo para apresentar. Girl Band, Circuit des Yeux, Pega Monstro, Sun Blossoms, El Rupe e Galgo têm ábuns novos acabados de editar, enquanto que Filho da Mãe & Ricardo Martins, Jibóia, Ricardo Remédio e LAmA estão a preparar novos registos, a sair durante este ano, ou durante o próximo. Este ano, a aposta é claramente no futuro próximo. Estas bandas vão dar que falar e nós vamos ter um pequeno papel a desempenhar na sua carreira.
Falando dos Girl Band, também acreditam neles como uma das grandes esperanças do post-punk atual?
Somos fãs confessos. Andamos atrás dos irlandeses há meses e ainda bem que conseguimos trazê-los ao Mucho. São daqueles casos em que “esperança” é uma luva que vestem bem — conseguiram trazer algo novo para um som que parecia não ter para onde progredir. A saturação das guitarras, das distorções, num ambiente negro e com uma energia explosiva é um combo a ter em conta!
O vosso festival desenrola-se no CAAA, Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura, em Guimarães. Quais as razões para a escolha deste espaço?
É um espaço que sempre nos recebeu bem e que tem todas as condições logísticas para o Mucho acontecer da melhor forma: duas salas de concertos, espaços intermediários onde estarão os DJs, e toda uma rua que poderemos decorar e preparar para receber da melhor forma quem for a Guimarães no dia 10.
O Milhões de Festa, passado na vossa vizinha Barcelos, transporta uma atmosfera assinada e elemento de destaque da experiência do festival: relaxada e com traços minhotos (bom vinho e petiscos locais, principalmente). Tendo em conta a proximidade das cidades, o público que aqui vier em busca desse ambiente vai ou não vai ficar desiludido?
No fim do dia, somos todos minhotos e apreciamos o essencial de uma boa farra — será isso que queremos construir a nível de ambiente, mas nunca com a dimensão de um Milhões de Festa. A nossa experiência está sujeita a outro tipo de constrangimentos, que nos levam a trabalhá-la de outra forma: as nossas apostas de futuro estão inscritas neste universo borderline pop, e o facto de sermos um evento em sala fechada proporciona outro tipo de intimidade, do qual, vamos, claro tirar partido. Os traços minhotos inscrevem-se na nossa génese tanto quanto na do Milhões, mas a concretização terá outros contornos, definitivamente mais próximos e íntimos.
Guimarães não se destaca particularmente na cena dos festivais nacionais. Vêem o Mucho Flow como uma oportunidade para colmatar essa falha?
No contexto da Capital Europeia da Cultura, houve uma série de passos dado no sentido de reverter isso: houve um 20 XX Vinte, um Gróia e até um Primavera Sound de inverno em Guimarães. Nós funcionamos num circuito mais humilde e que nos permitirá criar um espaço para apreciar o futuro próximo que de outra forma não se fará. Não sei se essa é uma boa de entrar num mercado tão saturado quanto o dos festivais, mas não é nesse sentido que trabalhamos, também. É, no máximo, uma forma de marcar posição quanto a Guimarães quanto cidade com capacidade para grande um output cultural, do qual queremos que o Mucho Flow faça parte.
Este é um festival de pequena dimensão. A organização está de bem com isso ou este aspecto é para mudar no futuro?
Estamos muito bem com isso, na verdade — a programação que temos, e pela qual optámos em consciência, é possível tanto pela nossa vontade quanto pelo dimensão para a qual trabalhamos. Até ver, o Mucho Flow não precisa de crescer para estruturas mais complexas. Este formato tem a dimensão certa para o ambiente que queremos proporcionar e para que as bandas que contratamos tenham o mesmo destaque e importância a nível de programação. São, ambos, pontos essenciais para a missão do evento.
Apesar da curta existência deste evento, perguntava-vos qual é o balanço que vocês fazem destes 3 anos de actividade? E quais as projecções para o futuro?
Verdade seja dita, estamos satisfeitos. Caminhamos no sentido da sustentabilidade e de criar uma marca — algo que vamos conseguindo melhor de ano após ano, e que se reflete, em boa verdade, na programação que temos vindo a propor. Para o futuro só projetamos um ano incrível para Girl Band e a demasiado adiada afirmação de Circuit des Yeux, fora tudo o mais que se possa prever em volta deste cartaz, de que tanto nos orgulhamos. Para o Mucho, esperamos poder continuar a fazê-lo, e mantê-lo tão premente e atual quanto esta edição acabou por ficar.