
Membro de notáveis bandas como os Marriages ou os Red Sparowes, Emma Ruth Rundle, optou em 2014, por seguir também uma carreira a solo. Enquanto os Red Sparowes se encontram num hiatus de tempo indeterminado, Emma tem vindo a conjugar a sua carreira a solo com os Marriages, banda com a qual lançou este ano o seu álbum de estreia Salome.
Em 2014 lançou o seu EP de estreia a solo, Electric Guitar One um álbum de paisagens, no qual a Emma explora sonoridades minimalistas e ambientais e que cria uma atmosfera de nostálgica. Este self-released EP foi construído a partir de um aglomerado de gravações de improvisações de guitarras feitas durante a tour europeia de 2010 com os Red Sparowes. Já em Maio desse mesmo ano, e através da Sargent House, chega-nos com Some Heavy Ocean um álbum que se apresenta como uma amálgama de influências e géneros, que nos remete para Mazzy Star ou Marissa Nadler, com uma abordagem muito mais pessoal, depressiva, melancólica, de certa forma mais pesada.
Quando conversámos com Emma Ruth Rundle, estevava confirmada para o Amplifest, o qual teve que cancelar, uma vez que outro festival onde a artista atuava na europa foi inteiramente cancelado devido a falta de fundos, o que inviabilizou a passagem por Portugal por motivos financeiros. Apesar de não contar com a presença da singer-songwriter, a 5ª edição do Amplifest conta com nomes de peso como Converge, Amenra, Altar of Plagues, METZ e muitos outros.
Como e quando é que começaste a tocar guitarra?
O meu pai é pianista e compositor e quando eu era bebé sentava-me no seu colo enquanto tocava. Foi a minha introdução ao mundo da música. Comecei a tocar guitarra, de forma intermitente, aos 12 anos, mas não me dediquei verdadeiramente até mais tarde. Preferi a guitarra em vez dos outros instrumentos porque era mais fácil de carregar. Apesar de dizer isto, eu adoro a guitarra, é uma forma maravilhosa de criar música. Há várias maneiras de tornares a guitarra tua e de a interpretares. Eu sou maioritariamente autodidata mas tive alguma orientação dos mais velhos na loja de música folk em Los Angeles, onde trabalhei durante muitos anos.
Quais foram os artistas que mais te influenciaram ao longo da tua carreira?
Esta pergunta é tão difícil para responder! Eu adoro música e adorei tantos géneros diferentes ao longo da minha vida, mas aquelas bandas pelas quais me apaixonei na adolescência são aquelas que ficaram comigo. Aquela resposta que me surge com mais prontidão é: Smashing Pumpkins. Eu não tocaria guitarra se não fosse por esta banda, especificamente o Siamese Dream. Também adoro bandas lideradas por mulheres como Mazzy Star e Cocteau Twins, assim como singer-songwriters femininas como a Kate Bush e a Tori Amos. Mas também admiro pessoas como o Mark Kozelek e o José Gonzalez. Diria que estes foram os artistas que mais influenciaram o meu trabalho a solo.
És membro de algumas bandas, como os Red Sparowes e os Marriages. Porque decidiste iniciar uma carreira a solo?
Eu lançava música sob o nome “The Nocturnes” e lancei/toquei em muitos álbuns antes de me juntar aos Red Sparowes. Comecei a lançar música em nome próprio por várias razões, não me queria sentir obrigada a ter uma banda ou membros de uma banda. Por outras palavras, eu queria liberdade para fazer aquilo que quero e para tocar com pessoas escolhidas por mim – queria que isso ficasse claro. Enquanto estiver viva e tiver saúde posso continuar a fazer música a solo, portanto, de certa forma [começar a carreira a solo] foi para a minha própria sobrevivência enquanto artista. A Sargent House e a Cathy ajudaram-me a ganhar reconhecimento e apoiaram o Some Heavy Ocean na altura certa.
Onde encontraste inspiração para o processo de escrita do Some Heavy Ocean?
O SHO é sobre amor, perda, auto-depreciação e problemas familiares, mas com um sentido de redenção. Há esperança também. Há coisas que vão continuar sem estar resolvidas e que vão continuar a ser uma boa fonte de inspiração. Estava deprimida e compelida enquanto completava este este álbum – estava rodeada de problemas e acho que isso se traduziu numa coisa tangivelmente emotiva.
Com os Red Sparowes tocas guitarra e no Kitsune a tua voz é uma textura musical que se desvanece na tua guitarra, Como foi começar a ter a tua voz como ponto central da tua carreira a solo? Quando começaste a cantar?
Comecei a cantar muito cedo. Cantarolava todas as músicas que conhecia – até que ganhei autoconsciência, e comecei a ficar tímida. Na realidade parei de cantar para me juntar aos Red Sparowes, mas gostava de tocar apenas guitarra. Ainda me sinto desconfortável por ser o foco e em estar tão exposta no meu trabalho a solo, especialmente no que toca a cantar. No fundo o que interessa é: eu não tenho medo de mim, e sou dona da minha voz.
Quais são as maiores diferenças entre tocar ao vivo a solo e com Marriages?
Volume! [risos] Os Marriages são uma banda barulhenta – e claro, o processo colaborativo de estar numa banda é muito diferente da vida “antissocial” de um artista a solo. É muito diferente, toco de uma forma muito diferente nos Marriages. A guitarra faz coisas que só podem acontecer quando existem outros instrumentos para a sustentar. Apoiamo-nos mutuamente nesta banda – pelo menos tentamos. Por outro lado, quando toco sozinha tenho muita liberdade na dinâmica e nas estruturas das músicas, que nem sempre soam como no álbum, mas é uma expressão do que está a acontecer no momento – não é uma performance ensaiada.
E quais são as diferenças no processo de gravar a solo e de gravar um álbum dos Marriages?
Três cabeças vs uma cabeça. É tão simples quanto isto. Os Marriages são uma banda, contribuímos todos, o que não acontece a solo.
O Some Heavy Ocean foi lançado no ano passado. Como percecionaste o seu impacto?
Não tinha grandes expectativas. Pensei que passaria despercebido e que seria mais um lançamento no meu catalogo de lançamentos que passaram ao lado de toda a gente. Fiquei muito surpreendida com a atenção que recebeu e de ver pessoas a virem a concertos já sendo ouvintes antes. Sinto-me honrada e agradecida a todos os que me ajudaram.
Podemos esperar algum material novo, quer a solo, quer com Marriages, ou estás mais focada nas tours dos últimos lançamentos?
Os Marriages acabaram de lançar o longa-duração, Salome, portanto vamos continuar a fazer tour desse álbum. E vou começar a gravar um álbum a solo este ano.
Há algum tempo fizeste o seguinte tweet: "Every time a woman approaches me after a show I remember something about why I do this. We should carry each other”. Há cada vez mais mulheres envolvidas no mundo da música, mas alguma vez te sentiste discriminada apenas por seres uma mulher?
Esse tweet era sobre mulheres que são artistas e que se dedicam à música, que vêm aos meus concertos e vêm falar comigo. Estas interações com outras mulheres tocam-me profundamente – interações proporcionadas pelo lançamento e pela tour deste álbum. Fiquei surpreendida pela falta que me fazia conviver e trabalhar com outras mulheres, sentia-me alienada enquanto mulher. Estou sempre acompanhada por homens, e já me senti rejeitada por outras mulheres. Este não é o caminho a seguir, não faz sentido competir ou afastar outras mulheres – temos sido ensinadas a recearmo-nos e a odiarmo-nos mutuamente. Agora consigo ver que estou pronta para ultrapassar isso. Ver mulheres a conectarem-se entre si faz-me feliz e quero fazer parte disso.
Alguns artistas da Sargent House como os Russian Circles, Deafheaven, Helms Alee, entre outros, já vieram a Portugal várias vezes pela mão da Amplificasom. Estás entusiasmada por vir ao Porto e tocar no Amplifest?
Adoro Portugal – é um dos sítios mais bonitos do mundo. Estou muito entusiasmada por voltar e por tocar aí.
Entretanto, Emma Ruth Rundle viu-se forçada a adiar esta passagem por Portugal.