
Os Hey Colossus são uma banda britânica com alguma tradição na cena alternativa londrina, mas só depois de 10 anos de carreira se vão estrear em palcos nacionais. Apesar da grande diversidade de géneros com que é composto o som que apresentam, gostam de se descrever como uma banda de sludge. Têm como principais influências os Black Sabbath e os Black Flag, havendo espaço ainda para outras como os Can, Neu!, Earth, entre outros. Atualmente a banda é composta por seis elementos: Rhys Llewellyn, Jonathan Richards, Robert Davis, Joe Thompson, Timothy Farthing e Paul Sykes são, como não poderia deixar de ser, súbditos do poder da guitarra, usando o pedal e as distorções sem qualquer receio do som que possam criar. A bateria e o baixo, claro está, são o resto da nobreza que compõe a corte dos Hey Colossus.
Lançaram este ano In Black & Gold, que se encontra a conquistar a crítica um pouco por toda a parte, e é precisamente este o mote que os traz ao Milhões de Festa 2015. Estivemos à conversa com os guitarristas Tim Farthing e Jonathan Richards, que para além de terem lançado o concerto de estreia em Portugal, estiveram-nos a contar um pouco sobre a atualidade da banda e de como foi construído o novo disco.
Os Hey Colossos têm agora mais de 10 anos de carreira, como é que tem sido?
Tim Farthing: Tem sido exaustante, ensurdecedor... excitante... frustrante... irritante... desconcertante... sempre de fígado inchado e com os miolos desfeitos.
Vocês nesta banda estão numa espécie de relação a longa distância. Dois de vocês moram em Somerset e os restantes em Londres. Como é que mantêm a banda a rolar?
TF: É um misto de otimismo e estupidez.
Atualmente vocês são 6 elementos na banda. Como é o processo criativo? Qualquer um traz ideias para a mesa?
TF: Sim, acho que sim. Antigamente havia muita mais liberdade, ficávamos pedrados e tocávamos durante horas. Depois passávamos a pente fino as fitas de gravação desses ensaios e procurávamos as "pepitas". Era divertido mas ocupava muito tempo. Para este novo disco, o Jon veio com as estruturas e riffs iniciais e começámos a partir daí. Acho que depois de quase uma década de jams espaciais, estávamos todos ansiosos por dar mais ênfase à estrutura e concisão do trabalho.
Lançaram este ano um novo álbum, In Black & Gold. Fala-nos sobre este disco e as diferenças relativamente aos anteriores. Vocês neste disco seguiram uma direção diferente, indo para além das vossas origens sludge e noise, têm novas texturas...
TF: Há uma maior clareza e definição. Tentamos usar uma abordagem mais estrutural com 3 guitarras, em vez de triplicarmos o poder. Cada um tem o seu próprio espaço na mistura: O Jon faz as partes mais agudas e limpas, o Bob o trabalho pesado com as partes mais graves, e eu esvoaço entre eles os dois como uma mosca varejeira. Claro que depois o Joe nos mantém credíveis com as suas linhas de baixo bem graves, a bateria do Rhys dá-nos uma pancadinha, como que a lembrar para mantermos os cotovelos fora da mesa, e depois o Paul ladra por cima de todos nós como um Terrier dentro de um carro num dia bem quente. Desculpem o excesso de metáforas.
Porquê o nome In Black & Gold? Este é um álbum conceptual?
TF: É uma das letras escritas pelo Paul, acho que só ele deve saber a responder a isso. Pessoalmente eu gosto dele porque soa a rico ou a cores de equipa... ou a algum tipo de desfile satânico. Eu acho mesmo que qualquer álbum minimamente decente é conceptual. Quando se começa a deitar fora algumas faixas porque "não encaixam", inconscientemente já se embarcou num álbum conceptual.
Este disco foi editado na Rocket Recordings, uma editora que não tem muitas bandas do vosso género. Como é que surgiu essa oportunidade e como tem sido trabalhar com eles?
TF: Bem, eu acho que não somos massivamente diferentes das outras bandas deles. Acho que todos partilhamos o mesmo espírito de aventura e boa vontade em combinar géneros que não são tão comuns como deviam ser. Acho que encaixamos bem na Rocket. Quanto mais tempo passa mais acho isso. Eu e o Joe (os dois que vivemos em Somerset), estamos bem contentes por também estarmos envolvidos com uma editora de um país para lá do Atlântico.
Os Hey Colossus fazem parte de uma cena underground inglesa não muito conhecida pelas massas. Contem-nos mais sobre essa cena musical em Inglaterra.
TF: Provavelmente não sou a pessoa certa para responder a isso, estou preso no meu próprio pequeno beco musical do qual raramente saio. Mas com base nas bandas com quem temos lidado, as salas de espetáculos que visitámos e os promotores que fomos conhecendo, diria que definitivamente tenho notado um ressurgimento natural de uma rede livre de qualquer envolvimento corporativo. É muito animador.
Que outros artistas deste movimento admiram e/ou simpatizam, que queiram destacar?
TF: Workin' Man Noise Unit, The Wharves, Ghold, Sloath, Kogumaza.
Em Portugal também há uma cena musical underground importante a emergir. Conhecem alguma banda portuguesa?
Jonathan Richards: Embora seja a primeira vez que vamos atuar em Portugal, eu já tive a sorte de tocar aí em 2011 com a minha antiga banda, os Notorious Hi-fi Killers. Viajamos com os Black Bombaim e estou muito orgulhoso em tê-los conhecido. Também estivemos com os The Glockenwise e com o pessoal da Lovers & Lollypops, foram todos incríveis.
O Milhões de Festa é um festival importante nessa cena musical alternativa em Portugal, com nomes que não costumam andar no circuito habitual e que pouca gente conhece. Mas no fim, a opinião é quase consensual de que a maioria dos concertos dessas bandas não muito conhecidas foram incríveis. Já tinham ouvido falar sobre este festival?
JR: Sim, claro! Já tinha visto cartazes anteriores incríveis e belas fotos de toda a gente em festa, em que tudo parecia fantástico. Os Teeth Of The Sea, nossos colegas na Rocket Recordings, disseram-nos que foi o melhor festival onde estiveram. Ter um cartaz assim tão ecléctico é refrescante, pois vai de encontro à maneira de como todos nós consumimos música em 2015. É muito saudável ter-se um interesse amplo em todos os géneros.
O que acham do cartaz deste ano do Milhões de Festa? Estão empolgados para ver ou partilhar o palco com algum dos nomes?
JR: Só vamos poder estar aí por um dia e estamos muito contentes por podermos atuar no mesmo palco que Michael Rother. Islam Chipsy é incrível e mal posso esperar para os ver. Também admiro muito os Drunk in Hell, são uma "parede de som" brutal. Também vai ser muito bom rever os nossos velhos amigos Grumbling Fur num cenário tão bonito. Infelizmente vamos perder The Bug, Goblin, Gum Takes Tooth e os outros todos que atuam no domingo. Tenho a certeza que vão passar um belo bocado nesse dia.
O que é que podemos esperar do vosso concerto no Milhões de Festa?
JR: Vamos tocar algumas das músicas antigas e outras das novas mas como é a nossa primeira vez em Portugal acho que vai ser tudo novo para a maioria das pessoas. Venham ver-nos, you might just like it.