Aquando de uma noite Infected Records, em Lisboa, e antecedendo o próximo concerto no festival com o mesmo nome, que decorre entre os dias 4 e 6 de Novembro, estivémos à conversa com Diogo (vocalista), Tiago (guitarrista), Ricardo (guitarrista), Guilherme (baixista) e (Diogo) Ribas (baterista), membros de uma das mais promissoras bandas do universo Punk/Hardcore nacional: os F.P.M.
O que significa F.P.M.?
Ribas: Feio, porco e mau. Não é no plural, é no singular. As pessoas confundem às vezes...
Há quantos anos é que vocês existem enquanto banda?
Ribas: Há cerca de seis anos, desde 2010, mas não com esta formação. Quando isto começou, o Diogo estava na bateria, o Tiago, que é o irmão dele, estava na guitarra, e havia outro maluco que era o “Coxo”, que estava na outra guitarra. Depois entrou o Guilherme, que já tocava comigo nos Freemind, e passados uns dois anos entrou também o Toucas (Ricardo) que morava no mesmo prédio deles...
Tiago: Sim, mais de meia banda mora no mesmo prédio.
Ribas: Como vês, isto é tudo família. Mudaram as fraldas juntos e tudo. Aos 5 anos já estavam a discutir quem é que tinha feito mal o acorde. (risos)
Tiago: E conhecemo-nos todos, apesar da distância que separa a Amadora de Alvalade, através da Rita, que foi da turma do Ribas, na António Arroio. Aquele início mesmo aconteceu por causa da Rita.
De que modo é que (alguns membros) viverem em Alvalade influenciou a vossa sonoridade?
Ribas: Quem nasce em Alvalade e gosta do movimento sent-o de maneira diferente. É diferente dos outros bairros, digo eu.
Tiago: As pessoas é que fazem os bairros, não é? As pessoas daquele bairro aceitam a cultura de uma maneira diferente das outras todas, de uma maneira mais aberta, se calhar.
Ribas: Tens um bar como o Popular, que é um bar que, hoje em dia, abre as portas não só para o Punk e para o Hardcore mas para qualquer tipo de música, e que não pede nada em troca, só pedem respeito. Tu vais àquele bar e tens a história do bairro nas paredes.
Tiago: E não há só um bar desses em Alvalade! É isso que demonstra o facto de o pessoal aceitar a cultura e de não se importar de ter ali mais um bar com música ao vivo. Nós fizémos umas gravações lá nas ruas dos Coruchéus com 30 ou 40 pessoas, tudo a gritar, e foi na boa. Nem lá foi um carro da polícia. Se fosse noutro sítio qualquer faziam logo queixa.
Quais são as vossas principais influências musicais?
Ricardo: Isso é uma pergunta um bocado esquisita de se responder. Nós somos quase todos da mesma idade, por isso crescemos a ouvir, mais ou menos, o mesmo tipo de coisas. Tão depressa estamos a ouvir Massive Attack como estamos a ouvir Cannibal Corpse. Mas os Led Zeppelin ainda são a melhor banda do mundo. (risos)
Ribas: Megadeth e Metallica são as principais influências dos F.P.M. (risos)
Ricardo: Sim, sem dúvida. O último disco dos Megadeth e o próximo dos Metallica. São esses!
Porque é que escolheram lançar o “Já Estou Farto” como single de apresentação em vez de um tema original?
Ribas: Nós começámos a tocar o “Já Estou Farto” há cerca de três anos e procurámos fazer uma versão de uma música que pudéssemos “roubá-la”, que fizesse sentido torná-la nossa. Quando a gente viu aquela malha, percebemos que poderíamos alterar aquilo tudo sem que perdesse a essência e depois é uma malha que nem sequer está editada, só existe numa gravação ao vivo na compilação “Vozes Da Raiva”.
Escolher a “Já Estou Farto” para primeiro single é uma homenagem mais do que sincera não só ao meu tio (João Ribas) como também ao Serpa e ao Carlos Aguilar, que também já não estão cá. Foi natural, era o que fazia sentido. A música não é nossa mas passa a ser nossa agora porque eu pedi autorização para ficar com a música. (risos)
Nós tocámos esta música, no Bairro Alto, pela primeira vez e o meu tio veio ter connosco a dizer que estava brutal e para não pararmos de a tocar. E a gente não parou.
Quanto ao conteúdo lírico, de onde é que parte a vossa inspiração ?
Ribas: Nas situações do dia-a-dia, pode ser uma experiência pessoal ou a descrição de uma experiência de outrém. Hoje em dia tens o Facebook ou a televisão, que quando a ligas está tudo chateado com o mundo, então é difícil não sentires uma ponta de raiva dentro de ti. As letras não são muito pessoais, tirando uma ou outra, falam mais no geral.
Tiago: E se o álbum não se chamasse “Já Estou Farto”, devido à homenagem, seria “Pelas Ruas” e tem a ver com isso. Podia-se chamar “situações da vida”, “casos da vida”, qualquer coisa...
Enquanto banda que canta em português, o que é que vos levou a tomar esse caminho em detrimento de cantarem em Inglês como muitas outras bandas fazem?
Ribas: Eu vou-te dizer assim: quando tu dizes “filho da puta” é isso que queres dizer, mas quando pensas em “motherfucker” pensas em “filho da puta” na mesma, ou seja, estás a traduzir o pensamento. Eu para fazer uma letra em inglês, tenho que a pensar em Portuguès e traduzi-la posteriormente. A mensagem que queremos transmitir chega mais directamente às pessoas em português. Atenção que nós não somos contra quem canta em Inglês ou algo do género só que para nós faz mais sentido assim. É por ser mais directo.
Esta foi a vossa primeira experiência em estúdio, podem-nos contar como é que correu? Foi directo ou foram lá várias vezes gravar?
Ribas: Tirámos férias do trabalho e fomos para a Ericeira. Era acordar, ir para a praia tomar o pequeno-almoço e a seguir ir para o estúdio gravar. Depois era fazer uns grelhados e voltávamos a gravar.
Tiago: Trabalhámos bem. Ele marcou 15 dias e nós passados 10 dias já tinhamos tudo feito. Quando chegámos ao estúdio já levávamos trabalho feito que nem sabiamos que iria ser tão útil. Fizemos uma pré-produção quase sem saber que a fizemos. Depois voltámos lá com o Ruka e o (João Pedro) Almendra para gravar a “Já Estou Farto”.
Ribas: Também tivémos a preocupação de fazer o primeiro álbum com alguém percebesse muito do que estava a fazer. A gente queria fazer uma coisa com cabeça, fazê-la com alguém que já conhecesse as coisas. E tu não tens muito para ensinar ao Miguel (Vegeta), tu é que aprendes com o Miguel.
Tiago: E está habituado à nossa linguagem. O nosso “pesado” é diferente do pesado do Black Metal. Quando estás a gravar, dizes “epa! Aqui é mais pesado”. O que é que ele vai entender com isso? Pesados há muitos. (risos) Ele compreendia aquilo que queríamos.
E como é que foi trabalhar com o João Pedro Almendra e com o Ruka?
Tiago: Foi um privilégio porque eles ajudam-nos e ensinam-nos. Foi um misto de alegria e nostalgia. Não só para nós como também para eles.
Como é surgiu a ideia da Infected Records lançar o vosso primeiro álbum?
Diogo: Isso até foi uma cena engraçada. Foi mais o pessoal de outras bandas, que eram da Infected, a chatear a Infected para nos lançar a nós. Foi basicamente isso.
Têm intenções de lançar novas músicas brevemente ou, por enquanto, vai ser só apresentar o disco e cimentarem-se no panorama nacional?
Diogo: A questão das malhas novas não algo que em tu penses, elas simplesmente surgem. Há várias maneiras de músicas novas aparecerem, seja para te desanuviar das outras, seja porque um de nós teve uma ideia e depois desenvolvemos aquilo. Mas sim, a nossa intenção é mesmo essa, já temos quatro malhas novas que até gostávamos de tocar nos próximos concertos mas não podemos porque, por enquanto, ainda estamos a promover este CD.
Para o ano há CD novo e datas novas. Sempre a trabalhar, tentar dar o máximo de concertos, se possível também fora de Portugal para mostrarmos a nossa música cantada em português e levarmos umas bandas amigas connosco.