
Paralelamente ao Lisbon Psych Fest, que começou ontem, decidimos entrevistar os Keep Razors Sharp, neste caso, Bráulio Alexandre (baixista) para sabermos a sua opinião sobre este novo festival e alguns factos interessantes sobre a banda que tem dado tanto que falar.
Porquê Keep Razors Sharp?
Bráulio Alexandre: Nós já estávamos a tocar há algum tempo e quando tivemos que dar um nome ao projeto, o Afonso (vocalista) lembrou-se de uma frase com que o Rai (guitarrista) costumava acabar os e-mails que era, precisamente, Keep Razors Sharp, que significa “mantem-te atento”. Achámos que poderia ser um bom nome e ficou por aí.
Então essa expressão já vem desde os tempos dos The Poppers...
BA: Não, não tem propriamente a ver com os Poppers. Eu e o Afonso não vivíamos em Lisboa e há três anos decidimos vir para cá viver, então as nossas saídas juntos (com os restantes elementos da banda) tornaram-se mais frequentes. Precisamente pelo facto de não estarmos em Lisboa, havia uma grande troca de e-mails e mensagens, que era a maneira de comunicarmos uns com os outros. Foi nessa altura, e nesse sentido, que o Rai se despedia sempre com essa frase, principalmente para os e-mails do Afonso.
Como se sabe: os Keep Razors Sharp são uma espécie de “superbanda”, com elementos de Sean Riley & The Slowrider, The Poppers e Pernas De Alicate/Men Eater. Como e porque é que decidiram criar uma banda juntos?
BA: Na altura em que eu vim viver para Lisboa, com o Afonso, nós já éramos amigos e tínhamos alguma proximidade. A partir do momento em que eu começo a viver em Lisboa, a nossa relação fortificou-se e passámos a estar muito mais tempo juntos, tanto nas saídas à noite como noutro tipo de programas: exposições, passeios, etc. Passávamos mesmo muito tempo juntos. Os Poppers tinham já uma sala de ensaios com tudo montado e, num dia à noite, surgiu a ideia de irmos para lá fazer uns jams. As coisas começaram muito por aí: uns ensaios/jams muito esporádicos e sem qualquer compromisso. Com o passar do tempo, esses ensaios, foram-se tornando mais regulares, começou a haver uma curiosidade das pessoas de fora, nossas amigas, em querer ouvir e perceberem o que é que estávamos a fazer. Traçámos umas metas e marcámos alguns concertos para ver o que é que aquilo dava e pronto, as coisas foram-se tornando cada vez mais sérias até chegar ao ponto em que estamos agora.
Como é que têm corrido estes cerca de dois anos de vida da banda?
BA: Nós já fazíamos alguns ensaios frequentes há já dois anos e meio e tocámos pela primeira vez em Lisboa no final de 2013. O último ano, ano e meio, tornou-se mais sério: começámos a ensaiar mais regularmente, a ter mais canções, sempre que tínhamos um conjunto de canções que achávamos que estavam completas, partíamos para estúdio e fazíamos a gravação desses temas. E fomos compilando os temas até completar o disco que saiu a 20 de Outubro do ano passado (2014) pela NOS Discos.
E desses já dois anos e meio de banda, qual foi o concerto em que vocês gostaram de mais de tocar?
BA: Nós esforçamo-nos para que todos os concertos sejam bons. Certamente que tocar em Lisboa, no Musicbox, onde temos os nossos amigos e as nossas pessoas mais próximas presentes, talvez tenha um impacto um bocado maior sobre nós. Mas a verdade é que em todos os espetáculos que damos, tentamos ser o mais sérios e profissionais possível.
Qual é que é a principal diferença entre terem tocado num festival grande (ex: SBSR) ou num concerto em nome próprio?
BA: Num concerto só nosso, temos que o público que só nos quer ver a nós. Num festival, por teres tantas bandas e tantos géneros juntos, acabas por ter um público maior e por te dar a conhecer a quem nunca ouviu falar em ti, e assim, despertar alguma curiosidade e fazer com que as pessoas te procurem e ouçam a tua música.
Como é que reagem em serem considerados um dos nomes mais promissores do Rock Psicadélico português?
BA: É espetacular, para nós, que hajam esse tipo de críticas porque não estávamos, de todo, à espera que tudo isto se tornasse naquilo que se está a tornar. As coisas aconteceram, efetivamente, muito rapidamente.
Como é que ocorre o vosso processo de criação?
BA: Nós temos uma química muito forte e quando compomos, começa tudo a partir de uma jam. E não vamos, de todo, à procura de uma música que soe a isto ou aquilo: é tudo muito natural, as coisas saem com muita espontaneidade. O processo de criação também é um processo muito democrático porque, logo de início, fizemos um acordo de só se compor na sala de ensaio, portanto, é tudo feito pelos quatro e ao mesmo tempo.
Então não há trocas de e-mails nem mensagens com ideias ou improvisos feitos em casa, etc?
BA: Não. Sai tudo espontaneamente na sala de ensaio. A única coisa que é feita posteriormente são as letras, que estão a cargo do Afonso e do Rai.
Quais são as vossas principais influências?
BA: É interessante porque nós ouvimos, efetivamente, muita coisa em comum e depois cada um, obviamente, ouve as suas cenas à parte. E penso que seja isso que torna este projeto tão interessante e, de certa maneira, tão rico. Nós também, como disse à pouco, nunca fomos atrás do rótulo do psicadélico nem predefinimos aquilo que iríamos fazer, simplesmente sabíamos que queríamos fazer rock. Obviamente, que há influências daquilo que ouvimos todos: The Black Angels, Black Rebel Motorcycle Club, Brian Jonestown Massacre, mas não acho que essas influências estejam explícitas na banda. Penso que conseguimos criar a nossa identidade nesta banda.
Estão a planear lançar alguma coisa este ano?
BA: Nós vamos, sem dúvida, ter qualquer coisa. Não te sei dizer se vai ser um L.P. ou um E.P., mas, seguramente, que ainda este ano, vamos ter uma novidade.
O que esperam deste Lisbon Psych Fest? Sentem a pressão de terem de fechar a noite?
BA: Estamos muito contentes por termos sido convidados a participar e mais ainda com a responsabilidade de fechar uma das noites. Nós também tivemos o prazer de poder participar no Reverence Valada, em Setembro, que é um festival de uma dimensão diferente, mas também focado no mesmo género, e correu muito bem. Acho muito interessante que estejam a ocorrer este tipo de iniciativas e espero que continuem a existir.