Children of the Sün - Roots (the Sign)
Combinando variadas colorações num vibrante arco-íris de onde sobressaem um ensolarado, ofuscante, tocante e arejado psychedelic rock de agradável clima primaveril, um trovador, mélico, nostálgico e sonhador folk de verdejantes paisagens campestres a perder de vista, e um comovente, afrodisíaco, balsâmico e resplandecente blues de aliciante swing soul, a perfumada, sublimada, harmoniosa e refinada sonoridade desta purificante obra – envernizada a uma tonalidade sessentista e condimentada a uma doce aura intimista – passeia-se e galanteia-se livremente a trote de pausadas, reconfortantes, suavizantes e açucaradas baladas, bem como de excitantes, majestosas, sinuosas e galvanizantes galopadas desdobradas à rédea solta. Reencarnando o santificado espírito do memorioso Woodstock, estes jovens hippies da era moderna libertam toda uma pureza, delicadeza e beatitude que nos emudecem os sentidos e adormecem num pleno estádio de transbordante êxtase. É de genuíno sorriso estampado no rosto, narinas dilatadas, olhar incendiado por uma imperturbável expressão sonhadora, e alma desabrochada numa evasão transformadora que nos encontramos sob o intenso e miraculoso feitiço de Children of the Sün. Roots é um álbum que se enraizara profundamente em mim e em mim deixara uma inapagável sensação de bem-estar. - Texto completo aqui.
Earthless - Night Parade of One Hundred Demons (Nuclear Blast)
Inspirado num livro japonês de crónicas fantasmagóricas intitulado “Gazu Hyakki Yagyō”, ou “The Illustrated Night Parade of a Hundred Demons” (escrito por Toriyama Sekien e originalmente publicado em 1776), que o baixista Mike Eginton lera ao seu jovem filho, e onde é descrita a procissão de criaturas sobrenaturais que visitam e aterrorizam aldeias japonesas, ceifando a vida de quem os vislumbra ou arrastando aldeões desafortunados para o âmago do mundo espiritual, este novo álbum forjado pelo titânico tridente californiano Earthless representa o tão ansiado e triunfante regresso de uma das bandas mais acarinhadas e respeitadas do psicadelismo contemporâneo. Replicando a fórmula ganhadora que os celebrizara, Night Parade of One Hundred Demons vem assombrado e compartimentado por três longas jams de índole instrumental onde fervilha um intoxicante, catártico, sónico e eletrizante heavy psych de propensão cósmica. Desenraizando o ouvinte do abraço gravitacional que conserva a consciência terrestre e embalando-o na redentora vertigem pelas abissais profundezas do negro tecido sideral – driblando solitários planetas, montando chamejantes meteoroides e penetrando a rutilante incandescência de fornalhas estelares – a viajante, alucinada, centrifugada e embriagante sonoridade deste novíssimo registo de Earthless adultera as coordenadas do espaço-tempo. - Texto completo aqui.
Rude Skøtt Osborn Trio - The Virtue of Temperance (El Paraiso)
Depois de apresentados dois álbuns em 2020, o duo nórdico Martin Rude (Sun River) & Jakob Skøtt (Causa Sui) acaba de metamorfosear a sua constituição para o formato de trio (contando para esse efeito com o acréscimo da talentosa saxofonista, flautista e compositora de origem britânica Tamar Osborn) e o resultado audível desta tão frutífera e promissora parceria não poderia ser mais do meu agrado. The Virtue of Temperance vem impregnado numa balsâmica, mística, embriagante e exótica fragrância onde se envaidece e embevece um profético, deslumbrante, inebriante e experimental modal jazz de composição virtuosa e radiância estival, que tão bem combina a clássica veia de endeusados padroeiros do género como Miles Davis, John Coltrane e Herbie Hancock, e um vincado cunho pessoal que lhe confere uma estética mais paisagista, sofisticada e atual. Contando ainda com as comparências de um ritmado, contagiante, dançante e adocicado jazz-funk de trote tribalista e aroma tropical, e de um nirvânico, oriental, sideral e onírico folk de tempero etéreo e ambiental, a estimulante, prismática e messiânica sonoridade deste simbiótico trio desdobra-se num imersivo, singular e explorativo safari jazzístico – cadenciado por um embalante, magnético e viciante groove – que embalsama o ouvinte num enfeitiçante ritual impossível de ser quebrado. - Texto completo aqui.
Sleepwulf - Sunbeams Curl (Heavy Psych Sounds)
Ensombrecida e maturada por um trevoso, críptico, mesmérico e majestoso proto-doom de fragrância vintage, palavreado erudito e vampíricas vestes Black Sabbath-icas, Witchcraft-eanas, Dunbarrow-eanas e Pentagram-icas, esta irretocável, elegante, atraente e venerável obra de longa duração – elaborada e caprichosamente celebrada pelos druidas escandinavos que, desde a sua formação, fazem do ocultismo a sua estrela orientadora – respira e transpira toda uma hipnótica, diabólica e asfixiante necromancia que nos seduz, eclipsa e conduz do primeiro ao derradeiro tema. De olhos encovados, semblante esbranquiçado e espírito enlutado, mergulhamos num profundo estádio de ébrio sonambulismo, onde são desdobrados no nosso imaginário brumosos, amarelecidos e nimbosos pântanos, tingidos a tonalidade outonal e sobrevoados por vigilantes morcegos de uma sanguinária sede infernal. São 36 minutos chefiados e farolizados por uma negra radiância que nos magnetiza, deleita e eteriza com arrojada dominância. Deixem-se cair nesta profética, irresistível e mefistofélica tentação de Sleepwulf, e comunguem com entusiástica adoração um dos mais sérios candidatos a álbum do ano. É essa, pelo menos, a mais forte convicção em mim enraizada durante a atordoante ressaca deste épico Sunbeams Curl que me emudecera os sentidos, paralisara os membros e purificara a alma sedenta por experienciar algo assim. - Texto completo aqui.
Supersonic Blues - It’s Heavy (Who Can You Trust?)
Desenganem-se todos aqueles que acham que este álbum fora gravado de forma analógica e produção lo-fi numa decrépita e húmida cave situada algures no final dos 60s / início dos 70s, e por lá ficara esquecido – a ganhar bolor e um nauseabundo odor durante meio século – para só agora sair à rua com roupas datadas, cabelos desgrenhados e olhares esfomeados. It’s Heavy é o portentoso disco de estreia dos jovens holandeses Supersonic Blues, tridente sediado na cidade costeira de Haia e que nutre uma indiscreta e doentia obsessão pelo lado mais raro e obscuro da velha música rock forjada nas douradas décadas de 1960 e 1970. Tal como o nome de batismo da banda e o título do seu respetivo álbum assim o sugerem, este primeiro trabalho de Supersonic Blues vem fervido por um fogoso, pesado, gaseificado e libidinoso heavy blues hasteado à boa moda de Blue Cheer ou Cream, centrifugado por um delirante, caleidoscópico, exótico e vibrante psychedelic rock de coloração Jimi Hendrix-eana e groove Grand Funk Railroad-eano, e ainda obscurecido por um encarvoado, intrigante, dominante e amaldiçoado proto-doom a fazer recordar os primórdios dos britânicos Black Sabbath ou Wicked Lady. A sua sonoridade destemperada, poluída e desmaquilhada – de plena vocação vintage – espelha toda uma crueza, imponência, ardência e rudeza que não deixará ninguém recostado à indiferença. - Texto completo aqui.
Travo - Sinking Creation (gig.ROCKS)
Como feliz consequência do crescimento meteórico que embalara esta jovem banda bracarense, nasce o irretocável Sinking Creation. Inspirada no livro de ficção científica “The Blue World” – escrito pelo californiano Jack Vance e originalmente lançado em 1966 – que explora as aventuras e desventuras de uma civilização de colonos humanos que habita acima de plantas aquáticas, num mundo integralmente coberto pelo infindável oceano, e onde é periodicamente invadida e salteada por titânicos, míticos e predatórios monstros, esta impactante obra vem farolizada por um venenoso, eruptivo, corrosivo e lodoso heavy psych de altíssima tensão e rotação a fazer imediatamente recordar os eletrizantes franceses SLIFT, um viajante, experimental, sideral e atordoante space rock de sónico escapismo centrifugado à boa moda Hawkwind-eana, um ritmado, quente, efervescente e apimentado garage psych sintonizado na mesma frequência da tríade australiana King Gizzard & the Lizard Wizard, The Murlocs e ORB, e ainda um magnético, esponjoso, contagioso e profético krautrock de robótico pulsar germânico. A sua sonoridade polposa, nutritiva, criativa e majestosa – que pendula entre turbulentas rajadas de sísmica euforia e reflexivas passagens de aquosa letargia – tanto mergulha o ouvinte num fumarento e borbulhante caldeirão em intensa ebulição, como lhe massaja o cérebro e reconforta o espírito num balsâmico oásis sensorial de clima glacial. - Texto completo aqui.
Esta edição é totalmente da autoria do Nuno Teixeira.