Anjo Gabriel - Anjo Gabriel
Natural da cidade do Recife – situada no nordeste do Brasil – este quarteto com sensivelmente uma década de existência e que não prescinde do acréscimo de outros músicos e consequentes instrumentos de forma a enriquecer a sua exótica musicalidade, tem em Anjo Gabriel a natural extensão da orientação sonora que tem farolizado toda a discografia da banda sul-americana. Fundamentada num deslumbrante, colorido, veraneio e contagiante psychedelic rock de aroma tropical em harmoniosa, erótica e calorosa parceria com um ondeante, lenitivo, meditativo e hipnotizante krautrock de brisas orientais, e ainda um extravagante, orquestral, cerebral e delirante progressive rock de coreografia carnavalesca, a labiríntica, sinuosa, caprichosa e enérgica sonoridade deste frutado registo vem trajada, maquilhada e condimentada por um criativo experimentalismo sem fronteiras que o inibam ou balizem. - NT
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Black Curse - Endless Wound (Sepulchral Voice)
What you see is what you get. Sobretudo para expectativas que se assentam no artwork de Denis Forkas e no facto deste projeto contar com elementos de Blood Incantation, Spectral Voice e Primitive Man. É sem redundâncias ou particular nostalgia que o quarteto de Denver nos guia por uma despretensiosa incursão pelos tons old school. Todos os elementos que nos guiam pelo seu denso labirinto de influências, do qual fazem parte Sarcófago, Mayhem e Morbid Angel, culminam num mix descarado de black, death e doom, onde a originalidade nunca se compromete. Do ínicio ao fim, sente-se a urgência da bateria a pavimentar caminhos com os riffs cruéis de um baixo pulsante, criando espaço para uma interessante dinâmica de cordas que alterna entre momentos de agressão visceral e passagens hipnóticas. O crescendo é reforçado pelo registo vocal que conjuga colossos guturais com gritos lancinantes, e que muito contribui para a construção de uma atmosfera sufocante e quase insuportável. Garantidos estão os danos físicos e psicológicos a rodos. - AT
Blind To Faith - Unstoppable War (Isolation)
É em tempos de maior incerteza, maior medo, maior cegueira que nasce o melhor do punk. E quem disser que não, encontramo-nos às seis no portão da escola. O novo álbum de Blind To Faith é prova disso mesmo. Um agravar na brutalidade do metal-punk destes veteranos da cena, que há pelo menos 12 anos marcam novas velocidades com Blind To Faith. Os membros integram outros projetos como Rise & Fall, Inhume, Reproach e Lifespite, mas é em Blind To Faith que exploram o ponto em que black metal e punk se fundem numa dimensão mais hostil e ameaçadora. Unstoppable War foi lançado no final de abril de 2020, num momento em que se delinea a "nova normalidade". Só não sabemos se queremos aceitá-la candidamente, ou com uma fúria perfurante como a dos Blind To Faith. - ZM
Bolt Gun - Begotten (Art As Catharsis)
Escutar o novo disco de Bolt Gun é uma experiência assustadoramente surreal, algo difícil de descrever com palavras por apelar tanto aos sentidos. Profundamente cinemático, transporta-nos para um mundo decadente e sinistro, onde a esperança parece ter sido devorada pela infinita escuridão e onde tudo o que resta é a agonia de uma existência vazia. Musicalmente, estamos perante um álbum onde delicadas texturas ambient/drone, referências ao universo experimental dos Einstürzende Neubauten e breves melodias de post-rock formam uma tensão tão sufocante quanto viciante, que se liberta através de súbitas descargas de black metal/doom frio, cortante e violento, capaz de nos atingir a alma como uma bala disparada por um sniper. Com este Begotten, os Bolt Gun assinam assim um extraordinário exemplo de arte desafiante e incrivelmente tocante, para ser sentida e apreciada nestes dias onde a solidão constitui, por vezes, a melhor companhia. - JA
Caustic Wound - Death Posture (Profound Lore)
Caveman tunes are back for good. Disso não há dúvida. Fruto de mais um rearranjo certeiro, Death Posture é o álbum de estreia de um projeto que reúne membros de Mortiferum, Magrudergrind e Fetid. Deathgrind à la carte, coeso e pungente, onde em nenhum momento se sacrifica peso ou rapidez. Catchy sem perder complexidade, onde os blast beats se fundem com secções midtempo, num real encontro em primeiro grau do early grind de Repulsion e Terrorizer com tons de Incantation. Atropelados pela bateria, somos levados a reboque durante 26 minutos, divididos em 14 temas curtos mas incisivos, sempre guiados por riffs absolutamente corrosivos e um baixo quase imoral. A voz surge como culminar deste cocktail tóxico, acrescentando mais e mais camadas de agressão. Facilmente se tornará um clássico dentro do estilo. Não importa quantas vezes o rodam, o mais provável é chegar ao fim de testa aberta. - AT
Enter Shikari – Nothing is True & Everything is Possible (SO)
Produzido pelo vocalista e multi-instrumentista Rou Reynolds, o sexto disco dos Enter Shikari mostra-nos uma banda a fervilhar de entusiasmo, determinada a ampliar o leque de opções para entender até onde pode ir sem deixar de soar a si própria. Há aqui momentos que remetem, de certa forma, para os Enter Shikari de antigamente (“The kĭñg”, verdadeiro manifesto de punk melódico e eletrónico, é um claro piscar de olho à estreia Take to the Skies), mas no meio dessa reconfortante familiaridade, que inclui as habituais letras socialmente conscientes, somos confrontados com elementos inesperados: eletrónica efervescente e pop punk deliciosamente orelhudo convivem, por exemplo, com música clássica (sim, leram bem, ouçam a faixa “Elegy For Extinction”) e até resquícios de jazz, originando um disco dinâmico, ambicioso e absolutamente revigorante. Um grande trabalho de uma banda algo subvalorizada, pelo menos por cá. - JA
Fange – Pudeur (Throatruiner)
Mesmo sendo ainda um nome algo recôndito no nicho do sludge/noise/death europeu, Fange sempre dispensaram grandes apresentações. Ao longo dos anos, o power trio tem vindo a investir corpo, sangue e sanidade mental para afirmar e reinventar a sua respetiva identidade sonora. O que explica porque é que, ao contrário de muitas das bandas nestes estilos, Fange nunca fizeram o mesmo disco duas vezes. Há um ano atrás tivemos o enormíssimo Punir no Overall de fevereiro, e desta vez seguimos para Pudeur, onde a veia do death passa a abraçar o industrial e a maquinaria noutro capítulo do eterno tópico da mutação externa e interna do homem. Mais frontal e com uma ligeira curva no layout sónico, este finaliza-se como uma procriação entre Kickback, Godflesh e Merzbow. Uma simbiose entre riffalhada destemida, drum-machines monstruosas e um paredão de som incomparável. - JMA
Gas Giant – Earthward Ascend
Da cidade-capital de Amesterdão (Holanda) chega-nos a lava incandescente expelida pelo EP de estreia do jovem power trio Gas Giant. Este nebuloso, narcotizante e poderoso Earthward Ascend vem fervido por um vulcânico, fumarento, bafiento e tirânico stoner doom desdobrado a duas velocidades que se balanceia entre a vertiginosa ferocidade em cumplicidade com a arenosa fogosidade de uns Kyuss e o monolítico arrastão aliado ao litúrgico negrume de uns Black Sabbath. Contando ainda com indiscretas aproximações aos religiosos domínios de um místico mantra doom de satélites apontados aos druidas OM, e a um deslumbrante, atmosférico e inebriante psych rock de propensão sideral, Earthward Ascend é um fabuloso EP que tanto nos estarrece num envolvente afago de doce lisergia como enfurece num redentor grito de vibrante euforia. São 28 minutos de uma sagrada peregrinação que nos passeia das esfíngicas pirâmides de Gizé às vertiginosas profundezas do Cosmos enlutado. - NT
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Hexvessel - Kindred (Svart)
Kindred apresenta-se dentro de um mood sinistro que rapidamente destapa uma válvula apropriadamente vintage, dilatada por um som grandioso e ambicioso, tingido pelo ambiente pagão já conhecido, com a captura de elementos psicadélicos adicionados a um núcleo neofolk. E até agora ainda só vamos na primeira faixa. Embora a sonoridade se oriente para os old-timey-days, apanham-se homenagens à modernidade: “Demian” pode fazer-nos lembrar de Last Shadow Puppets, “Bog Bodies” rings-a-bell a Portishead e “Phaedra” tem a colocação e tom de voz de Nick Cave espalhada por todos os lados. Hexvessel trouxeram para este álbum toda a sua perspicácia experimental, calibrando-a de forma a aumentar o fator imprevisibilidade. Acrescentam-se as dissonâncias quentes, secções rítmicas francamente tensas, coros que são fantásticos no sentido literal da palavra e arranjos opalescentes. Está tudo ultra concentrado num conjunto de faixas espiritualmente harmoniosas que unem os vários pontos do imaginário folk. - BF
Jarboe - Illusory (Consouling Sounds)
Jarboe imprime a sua formação clássica em órgão e ópera de forma magistral nas suas sonoridades. Os incontornáveis Swans foram em muito moldados pela sua mão, e a sua colaboração com Neurosis também não pode ser ignorada. Illusory parece ser um passo adiante na procura de novas dimensões dentro da própria persona de Jarboe, não obstante os já mais de 60 álbuns por ela publicados. Categorizemos o álbum como experimental, mas ele é acima de tudo incómodo, sereno, perturbador, dissonante. A esta humilde ouvinte, parecem ouvir-se notas de Joseph van Wissem e outras figuras conotadas com o obscurantismo. Ainda que Illusory seja um álbum experimental, há algo de melódico nele, seguro pelo piano assombroso e pela voz fantasmagórica de Jarboe. - ZM
João Pais Filipe - Sun Oddly Quiet (Lovers & Lollypops)
Já há muito que sabíamos que João Pais Filipe possui um estilo inconfundível e extremamente pessoal, mas nunca o carácter idiossincrático da sua obra brilhou com tanta força como em Sun Oddly Quiet. Neste novo trabalho, o baterista, percussionista e escultor sonoro eleva o seu distinto tribalismo hipnótico a novos patamares de grandeza, criando uma obra simultaneamente ancestral e vanguardista, recheada de ritmos sedutores e surpreendentemente ágeis que se repetem como um mantra e nos contagiam, levando-nos a viajar com a mente enquanto o corpo também se deixa lentamente envolver. Surrealmente poderoso, Sun Oddly Quiet combina uma impressionante destreza instrumental com um experimentalismo inebriante, deixando bem claro que João Pais Filipe é um incansável explorador das inúmeras possibilidades criativas e emocionais da percussão. - JA
João Vairinhos - Vénia (Raging Planet/Regulator/Ring Leader)
Conhecida cara da nossa querida cena nacional, Vairinhos pode e deve ser relembrado como um dos grandes pilares do cenário português. Tendo tocado bateria durante quase uma década pelos míticos Day Of The Dead, e tendo mais tarde entrado noutros míticos Löbo, João gere também a Regulator Records, que dispensa qualquer apresentação de tão familiar que nos é. Vénia é o seu primeiro trabalho a solo. Um resultado de anos e anos a explorar tantas outras vertentes na sua vida pessoal. Culminando pilares de enormíssimos templos sonoros, denota-se presença de drone, noise, industrial e intermináveis cenários de cyberpunk e plena distopia. Quer seja pelo brutalismo na composição, pela variedade nestes 25 minutos ou pela qualidade da produção, Vénia merece respeito pelo conteúdo que apresenta ao mundo. Sem dúvida, um dos grandes destaques portugueses do ano, até agora. - JMA
Kanaan - Double Sun (El Paraíso)
Lavrado, bordado e desenvolvido por um sofisticado, cerebral e elaborado cocktail sonoro de onde facilmente se identifica e saboreia um exótico, purificante e enigmático jazz fusion de inspiração apontada aos fabulosos britânicos Soft Machine e à lendária multinacional Mahavishnu Orchestra, um deslumbrante, sublime e serpenteante prog rock de ares revivalistas que se balanceia entre a carnavalesca exuberância de uns King Crimson e a onírica majestosidade de uns YES, um ensolarado, primaveril e perfumado psychedelic rock de inebriante radiância que resvala na envolvência cinematográfica do post rock, e ainda um hipnótico, imersivo e meditativo krautrock – ainda que de presença mais destemida e vincada na ponta final do álbum – sintonizado na mesma frequência que os clássicos germânicos NEU! e CAN, este trabalho toca as fronteiras da tão ambicionada perfeição. Recostem-se relaxadamente, apertem os cintos e preparem-se para vivenciar a acrobática sinuosidade de uma delirante montanha-russa que vos baralhará os sentidos e descarrilará a lucidez. Empoderem-se nele. - NT
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Mancines – II (Lux)
Após a luxúria lasciva do seu álbum de estreia, os Mancines voltam-se agora para o pitoresco da vida burguesa. II marca assim o regresso da banda que junta Toni Fortuna (Tédio Boys), Raquel Ralha (Wraygunn), Pedro Renato (Belle Chase Hotel) e Gonçalo Rui. “Is This a Go?” abre as cerimónias e funciona como cartão de visita desta viagem eclética e alucinante. Os primeiros segundos do single de apresentação fazem-nos lembrar David Byrne, não só pela energia da música, mas por toda a aura cénica que ela cria. De facto, II é uma espécie de experiência cinematográfica desprovida de visual, o que nos faz absorver de uma forma mais intensa o que por lá ouvimos. A ambience musical gerada aliada às histórias de JP Simões e Samuel Úria fazem deste novo trabalho dos Mancines um álbum cheio de personalidade, que abraça as suas influências e as transforma em identidade própria. Esta viagem entre o rock e o cinema italiano é digna de uma boa audição – para dançar, beber e acender um cigarro. - JR
Midwife – Forever (The Flenser)
Madeline Johnston auto-insere a sua música num género que cunhou como “heaven metal”, música que carrega um volume substancial de expressão emocional, do qual Forever se pode tornar referência pura e focada. O temperamento das primeiras três faixas insere-se na constante sonora de Midwife, equilibradas num meio termo entre a esperança e o desespero, a rastrear a narrativa do misfit, e isto é feito com muito mais do que bom gosto. Quando "Language" aparece, a resolução sepulcral do álbum começa a absorver-nos. As melodias agregam-se lenta e cuidadosamente para formar um corpo de som saturado, cheio de arranjos delicados que se fazem associar à suavidade perturbante da voz, a soar inocentemente indignada. Isto dá a Forever uma presença forte e uma eloquência emocional que nunca é pessoal o suficiente para deixar de se fazer sentir como um espaço comum. A promessa que este disco pode fazer é de se encaixar em qualquer momento de crise ou ponto de viragem. - BF
Moor Jewelry – True Opera (Don Giovanni)
Depois da estreia em 2017 com um EP intitulado Crime Waves, a prolífica Moor Mother voltou a reunir-se com o produtor de noise Mental Jewelry e juntos conceberam a banda sonora perfeita para estes tempos de incerteza e desespero. Tudo soa profundamente libertador neste conjunto de temas – o sentimento orgulhosamente punk, a energia caótica que não consegue ser contida e o poder das palavras proferidas por Moor Mother (que aqui também toca guitarra) no seu tom impetuoso e impaciente, de quem não consegue esperar pelo amanhã porque tudo tem de ser dito hoje. Música apaixonada e apaixonante, que soa urgente e frenética, e que é fruto do punk (aqui com claras influências de noise) que ambos cresceram a ouvir. Gravado “ao vivo” para melhor capturar a intensidade desta atmosfera visceral, True Opera é pujante, indomável e incrivelmente empolgante. - JA
Moura - Moura (Spinda)
Da vizinha Espanha – mais concretamente da cidade galega de Corunha – chega-nos um dos trabalhos mais ansiados e surpreendentes do ano. Moura é o magistral álbum de estreia – de designação homónima – esculpido e lapidado pelo talentoso e sui generis quinteto espanhol. Concebido e conservado por um devocional, outonal, novelesco e tradicional folk de aura ritualista que desenterra e ressuscita toda a esquecida mística do paganismo celta, e um exuberante, enigmático, magnético e apaixonante heavy prog – matizado a um efervescente psicadelismo – de contornos épicos e estirpe revivalista, este sublimado Moura presenteia e prazenteia o ouvinte com requintadas, deslumbrantes e inspiradas composições musical e liricamente desafiadoras. De olhar envidraçado, semblante pasmado e espírito enfeitiçado, somos cativados e orientados por uma esotérica liturgia – superiormente liderada por estes cinco druidas – de oração e adoração apontadas ao revivalismo de lendas ancestrais. Corações ao alto, o nosso coração está e permanecerá em Moura. - NT
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Narcömancer - Narcömancer
Narcömancer: a banda sonora do fim do mundo anunciado. Espero eu. São cinco rostos já familiares da cena punk e metal do Porto, e na minha humilde aceção, encontraram o ponto de rebuçado entre o black metal das florestas norueguesas e das igrejas a arder com o crust-punk das cidades decadentes e das estradas imundas. O que mais me agrada em Narcömancer é o espaço para uma espiritualidade obscura, a par e par com um black metal que agarra os tomates a Satanás e um punk absolutamente grotesco. Existem como banda há coisa de um ano, talvez menos, e acabam de lançar o seu primeiro EP. Conhecendo a performance da banda ao vivo, ouvi-los em EP e vê-los ao vivo são duas experiências inteiramente diferentes – e ambas são... não posso dizer “do caralho”, aqui, pois não? Talvez seja suspeita esta análise escrita pela minha pena, mas uma coisa é certa: no primeiro concerto de Narcömancer depois do fim da pandemia, até de boquilha eu vou. - ZM
Twin Sister - Twin Sister (God Unknown)
Formado por membros de Dead Neanderthals e Sex Swing, Twin Sister é um paredão sonoro que promove a filosofia de “menos é mais”. A sua estreia em LP procura e encontra riffs tombantes com um volume notavelmente insuportável. Feedback, distorção deslavada e surdez! A repetitiva cadência acaba por contribuir para um estado de transe constante. Dá para perceber que o intuito do projeto não é ser acessível nem de transmitir radio-friendly riffs. Importa é sentir isto como se o sentíssemos num concerto ao vivo. Como uma parede de som que recua e avança ciclicamente e com um domínio espantoso. A fórmula é mesmo muito simples, mas também é eficiente. - JMA
Ulcerate - Stare Into Death and Be Still (Debemur Morti Prods.)
Ao lado do Mestarin kynsi dos Oranssi Pazuzu, este mês elevou um outro disco que ocupou a atenção da maioria da comunidade extrema. A estreia dos neozelandeses Ulcerate na Debemur Morti Prods., intitulada Stare Into Death and Be Still. O sexto disco do trio elege mais uma vez o epítome do death metal em pleno século XXI. Honestamente, não tendo a carreira da banda qualquer ponto fraco, esta tem sofrido uma constante evolução entre discos que se elevam entre si. O consensual opus The Destroyers of All é agora por fim “substituído” por esta nova força vital da banda. Com uma nova filosofia de som instaurada a partir das discretas pronúncias de melodias – já sintomático no anterior Shrines of Paralysis – bem como uma revolução entre guitarras e bateria, o resultado final é um que transcende todo o universo da banda até hoje. É memorável, grandioso e monumental. Nem a tão obscura temática do disco desconta o vigor e vitalidade do seu efeito. Disto isto, aqui fica um indiscutível finalista para um dos melhores discos do ano. - JMA
Westside Gunn - Pray for Paris (Griselda)
Westside Gunn, Benny The Butcher, Conway The Machine. Geometria pura entre um dos mais reverberantes e prolíficos coletivos, tanto a nível east side como global, do hip-hop: Griselda. Westside, irmão de Conway e primo de Benny, retorna um ano depois do seu último FLYGOD is Good e da sétima mixtape Hitler Wears Hermes, com o já aclamado Pray For Paris. Um potencial futuro clássico na nova geração de MC’s e criadores, cuja produção se viu elevada por autênticos nomes como Tyler, The Creator, The Alchemist, DJ Premier e muito mais. Com uma natureza já familiar em Griselda, a postura de Westside transpira agressão e animosidade tanto na métrica como no próprio palavreado do rapper. Ostentando batidas recheadas de texturas com loops do wrestling e samples abundantes e generosas, contamos também com participações memoráveis de Joey Bada$$, Benny The Butcher e Tyler, The Creator. Dito isto, Pray for Paris é um disco a não ignorar para qualquer hip-hop-head. Essencial! - JMA
Yves Tumor – Heaven to a Tortured Mind (Warp)
Heaven to a Tortured Mind é o belíssimo manifesto de um artista prodigioso, alguém capaz de se reinventar a cada disco sem que as criações do presente pareçam incompatíveis com as do passado. Se o anterior Safe in the Hands of Love misturava noise negro e angustiante com uma soberba sensibilidade pop e elementos de soul, a nova proposta dá continuidade a essa surpreendente transformação. Apresenta-nos um Yves Tumor sedutor, que escolhe vestir a pele de rockstar e seguir caminhos cada vez mais próximos da pop e de uma soul quente e aconchegante, mas mantém acesa a chama do seu experimentalismo sem fronteiras. Ao longo desta esplêndida viagem de sons e emoções, no qual figuras como Diana Gordon ou Kelsey Lu fazem breves aparições, o enigmático artista norte-americano espalha uma sensualidade que tem algo de inquietante e oferece-nos uma obra magistral e emocionalmente arrebatadora, que consegue ser tão dançável quanto íntima. - JA
Zoned Out - Eyes Within a Dream (In For The Kill)
Oxigenado por um lenitivo krautrock de bússola apontada a consagradas referências do género como CAN, Guru Guru ou Embryo, impulsionado por um viajante space rock de idioma Hawkwindeano, colorido por um extravagante jazz fusion na mesma frequência que Miles Davis ou Mahavishnu Orchestra, e ainda conduzido por um serpenteante prog rock de velas içadas ao sabor de King Crimson, este diversificado, complexo e inspirado Eyes Within a Dream traz-nos a inebriante, admirável e extasiante regeneração de um carismático revivalismo exorcizado das douradas décadas de 60 e 70. Dividido em duas partes iguais onde coabitam versões de estúdio e versões ao vivo dos mesmos temas, este é um álbum de espaçosa duração e essência puramente instrumental que nos cativa e absorve com a sua caleidoscópica nebulosidade de aroma espacial. Eyes Within a Dream é um álbum verdadeiramente prodigioso, sofisticado, aventureiro e espirituoso que me capturara e namorara do primeiro ao derradeiro tema. - NT
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Artigo escrito por: Andreia Teixeira (AT), Beatriz Fontes (BF), João "Mislow" Almeida (JMA), João Rocha (JR), Jorge Alves (JA), Nuno Teixeira (NT) e Zita Moura (ZM).