clipping. - There Existed an Addiction to Blood (Sub Pop)
O hip-hop tem muitos dos seus grandes headliners em negrito e em plenitude de exibição. O trio clipping., de Los Angeles, é composto por Daveed Diggs, William Hutson e Jonathan Snipes e é um dos nomes mais sonantes dos círculos mais alternativos do género. Seja a filosofia de escrita mais inclinada para o experimental ou para o puramente dissonante, clipping. são especialistas na distopia e na ironia. Sendo reconhecidos como um dos braços fortes da última geração de artistas na Sub Pop, There Existed an Addiction to Blood testemunha o tridente no seu melhor. Quer seja liricamente, esteticamente e com uma mão cheia de referências ao horror exploitation dos 70’s/80’s, o resultado é gritante e memorável. - JMA
Deaf Radio - Modern Panic (ihaveadrum)
Um mundo incansavelmente ansioso encontra-se com um disco em lapso nervoso. Simultaneamente, a aura do esgotamento está-lhe amarrada, sentida liricamente, quando Deaf Radio vêm listar quais são os nossos pânicos modernos. Modern Panic ataca pelo pescoço com hooks diligentes, refrões vocais ou a ressonância retumbante. Entra com êxtase, o despertar etéreo e as mudanças de humor. É o mais relatable e moderno possível. - BF
Division Of Mind - D.O.M. (Triple B)
Já se perdeu a conta da quantidade de discos que a Triple B lançou em 2019, e honestamente, não sendo só uma questão de quantidade, a verdade é que a qualidade tem sido constante. Para terminar o plantel do ano, surge um dos discos mais pesados da editora. O álbum de estreia do quarteto de Richmond, Virginia - Division Of Mind. Recebido de braços abertos com muito louvor por parte de muitos dos ouvintes do hardcore mais pesado, com direito a elogios conterrâneos do vocalista de Lamb Of God, Randy Blythe. O disco é impiedoso, veloz e uma real martelada na cabeça. Entre riffs memoráveis, breakdowns absolutos e berros do epicentro do abismo, é difícil passar por esta tempestade, e não querer senti-la mais uma vez. - JMA
Hippie Death Cult - 111 (Cursed Tongue)
O classic rock dá um aperto de mão às trincheiras do doom metal, num subir e descer de andamento, num inspirar e expirar de temperamento. A inspiração em Black Sabbath atualizada, com muito arranhar de garganta e carradas fuzz, entrou até criar bolhas. Embora as ligas estejam bem apertadas entre os instrumentos, é Eddie Brnabic que merece especialmente uma firme pancada nas costas por ser a musculatura resistente de 111. Para deixar entrar luz, colocada a meio do álbum, temos "Mrtyu", uma música instrumental com uma melodia de floresta encantada. Aqui está o álbum de mestrado dos Hippie Death Cult. - BF
Magnitude - To Whatever Fateful End (Triple B)
Admita-se já, para que se poupe discussão, que este é inquestionavelmente o disco hardcore do ano. Porquê? Ora, apesar de relembrar uma enchente de nomes dos anos 90 como Unbroken, Snapcase, Bane e por aí fora, o som de Magnitude é, acima de tudo, possante, robusto e emotivo. As guitarras e a bateria impõem, e toda a produção cristalina só facilita a entender a real força nas arrebatadoras letras da banda. Quer esteja em tópico o ponto de encontro entre um propósito da vida, o straight edge ou a perseverança, não há nada que negue o quanto vital e crucial To Whatever Fateful End se tornou. - JMA
Oak – Lone (Transcending Obscurity)
A fórmula guitarra + bateria pode até não ser a mais original, mas a combinação de elementos revela-se eficiente e destaca Lone dos restantes lançamentos do ano, pelo menos no que ao death/doom diz respeito. O tom melancólico da guitarra desconforta o espírito, mas a combinação de uma voz possante com a percussão orgânica prende a atenção de qualquer um. A mestria demonstra-se sobretudo pela naturalidade com que posicionam os mais furiosos blast beats entre demoradas passagens atmosféricas à la post-rock, criando uma dinâmica única entre momentos de agressão e introspeção. Este vão precisar de ouvir bem mais do que uma vez. - AT
Shortparis – Так закалялась сталь (Universal)
2019 foi ano que apresentou Shortparis aos grandes palcos. O coletivo russo liderado por Nikolai Komyagin é agora a maior exportação musical desde as t.A.T.u., e o terceiro disco, cujo título traduz: “Assim foi temperado o aço”, é só mais um motivo porque ninguém deve ignorar e/ou subestimar a visão do grupo. Além dos geniais e mega-dançáveis singles “Страшно” e “ Так закалялась сталь”, malhas como “Поломало”, “Стыд” e “Ножевой” sublinham uma estética sensual, multicultural e oh tão refrescante. A língua russa, tal como a voz do próprio Nikolai, apresentam-nos o universo de Shortparis com uma elegância sem paralelos. - JMA
Solar Corona – Saint-Jean-de-Luz (Lovers & Lollypops)
O jazz dos candeeiros de rua isolados partilha o espaço num diagrama de Venn com a sensação espacial da eletricidade e do groove de Solar Corona. O diálogo entre os instrumentos é tão natural que é quase aceitável o ceticismo sobre a gravação deste disco em improviso constante e com o resultado final em mãos num só take - isto é o que um improviso bem feito faz. Ao brincar com variáveis, ao devorarem outras formas de expressão e composição, Saint-Jean-de-Luz formou uma personalidade distinta dentro da discografia de Solar Corona. A progressão despreocupada é conduzida com sensibilidade e alguns pontos de abertura de luz, mas traz também algo de sinistro e moody, a ideia de que o copo nunca esteve cheio. - BF
Artigo escrito por: Andreia Teixeira (AT), Beatriz Fontes (BF) e João "Mislow" Almeida (JMA).