B Boys - Dudu (Captured Tracks)
A surgir do caos sistemático de Nova Iorque, aqui estão B Boys. Tendo já lançado dois discos pela Captured Tracks, o EP No Worry No Mind e Dada, chegam agora ao verão de 2019 com um potencial breakthrough: Dudu. Os nova-iorquinos dinamizam o repetitivo punk dos Clash com descargas e desabafos à la Fugazi e letras frequentemente incendiárias à rotina e ao sufoco de um dia-a-dia cada vez mais conflituoso. Malhas como “Cognitive Dissonance”, “Automation” e “Instant Pace” são mais do que motivos para não deixar este incrível e contagioso Dudu escapar. - JMA
Blood Orange - Angel’s Pulse (Domino)
Em Angel’s Pulse encontramos o trabalho mais melódico e consistente de Blood Orange até à data. Editado em jeito de mixtape, as faixas seguem-se uma à outra seguindo um fio condutor de nostalgia e intimismo. Músicas curtas que separadamente soam como uma espécie de rascunho, mas que na sua totalidade funcionam como uma só. A atenção ao detalhe e a dedicação embutida no valor de produção continuam a ser a jóia da coroa do britânico. “Benzo” e “Take it Back” são autênticas obras-primas. - JR
FØREST FIRES - I & II (s/r)
Pedro Barceló é, além de guitarrista de uma das mais emblemáticas bandas de sludge/doom/drone em Portugal, Löbo, também FØREST FIRES. O seu mais recente empreendimento artístico pinta duas telas de sonoros massivos e imersivos. Referindo a primeira parte às causas do aquecimento global e a segunda às suas consequências, é válido o forte argumento quanto ao ponto de encontro entre a realidade e a distopia. Tanto a tela de uma como a de outra demonstram-se esmagadoras e sufocantes. Longe de destinadas ao agrado e ao estímulo melódico, estes dois EPs de estreia são um espelho da realidade e das possibilidades desta. - JMA
Halshug - Drøm (Southern Lord)
O trio escandinavo Halshug marca o seu retorno em forma com o seu terceiro disco pela Southern Lord, Drøm. Mesmo denotando um evidente step up na produção e songwriting, não se evidencia qualquer perda de energia, rendimento ou velocidade. Ganhando agora mais clarividência, transparência e afirmação nas suas ideias, amalgamando elementos de darkwave, death rock, industrial, noise e até mesmo jazz, há que admitir o potencial que o punk tem nas mãos certas. - JMA
Immortal Bird - Thrive On Neglect (20 Buck Spin)
O segundo álbum do quarteto estadunidense, Thrive On Neglect, volta a merecer toda a nossa (e vossa) atenção, nem que seja porque referências como "crusty blackened proggy deathgrind" ainda nos deixam com uma pulga atrás da orelha. Rótulos à parte, a mestria com que se misturam influências e sonoridades atinge outro nível neste trabalho. Temas longos e súbitas mudança de tempo são alguns dos componentes que se aliam, surpreendentemente bem, ao caos instrumental e a um monumental registo vocal à la OSDM, onde Rae Amitay consegue deixar qualquer um à beira do abismo. De espontânea e livre vontade, à mercê de tamanha violência sonora. - AT
Jeromes Dream – (Microspy)
Este foi mês de receber o muito aguardado retorno dos incontornáveis do screamo, Jeromes Dream. Apesar de muito parecer só mais uma justificação para concertos e digressões do que propriamente um disco conceptual com cabeça, tronco e membros, os americanos colecionam aqui alguns momentos memoráveis, ambivalentes e maturos. No entanto, parece que toda a urgência jovial tão familiar dos seus clássicos Seeing Means More Than Safety e Presents, com math, grind e powerviolence à mistura, parece ter dissipado numa mecânica demasiado controlada, segura e previsível. Podia ser tão melhor, mas... Pelo menos estão de volta. - JMA
Jimbo – Where the Vultures Gather (s/r)
O nome ativa um alerta instantâneo, e havendo possíveis oposições pessoais face à geração de expectativas com base em primeiríssimas impressões, neste caso não há problema: Where the Vultures Gather é um aumento de atração gravitacional musical incontestavelmente divertido. Os canadianos de psych-rock com uma demão de stoner apresentam um segundo EP com uma voz incisiva e distorção efervescente, um conjunto de três músicas a apelar ao “curto e grosso”, complementadas por letras direcionadas aos socialmente proscritos – e assim se descrevem os próprios. De som coeso, o disco produz uma força viral que não admite o repouso dos corpos ouvintes. - BF
Lingua Ignota – CALIGULA (Profound Lore)
Kristin Hayter é CALIGULA. Uma afirmação em letras maiúsculas. Um protesto neoclássico, industrial, noise, perante o impacto do abuso de poder. Para além de segundo álbum, é também um grito de guerra, um tributo a si própria, um trono incontestável, exorbitante e próspero. Um sânscrito de arquitetura, religião, amor, ódio, vida e morte. Uma coroação de proporções vitorianas, e uma anatómica convulsão de poesia reclamada e projetada a um abismo que simplesmente não devolve o olhar. “May failure be a garment to wrap round you. May failure be a belt with which to gird you. May failure be a noose with which to hang you.” - JMA
Only Child Tyrant – Time to Run (Nomark)
Outro projeto paralelo atordoante de Amon Tobin, pronunciado enquanto o irmão mais novo insubordinado de Two Fingers, Only Child Tyrant é uma derivação apressada e não ortodoxa do padrão de Tobin pelos sabores místicos de faixas sinistras e/ou acinéticas. Enquanto música de imposição cerrada, o single “Monkey Box” foi a introdução contundente à nova pele de Tobin. Aqui, a dissonância é o recurso do elogio. Mais aplacado no drum and bass, com a presença sensível de chiptune e guitarras concisas, Time to Run defende uma assembleia de temperamentos melódicos, com o traço unificador da inquietação. - BF
Palace - Life After (Fiction)
A saída de Will Dorey da banda, curiosamente, veio trazer maior consistência e incorporação nas músicas do seu segundo trabalho, Life After. Agora sem baixista, os Palace entregam um álbum que soa naturalmente fluído, com a guitarra e a bateria a complementarem-se organicamente sem roubarem a atenção uma da outra. No entanto, o aconchego sonoro dos Palace, apesar de superar o seu primeiro trabalho So Long Forever, ainda não é suficiente para marcarem e criarem aquele fator decisivo marcante que nos faça querer reouvir a banda britânica. - JR
Tomb Mold - Planetary Clairvoyance (20 Buck Spin)
Apesar das letras e de toda a estética por trás dos canadianos Tomb Mold, não há ciência nenhuma para o seu sucesso. Com apenas quatro anos de carreira, estes contam já com uma coleção de registos que facilmente justificam todo e qualquer hype. E mesmo com pouco tempo de antena, a evolução da banda é cada vez mais notória no que toca à sonoridade e composição. Evidência disso é este Planetary Clairvoyance, com cerca de 39 minutos de agressão controlada. A bateria assoladora e os growls pantanosos de Klebanoff, aliados a uma secção de cordas anatómicas e destemidas, recolocam as ideias da banda já muito inspiradas no old school death metal num panorama completamente novo e refrescante. - AT
Torche - Admission (Relapse)
Torche acostumaram o seu público a uma constante de qualidade, entre o plateau e a autossuperação. Neste caso, falamos na segunda opção, e depois do enrijado Restarter de 2015 tivemos mais que tempo para recuperar. Concilia quantidades proporcionais de agressividade e eufonia facilmente digerível, garantida sobretudo pela voz de Brooks, que mantém um tom de coesão entorpecida ao longo do álbum. Admission é etéreo, carregado pela agudez de uma descarga de adrenalina, e é o transtorno organizado em riffs de pressão elétrica e bateria atmosférica troante. Se a capa de álbum expressava uma intenção, foi abençoadamente concretizada. - BF
Wear Your Wounds - Rust on the Gates of Heaven (Deathwish)
Rust on the Gates of Heaven expõe leves variações benignas que se podem inculpar na mudança de processo de composição, que desta vez contou mais com um esforço coletivo entre Bannon, McKenzie, McGrath, Sean e Maggio do que propriamente com a mente de um só Bannon (caso do disco de estreia). Com isto, conseguem um resultado calejado e completo, mais unanimemente compreendido, enquanto complementado pela imutável soturnidade da atmosfera. A abrasividade visceral é o gerador do bruto disparo emocional: o desenvolvimento da mágoa para a repulsa e o lento arrastar de um estado de alívio pós-catatonia. - BF
Wędrowcy~Tułacze~Zbiegi - Marynistyka suchego lądu (Devoted Art)
WTZ é uma pérola escondida da já tão familiar cena polaca. Com a ajuda de vários músicos, é Sars (Furia), com quem falámos no Roadburn do ano passado, o motor exclusivo de WTZ. O seu primeiro disco, Światu jest wszystko jedno, propaga uma atmosfera de jazz e darkwave envolta de uma textura Kieślowskiesca e Lynchiana. Não bastando cantar em polski, que com todo o mérito preserva uma beleza única no compartimento vocal, toda a sonoridade é bonita e misteriosa. Com o seu segundo LP, Marynistyka suchego lądu, Sars investe num novo dilúvio de texturas e tonalidades, tão fulgurantes e destemidas como as emolduradas no seu antecessor. Imperdível. - JMA
Artigo escrito por: Andreia Teixeira (AT), Beatriz Fontes (BF), João "Mislow" Almeida (JMA) e João Rocha (JR).