Aesop Rock & Blockhead - Garbology (Rhymesayers)
Os companheiros de longa-data, Aesop Rock e Blockhead colaboram aqui pela primeira vez para nos trazer um LP, ao fim de uma relação de vinte anos feita de colaborações aqui e ali. Garbology aparece como o resultado instintivo desta união num cenário hipnótico, endemicamente nefasto e frenético. O lirismo astuto de Aesop concentra-se nas assombrações da mente, na paranóia que lhes faz parte e na crítica social entre a ironia humorística e o cínismo sombrio. A tendencial obscuridade enigmática do instrumental coberta pela voz empurra tudo para o simbólico, num mecanismo estranho e labiríntico. Acenam com o chapéu às sonoridades do blues, do jazz, do psicadélico e do trap, combinando-os bem com o fluxo incansável da voz. Garbology dá continuidade à atitude artística desafiadora de Aesop, colocando-a no centro das atenções. - BF
Emma Ruth Rundle - Engine of Hell (Sargent House)
Com uma tonalidade mais semelhante às suas prestações “unstripped” em palco, Engine of Hell, o mais recente álbum de estúdio de Emma Ruth Rundle, é uma obra intimista, de arranjos minimalistas e que aborda a dor no seguir em frente. Ouvir este disco é como estar numa sala a sós com Rundle, onde ela nos expõe as suas experiências traumáticas e até vislumbres de momentos marcantes da sua vida através de letras que parecem ser retiradas do seu diário pessoal. Sem bateria nem grande produção e efeitos, a maioria das faixas foram gravadas ao vivo. E é na voz de Emma (que umas vezes treme, outras sussurra) que se percebe toda a profundidade nestas músicas. Tudo foi deixado: as respirações, as mudanças mais bruscas de acorde e pequenos barulhos feitos ao falar. É nestes pormenores - que alguns podem chamar de imperfeições de gravação - que vive o que torna este trabalho tão verdadeiro, dada a sua natureza melancólica e terapêutica.Este é o resultado de um isolamento que a artista fez no País de Gales que nos convida a nós próprios a tirarmos uns momentos de reflexão e de nos libertarmos do que fica para trás. Pode não ser uma viagem a fazer muitas vezes, mas é uma que de certeza poucos conseguem proporcionar. - CN
Irreversible Entanglements - Open The Gates (International Anthem)
Um dos aspetos mais interessantes na música dos Irreversible Entanglements é o modo como permite a Moor Mother “temperar” a sua fúria em vez de simplesmente a destilar, encontrando formas mais requintadas de expressar uma dor que jamais desaparecerá, não enquanto o racismo perdurar e o conceito de igualdade para todos- sobretudo para a comunidade afro-americana - permanecer um sonho em vez de uma realidade concreta. Aqui a procura é por um sentimento de libertação, com a música a ser usada como arma de mudança, poesia emotiva a unir-se a um free jazz expansivo para uma experiência inexplicavelmente espiritual e maravilhosamente visceral. As palavras de Moor Mother são proferidas com uma convicção tão forte e inabalável que honestamente arrepiam, e o instrumental - que agora também inclui sintetizadores - parece comunicar a mesma urgência incontida: ouça-se aquele saxofone a “gritar" bem alto e absorva-se o desespero e a mágoa que liberta - impossível não ficar comovido. De certa forma, o encanto deste disco reside precisamente na forma como se alimenta da riqueza musical afro-americana (a qualidade destes ritmos irrequietos, por vezes intensamente dançáveis, outras vezes bem noisy é majestosa) para refletir sobre o sofrimento sentido pela comunidade que a criou. - JA
It Was the Elf - Ancestors (Raging Planet)
Norteado por uma evocação e devoção ancestrais, este quarteto beirão – localizado na cidade de Gouveia, Guarda – traja um trevoso, enérgico, colérico e fibroso heavy rock em simbiótica parceria com um fogoso, carismático, enfático e montanhoso grunge rock resgatado aos saudosos anos 90. De rédeas empunhadas, maxilares cerrados, olhar incendiado e esporas ensanguentadas, a estrondosa sonoridade de Ancestors é carburada e troteada por uma impiedosa cavalaria pesada que ocasionalmente descontrai nos orvalhados, meditativos, lenitivos e embrumados campos de um plácido, etéreo e embriagado psychedelic rock. Para lá do lustroso tilintar dos chocalhos que sonoriza a pastorícia, do latir dos cães que fere o bucólico e imersivo silêncio rural, e do harmonioso chilrear dos pássaros que anuncia a tímida madrugada de um novo dia na serra, adensa-se e agiganta-se todo um monolítico tsunami de crepitante distorção nas cordas troantes, tambores tribais e vocais guturais de It was the Elf. São 50 minutos atestados de acentuados contrastes climatéricos, onde coabitam a glacial letargia e a vulcânica euforia. Subam até ao cume desta alterosa serra e avistem todo o esplendor, domínio e vigor de um dos melhores registos portugueses do ano. - NT
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Jessica Moss - Phosphenes (Constellation)
Indiscutível nome sonante do panorama musical de Montréal, Quebec, no Canadá, a violinista Jessica Moss dispensa grandes apresentações. Havendo já marcado colaborações com os mais variados nomes desde Arcade Fire, Godspeed You! Black Emperor, Big | Brave, Vic Chesnut, Sarah Davachi, bem como membro pilar dos inigualáveis A Silver Mt. Zion, Jessica forjou uma carreira no minimalismo, surrealismo e post-clássico de composição. Phosphenes é já o seu quarto disco a solo, e este alberga em si uma carga sonora simples mas pesada e assombrosa. Este conta com uma composição mínima de somente o seu violino e vários recursos a efeitos de distorção. Ainda assim, o resultado expande e navega impassivelmente como se o próprio som fosse os raios transitórios de um pôr-do-sol. Constante e tanta vez arrepiante, Phosphenes rege por uma natureza quase orgânica, como se o ouvinte estivesse em pleno ar livre, isolado e a contemplar… a luz. Um aplauso ao mais recente disco da Jessica. - JMA
Jon Hopkins - Music For Psychedelic Therapy (Domino)
O que se assemelha a uma busca no YouTube num momento em que se anseia o escape da vida real é, na verdade, o nome do sétimo álbum de estúdio de Jon Hopkins. Determinado em encontrar um novo género musical que pudesse aumentar os efeitos terapêuticos de psicadélicos administrados por profissionais de saúde, o produtor britânico de música eletrónica viajou até às Caves Tayo no Ecuador. Lá, inspirou-se para compor este trabalho que faz a junção perfeita entre produção musical e natureza, misturando melodias imersivas em estado permanente de sonho com outros elementos presentes naquele local (como a água, aves e o ar a ecoar nas caves). O resultado foi um disco ambient em que as mudanças nas composições são muito subtis e lentas, parecendo que o momento presente se está a arrastar connosco. Talvez tenha sido a preocupação em não ser demasiado brusco com pacientes neste tipo de terapia e não causar consequências adversas. Mesmo assim, não é um requisito estar nestas condições para conseguir admirar este trabalho. As composições são um portal para uma zona de conforto, calma e reflexão. Ficar neste álbum até ao fim é sentir que estamos a acordar depois de a mente ter vagueado pelo cosmos. - CN
Kanaan - Earthbound (Jansen)
Enegrecendo, dinamitando e robustecendo a musicalidade que norteara os seus antecessores, este bombástico e aparatoso Earthbound associa um inflamante, tonificado, carregado e euforizante heavy psych de atemorizantes feições doom’escas a um estonteante, acrobático, enfático e electrizante jazz-rock lavrado a sónico experimentalismo, e ainda a um imersivo, hipnótico, quimérico e meditativo krautrock que orvalha os efémeros estágios de etérea bonança nesta bélica e implacável tempestade instrumental. A sua sonoridade intensamente efervescente, montanhosa, portentosa e erodente agiganta-se perante o ouvinte num impactante, monolítico e chamejante tsunami de endorfinas que o sombreia e incendeia de sísmica exaltação. Conseguem imaginar os lendários Kyuss à saída de uma academia de Jazz com o diploma debaixo do braço? Se sim, então acabam de pisar os abrasivos territórios onde germinara e frutificara este novo álbum de Kanaan. Earthbound é um registo verdadeiramente expressivo, pujante, tonitruante e incisivo – de longe o mais trevoso da sua discografia – que fará estremecer de vibrante e caloroso empolgamento todo aquele que ousar enfrentá-lo. - NT
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Montes - Vozes Antenas Fragas (Lovers & Lollypops)
Oriundos de diferentes partes da América do Sul, os Montes são um projecto formado por Arianna Casellas e Kauê Gindri, ambos a viver atualmente no Porto - especificamente, no sexto andar de um prédio da Invicta, cuja vista para as montanhas no horizonte inspirou o nome desta feliz união musical. O que aqui ouvimos é simplesmente magistral, ali no campo da música experimental que se revela transcendente e que se alimenta de contrastes - caos e sossego, melodia e ruído - para desenhar épicas paisagens sonoras que permanecem em constante duelo, renovando-se de forma contínua à medida que cada canção segue o seu caminho. Por vezes, os sons da natureza que surgem espontaneamente, assim como o poder da voz assombrosa de Arianna, remetem um pouco para o imaginário de Ece Canli, mas rapidamente se torna claro que os Montes operam num universo muito próprio, um mundo que lhes permite viajar pela folk, desbravar novos e estranhos caminhos avant-garde, incorporar batidas eletrónicas que apalpam o terreno do trip hop ou até inserir recortes jazzísticos. As canções, longas, aventureiras e indomáveis, são como pequenos filmes: cada uma conta a sua história, e cada uma merece ser ouvida. - JA
Mortiferum - Preserved In Torment (Profound Lore)
Já a construir um status de futuro clássico, o quarteto de Olympia, Washington tem vindo a cimentar uma das sonoridades de death metal mais assombrosas e pujantes. Dois anos após o muito aclamado disco de estreia dos americanos, Disgorged from Psychotic Depths, podemos por fim testemunhar a preponderância esmagadora do seu sucessor Preserved In Torment. Seguindo exatamente as mesmas medidas e fórmulas, dando continuidade na colaboração em estúdio com Dan Lowndes na masterização e Andrew Oswald na mistura, bem como o próprio guitarrista Chase Slaker a criar a capa, bem como a etiqueta da Profound Lore a marcar a edição do disco. Tudo isto, a assinalar a chegada do, senão um dos grandes discos de death metal do ano. Cadente, denso e com uma passada simplesmente devastadora, não há uma faixa que poupe o ouvinte em camadas de distorção e lama. Quer seja pelo ressora da tarola gritante em contraste com a predominância das frequências graves, quer seja pelos grunhos rosnados ou - de forma mais prevalecente - a escrita habilmente desdobrada e simples mas eficazmente bem conseguida, Preserved In Torment marca a passagem da banda para um campeonato de maior respeito. - JMA
Plebeian Grandstand - Rien ne suffit (Debemur Morti)
Dispensam-se falas mansas no que toca a Plebeian Grandstand, talvez o segredo mais bem guardado da nova vaga de pesos pesados dos nossos vizinhos franceses. Em abril marcou-se o sétimo aniversário de um dos discos que mais assinalou essa mesma vaga, False Highs, True Lows - que por si só alavancou uma nova ideia de transformação que unia a energia crua das raízes hardcore/punk da banda numa deformidade de black metal avant-garde. Rien ne suffit chega, com impressão da editora compatriota Debemur Morti, nome mais do que apto a ajudar a levar esta sonoridade a maiores distâncias. Sonoridade essa, que não parece ter perdido nem uma gota da energia que havia sido previamente demonstrada. Se alguma coisa, demonstra-se ainda mais catalisadora, elevada até ao limiar do abstrato e do limite humano. A este ponto, já se torna redutor usar os termos de hardcore ou black metal, pois Rien ne suffit alcançou aqui um feito que ultrapassa - sim, atrevo-me a empregar esse termo - passados feitos de nomes como Deathspell Omega ou Portal. De relembrar que a banda consegue efetivamente levar isto a palco e não vacila no estrondo! - JMA
Portico Quartet - Monument (Gondwana)
Monument contém, decerto, o material mais acessível vindo da dupla inglesa até agora, mas argumenta, em medidas recíprocas, a favor de uma expressão mais colorida e emotiva, que explode numa intensidade calorosa e vivaz sem que se faça sentir opressiva em qualquer instância. Apresenta-se aqui uma dualidade intrigante: por um lado, o espaço oferecido à vertente eletrónica retorna uma repetição de segmentos minimalistas, mas cativantes que, apesar de nunca estagnarem a progressão musical, concedem um efeito hipnótico sobre o todo; por outro lado, tende a sobrepor-se sobre essa mesma vertente uma camada muito mais orgânica, acentuada singularmente pelo jazz conciso e plenamente executado pela instrumentação mais tradicional ao género. E assim, como um organismo vivo, no qual cada órgão que o constitui nunca atua por si só mas sempre em união com os seus demais, também o sétimo álbum de estúdio dos Portico Quartet age numa conformidade tal que, por vezes, nos esquecemos do quão bem as forças em jogo estão a comunicar entre si. - JG
Portrayal of Guilt - Christfucker (Run For Cover)
Para quem gostou do primeiro dos dois projetos que os Portrayal of Guilt lançaram este ano, a segunda proposta Christfucker, acabada de sair, pode trazer boas e más notícias. As más são que o secundogénito não se dá muito de caras com o que o antecedeu, optando por se entranhar ainda mais, por muito desconfortável que tal possa ser, na toca do coelho, tão funda agora que a luz se torna em conceito completamente alheio e bizarro. No entanto, as boas notícias são que, em contrapartida, as más não o são assim tanto. Por outras palavras, preferencialmente mais descritivas, ressurge aqui o espírito desafiador e provocante pela qual a banda já tem inúmeras vezes sido denotada, mas desta vez em medidas bem mais drásticas do que o que se imaginava. A rutura aparenta-se de imediato na cover art que, quer pela fonte sobre a qual o nome da banda se decifra, quer pelo background predominantemente enegrecido, quer pela sugestividade do título, aponta logo para um disco fortemente sediado nas cernes do black metal e grindcore, cuja produção propaladamente ruidosa resulta numa mescla nefasta, corrosiva e exacerbante. Para além da constante aversão a qualquer melodia que de obscuro, necrótico ou assustador nada tenha, não há muito mais que se lhe diga, nem tampouco que seja preciso dizer, para se fazer claro que este é um disco merecedor de umas boas rotações. - JG
Snake Mountain Revival - Everything in Sight (Ripple Music)
Farolizado e oxigenado por um caleidoscópico, nebuloso, lustroso e quimérico psychedelic rock a fazer recordar All Them Witches, The Flying Eyes e King Buffalo, um onírico, hipnótico, xamânico e deslumbrante krautrock de pálido tempero cósmico, e ainda um dançante, desértico, estético e contagiante surf rock de serpenteio Dick Dale’sco e clima Spaghetti Western que fará salivar o cineasta Quentin Tarantino, este paradisíaco álbum de estreia do trio Snake Mountain Revival aprisionara-me num inamovível estádio de nirvânica narcose, aspergida por um torpor idílico e revolvida por uma prazerosa náusea. A sua sonoridade sonhadora, mística e regeneradora – mergulhada no fantasmagórico efeito reverb – desmaia as nossas pálpebras sobre um olhar distante, descortina um genuíno sorriso, massaja o cerebelo, embacia a lucidez e embala-nos numa sonâmbula vertigem em slow-motion de membros paralisados e sentidos embriagados. Este é um disco cozinhado a apurada subtileza, afrodisíaco requinte e imaculada beleza, que tão bem combina a odorosa delicadeza com a fogosa rudeza. Dissolvam-se nesta brumosa alquimia de ofuscação balsâmica e imersão ritualista de pleno encanto sem fim à vista. - NT
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Stew - Taste (Uprising)
Este eletrizante power-trio sueco – natural da pequena cidade de Lindesberg – mantém-se fiel à bem-sucedida receita musical que os acompanha já desde a sua fundação, ostentando um majestoso, fogoso, atraente e imperioso heavy blues de inspiração revivalista em parceria com um lubrificado, elegante, espadaúdo e apimentado hard rock de roupagem setentista. Permutando entre vulcânicas, vistosas, libidinosas e titânicas galopadas locomovidas à rédea larga, e lustrosas, açucaradas, gloriosas e melódicas baladas sorvidas numa melosidade imprópria para diabéticos, este contagiante Taste é um álbum imensamente voluptuoso que combina a delicadeza com a rudeza, a leveza com a robustez e a placidez com a efervescência numa suculenta iguaria de fácil digestão e imediata veneração. São 39 minutos atestados de extasiante fervura e sufocante doçura que nos banham, sobreaquecem e assanham do primeiro ao derradeiro tema. Taste é um álbum verdadeiramente edificante e apoteótico. Deixem-se inundar nos profundos odores transpirados por esta sublimada obra de beleza depurada e destreza apurada, e vivenciem toda a obcecante magnificência irradiada de um dos mais carismáticos discos do ano. - NT
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Temple Fang - Fang Temple (Right On Mountain/Electric Spark)
Neste ansiado disco de estreia, cuja concretização se viu dificultada pela perda de um membro e pelas restrições impostas pela pandemia, Temple Fang apresentam-se com um disco colorido pelo psicadélico, com um primário de space rock, enevoado pelo revivalismo. Fang Temple é um álbum elaborado, com porções melódicas meditativas de queima lenta e extensas camadas de instrumental evocativo da Era das pupilas dilatadas. Produzido para trazer à tona o calor do momento, sobrevoado pela textura rica dos sintetizadores, riffs estelares levitantes, coroado por vocais melódicos e embebido de reverb, dão forma a uma cunhagem própria que nos soa tão catártica como introspectiva. - BF
The Chisel - Retaliation (La Vida es un Mus)
Nestes últimos anos o Reino Unido não tem falhado na produção de atuações imponentes no quadrante do hardcore e hardcore punk! A par de nomes recentes como Big Cheese, Game, Chubby and the Gang, Mastermind e muitas mais, The Chisel chega com a sua estreia em álbum a retaliar com Retaliation. Um pujante e enérgico hino à música a levar palcos ao rubro, pile-ups, stage dives, mosh pits e batidas rápidas e furiosas! A fórmula é simples, eficaz e tão contagiante, que se torna impossível resistir à sua força gravitacional. Tantas são as faixas memoráveis trazem um pouco de tudo para todos, entre o d-beat de rua, aos riffs mais melódicos com flashback à old school londrina, bem como as passagens mais rápidas de punhos cerrados a soquear a área circundante. Se o hardcore é algo que vos agrada, este disco é OBRIGATÓRIA para as contas do ano. - JMA
The Temple - The Temple (Profound Lore)
Depois do enormíssimo testemunho erguido pelos neozelandeses Ulcerate o ano passado com Stare Into Death and Be Still, tão pouco tempo depois desse tremor volta a aparecer atividade daqueles cantos. The Temple não é propriamente Ulcerate mas conta com Paul Kelland, atual guitarrista, bem como James Wallace, ex-vocalista nos tempos das demos da banda. Não ficando por aqui, o álbum homónimo do projeto foi ainda gravado, misturado e masterizado pelo atual baterista de Ulcerate Jamie Saint Merat. Comparativamente ao projeto maior, The Temple mostra-se um pouco mais sóbrio, despido, claramente focado nas formas da narrativa do que na própria atmosfera e textura da pintura. A bateria não carece de forma alguma da habitual compressão mas as guitarras mantém-se, como já é hábito de Kelland, extremamente detalhadas e repletas de pequenas ghost notes e oscilações que preenchem a tela das músicas com um charme tremendo. Doom/death é o termo apropriado para apregoar aqui, mas providência de catarse é invariável e extremamente necessária para qualquer coisa que esta malta é capaz de produzir. - JMA
Tiago e os Tintos - O Ecoar D’uma Sirene (Saliva Diva)
Há já algum tempo que a Saliva Diva constitui uma editora essencial para quem deseja estar a par do que melhor se faz no panorama nacional, e a estreia de Tiago e os Tintos é um exemplo disso mesmo. Não é que apresente algo particularmente inovador, mas a honestidade com que debita um delicioso garage rock apunkalhado, mas ainda assim coberto por um manto melódico acolhedor - sensibilidade pop e descarga enérgica de guitarras a abraçarem-se num toque harmonioso até que ambas se tornem indistinguíveis - é incrivelmente gratificante. Por vezes quase que soam a uma versão mais “rasgada” e despojada d' Os Pontos Negros, ou mesmo a um grupo como os Baleia Baleia Baleia (o disco foi, aliás, maioritariamente gravado por Ricardo Cabral, baterista do duo), mas o que realmente sobresai aqui é a garra inesgotável, os refrães surpreendentemente orelhudos que não conseguimos parar de cantarolar e o extraordinário talento para criar um rock simples, apaixonado e brutalmente eficaz. Sente-se tanto aquele espírito de amigos a rockar numa garagem, abrindo-se ao mundo que dali espreita, pronto para o dominar… É bom, é inspirador, e urge ser ouvido; em casa e, claro, ao vivo. - JA
Artigo escrito por: Beatriz Fontes (BF), Catarina Nascimento (CN), João “Mislow” Almeida (JMA), Jorge Alves (JA), José Garcia (JG), Nuno Teixeira (NT) e Pedro Sarmento (PS).