Pouco depois de ouvirmos os últimos acordes de “Lazuli”, os Beach House quebraram o silêncio e perguntaram à plateia como estava. O calor dentro do Teatro Sá da Bandeira era insuportável, mas entre abanicos improvisados, finos, ou simplesmente a deixar o suor fluir, todos se encontravam entusiasmados na sala a assistir ao regresso da dupla (ou poderemos falar de trio?) americana. Seguros do nosso bem-estar, não estiveram com meias palavras (como geralmente estão), e afirmaram o quão bom era estar de volta ali. Em 2015 deram ali, provavelmente, o seu melhor concerto em Portugal, e isso nunca lhes saiu da memória, nem a nós dos corações. Mas depois do concerto desastroso em Paredes de Coura em 2017, o que nos reservava 2018?
No palco, a primeira coisa que nos chama a atenção é a presença de James Barone em pé de igualdade com a dupla. Ambos no mesmo patamar e lado a lado, tendo em conta o registo seguido no último álbum da banda, faz todo o sentido que assim o seja. A bateria ganha um destaque em álbum que é transposto para palco, e músicas como “Lemon Glow”, que encerrou a primeira parte do concerto, ganham uma força e uma textura muito mais forte ao vivo. No entanto, se tal resultava muito bem com as canções de “7”, noutras abafava-lhes o encanto, como no caso de “Walk in the Park” ou “Beyonde Love” onde a guitarra é espinha dorsal da música. Nas primeiras notas desta última, logo falha a guitarra a Alex Scally, e de repente tudo vem abaixo, luzes e instrumentos. É então que assistimos a algo totalmente inédito: Victoria Legrand chega-se à frente e entre piadas tenta entreter o público enquanto resolvem aquele problema técnico. Quase nem a reconhecemos com este tipo de atitude. Resolveu-se o problema e o concerto seguiu para desaguar em algo que já estamos habituados a ouvir a vocalista da banda fazer. A música era “Space Song” e se já não estávamos totalmente encantados pela sua voz, quando decide prolongar e sustentar o tom nas últimas estrofes, ficamos totalmente rendidos. A ovação fez-se logo e durou até a música acabar. Uma das maiores da noite. A maior aconteceu em “Elegy to the Void”, que, com um final estrondoso estendeu até ao limite o casamento entre as cordas e a bateria.
A nível de performance e artifícios, o concerto a contra-luz mantém-se, mas perderam-se os adornos luminosos que nos cativavam o olhar. Tudo agora se joga com jogos de luzes simples e um ecrã de fundo com projeções também elas muito despercebidas. Por vezes apenas se limitavam a projetar o próprio palco. Sentimo-los, dentro da sua timidez, mais confiantes, e as luzes brancas já nem lhes fazem confusão. Usam e abusam delas, e em vários momentos conseguimos ver-lhes na plenitude as feições da cara. Assim sendo, o trio aguentou por si só todo o concerto, e fê-lo muitíssimo bem. Apesar dos problemas técnicos e do calor que se fazia sentir, o público foi incansável em retribuir o amor, nas suas ovações e num pedido de encore efusivo, ritmado e sem cansaço. Os Beach House acederam e soltaram o primeiro e único obrigado em português e logo se atiraram a “Walk in the Park” para terminar mais uma presença em Portugal. Pelas suas passagens por cá, já foram maus, excêntricos, muito bons, mas sempre tímidos. Esta foi a primeira vez que os assistimos totalmente seguros e confiantes de si e os próprios assumem na despedida que guardarão esta noite, assim como a outra lá em 2015, para sempre no coração.
Antes, foram os Sound of Ceres que subiram ao palco para criar o ambiente para os Beach House. Estes, são um projeto paralelo dos elementos dos Candy Claws, mas em versão pretensiosa e excessivamente conceptual. O que aconteceu em palco cativou durante os primeiros minutos: projeções a tentar almejar o 3D, com Karen e Ryan Hover a interagirem com o jogo de luzes e a entregarem-se intensamente a umas personagens que não chegámos a compreender. O certo é que duas músicas depois já toda a sala se encontrava a falar uns com os outros, e nem a falsa aparição de umas asas na vocalista gerou interesse. O que também claramente não gerou interesse foi a música do projeto, uma vez que era apenas um emaranhado de todos os clichés dream-pop possíveis que resultavam em algo demasiado abstrato para ser desfrutado. Todo aquele aparato serviu para nos provar que a música vale por si, e curiosamente os Beach House de seguida apresentaram-se despidos de artifícios para nos relembrar que nada nos faz sonhar como as suas músicas.