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Crónicas do Sonic Blast Moledo 2017

30 de Agosto, 2017 ReportagensAna L. Marinho

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Sonic Blast Moledo

TRC Zigurfest 2017 • O Douro sublimado - Parte 1

Sonic Blast Moledo 2017 [11-12Ago] Fotogalerias


 

Uma indicação improvisada à mão, com tinta azul e cartolina branca, avisando o trânsito na Rua da Costa de que o Sonic Blast estava aí à porta e só a membros autorizados era permitida a circulação, denunciava, da forma mais cândida e modesta, o propósito à volta do qual todo este festival se constrói. Despido de quaisquer ornamentos visuais, além de uma soberba paisagem minhota, um público diverso, com esdrúxulas escolhas de guarda-roupa e pedantes cabelos e barbeados, sendo ainda dispensadas quaisquer outras distracções para lá dos postos de cerveja obrigatórios e do tasco estratégico onde a malta se punha a comer um caldo verde e uma bifana enquanto se via literalmente a banda a passar, o festival é essencialmente Música.

Tínhamos já chegado sem a cautela e antecipação necessárias, com os joelhos e braços escaldados dos quilómetros corridos debaixo do sol, quando ao seguir a estreita faixa de terreno que dava acesso ao festival, já a brisa do Atlântico, em jeito de censura, nos trazia aos ouvidos os sons cruzados do Palco Principal, onde decorriam sounds checks, e das batidas mais firmes do Palco Piscina, onde tomavam lugar os primeiros concertos desta edição. A programação concentrada não perdoava aos incautos atrasos e a extensa fila para as senhas e bilhetes, cuja procura já fazia adivinhar lotação esgotada, fazia dos pontos de venda um calvário para aqueles que não queriam perder pitada.

Ainda os barcelenses de estimação Black Bombaim, que este ano prometeram e não falharam, entretiam na piscina e já os The Great Machine inauguravam o principal.  Rapidamente se desfez a formação sentada que assistia ao pôr do sol. Os israelitas quiseram mostrar que nunca se começa pela salada e com uma calorosa vontade não pouparam Moledo de um vigoroso abalo. Acabados de chegar de Austin, nos Estados Unidos, para um par de espectáculos em solo europeu, os The Well responderam com o pulso energético oscilante que os caracteriza e que mantiveram durante todo o período de onda. A vaga psicadélica dourada pelos últimos raios de sol foi ganhando sidéreas dimensões e com os nautas do heavy space rock, Yuri Gagarin, propagou-se horizonte fora. Ao brilhante comando do quinteto, o mergulho no mar de poeira celeste foi materializado e esta que foi a primeira órbita em território nacional, fez de Moledo o “centro de toda a infinitude”.

 

The Great Machine

The Well

Yuri Gagarin
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Se o rigor e circunspecção do conjunto sueco tinham deixado a plateia seduzida, oriundos de Tóquio, os Kikagaku Moyo deram o concerto que nos mantivera absolutamente reclusos. Numa concordância generalizada do público, o quinteto nipónico dedicou uma performance de excelência, que mereceu, quanto a nós, a anotação de melhor registo do dia. Explicando a sua agenda preenchida, numa entrega inspirada e comunicativa com o espaço, vertida num alinhamento iluminado incluindo temas como “Green Sugar”, “Kogarashi” ou “Smoke and Mirrors”, estes mestres orientais das artes livres souberam a métrica do necessário a um dos mais belos transportes do festival.

Já da meia-noite nos aproximando, os Monolord subiram ao palco e consigo trouxeram, em absoluta quebra, uma geometria invariável de saturação. Desde  “Rust”, título e tema do álbum com lançamento previsto para finais de Setembro, a “Empress Rising”, passando ainda pelo single “Lord of Suffering”, o power-trio escandinavo foi maestro do célebre passo cadenciado de cabeças que ora se erguem ora se cavam no ar. Ao vivo, o canto longínquo e os tardos riffs de Jäger, as agressivas linhas de baixo na mão pesada de Häkki, e a bateria imperatriz de Willems deram aos temas uma surpreendente profundidade de campo, gerando círculos de confusão que só voltariam a encontrar paralelo em Acid King, no dia seguinte.

 

Kikagaku Moyo

Monolord
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O momento de maior aguardo chegava porém e os cabeça de cartaz davam os arranjos e afinações finais para aquele que seria, cumulativamente, o espectáculo da estreia e da despedida. Depois de terem visitado as grandes capitais europeias, Moledo foi o primeiro palco português do currículo e recinto do último espectáculo da digressão. Responsáveis por um farto influxo de festivaleiros, os norte-americanos Elder, aclamados sobretudo pelos seus dois mais recentes trabalhos, encontravam-se assim debaixo ávido espiar da plateia. Com um alinhamento mais devolvido a Reflexions of a Floating World, não dispensaram incluir “Compendium” do precedente Lore (2015), ou “Gemini” do Dead Root Stirring (2011), cumprindo as expectativas sobre eles formadas ainda que o aparente desgaste vocal de Nicholas DiSalvo tivesse ficado aquém do supremo desempenho instrumental. Com uma prestação musicalmente bem pontuada, a satisfação estava montada em cima e em baixo do palco.

Havidas mais de onze horas ininterruptas de espectáculo, e tomando a vez dos alemães Kadavar, os The Cosmic Dead encerraram o cartaz do primeiro dia - não a noite, que continuaria com Isabel Maria no Ruivo’s Bar. Carentes da desenvoltura física de que espírito gostaria, as várias horas no plantão acrescentadas ao trabalho de tão longas viagens, obrigaram-nos a ceder ao incorrupto desejo da recolha ainda o quarteto escocês semeava com resiliência o psicadelismo, fazendo mostrar, aos muitos que ainda a tinham capacidade e o ânimo, a força da mistura de Magic Beans & Buckfast, e a plasticidade de que são feitos os melhores artistas.

 

Elder
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Chegava o dia dos veteranos. Com os tímpanos ainda a convalescer da amplitude acústica do dia anterior, e ainda antes do calor se assenhorear atrevidamente das tendas, o plano da piscina estava traçado. Houve que atender a outras tarefas no entanto e à chegada do Centro Cultural, já o uivar monótono dos lisboetas Löbo se ouvia, para trás ficando as actuação dos portuenses Ana Paris, de regresso a Moledo, e dos mexicanos Vinum Sabbati.

Sem espaço na relva para acomodar sequer uma sardinha a mais, e havendo sido conquistadas todas as poucas sombras do espaço, só a água da piscina e as bebidas restavam como refúgio. Sinónimo daquela tarde de sábado, a febre embriagava os sóbrios, e fazia agora as honras aos Blaak Heat que de agravo, nos fizeram chegar durante uma merecida hora, as cálidas paisagens e os transpirantes delírios do deserto. O concerto que lhes sucedia viria, porém, a protagonizar um dos momentos mais inflamáveis desta edição. De Antuérpia a Moledo, o percurso foi sinuoso e os Toxic Shock não conseguiram evitar o despiste levando as bancadas ao rubro pela imprudência já característica. Injúrias, voos e invasões, num concerto barulhento que teve tudo quanto pode conter.

De volta à estrada, o rock and roll dos holandeses Death Alley, companhia exemplar de curtas e longas viagens, castigou a preguiça das últimas figuras estendidas na relva. A energia e o desembaraço contagiantes de Douwe Truijens, e os ora tónicos ora melódicos solos de guitarra de “Black Magick Boogieland” ou “Supernatural Predator”, levantaram e agitaram a sessão que recalcitrante foi obrigada a terminar mais cedo. Já tinham soado as sete badaladas da tarde e os Sasquatch arremessavam os primeiros riffs no Main Stage. Depois de uma passagem pelo Cave 45 em Março do ano passado, o trio californiano regressou aos ares lusitanos para mais uma actuação de assistência obrigatória a qualquer bom fã de heavy stoner - arranhado, libertino e autêntico.

À custa de muita porfia era enfim altura de acorrer às mundanas necessidades do corpo e recuperar o fôlego para aquela que seria uma sequência de actuações absolutamente memorável.

 

Vinum Sabbati

Death Alley
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Cediam a passada os holandeses The Machine e com eles os últimos rastos de luz. Em sua vez, a penumbra fazia-nos a reféns a cargo dos californianos Acid King. À mais de duas décadas na estrada e com uma única passagem por Portugal em 2015, a performance foi acompanhada por uma mancha de gente em evidente estado ascético, e parte na qual tomavam os The Great Machine com quem haviam partilhado palco dias antes em Tel Aviv. Durante uma exaustiva hora de hipnose, dilatada  pelos riffs repetitivos e demorados dos seus temas, o trio liderado por Lori S. projectou a sua sombra acre e tortuosa e reconstruiu ao vivo o ambiente de perturbação característico dos trabalhos de estúdio.

Induzidos num coma cárus infernal, o higiénico e ritual armar e desarmar de instrumentos preparava-nos para um despertar genuinamente divino. “As portas da percepção” abriam-se e os excelsos guardiões do stoner psicadélico, Colour Haze, eram quem nos recebiam. Por motivos que facilmente se intuem, não fosse esta uma estreia absoluta em Portugal de uma das bandas mais maduras e influentes do género, chegava por fim um dos momentos mais aguardados desta sétima edição do Sonic Blast. Seguindo a clássica composição dos power-trios, Koglek, Rasthofer e Merwald executaram com impiedoso charme e mestria, carácter e intuição, o concerto mais demoradamente aplaudido do festival. No céu, a Cassiopeia ocupava a dianteira e por curioso e inesperado simbolismo, um corpo luminoso aproximou-se caindo para fazer connosco testemunho vivo do momento. Depois de sucessos como “Aquamaria” ou “She Said”, com “Tempel” fez-se a despedida até um prometido regresso que se espera para breve.

 

Acid King

Colour Haze

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A fasquia estava absurdamente elevada, e sem qualquer réstia de misericórdia os Orange Goblin lançaram a chama de fogo que a haveria de consumir. Dispensando quaisquer apresentações, as linhas sintéticas que lhes são agora dedicadas não suportarão com a devida suficiência a explosividade com que assolaram a enchente de gente que os seguiu.  Quebrando aqueles que tinham sido até então os protocolos, houve direito a encore, e o constante jogo de provocação ao público arrancou a maior manifestação física do festival. A mítica banda londrina não estava com meias medidas e para abrir tirou da bagagem “Blue Snow”, envolvente trilha sonora do álbum Time Travelling Blues, cuja faixa homónima foi ainda interpretada acompanhada por coro de raras dimensões. O carisma de Ben Ward foi figura de estilo numa composição caracterizada pelo seu discurso motivador, eclético e visualmente imponente, concluindo com rasgados elogios ao festival e referindo-se à organização à boa maneira portuguesa, pelo nome.

Antes de cessarem os amplificadores para o after party, e para encerrar definitivamente esta espécie de comemoração anual do nascimento dos Black Sabbath, seguiu-se ainda no Palco Principal o ocultismo dos recém-formados Dead Witches. Numa hora ingrata, e perante uma plateia escoada, recordamos com algum prejuízo e porventura injustiça, uma actuação provocadora à liderança de Virginia Monti.

Finalisamos com a familiar sensação de uma leve apatia por estarmos de volta ao mundo real e, subscrevendo os contínuos louvores dirigidos à organização, a ela propomos um merecido brinde.

À vossa!

Nota: Este autor usa o Antigo Acordo Ortográfico

 

Orange Goblin
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por
em Reportagens
fotografia Bruno Pereira


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