
Depois de duas tentativas falhadas (a primeira, em dezembro de 2015, cancelada devido aos ataques terroristas em Paris, e a segunda, em março do ano corrente, devido a lesão do vocalista), os Eagles of Death Metal veem finalmente consumado o seu regresso a Portugal (sete anos após a sua estreia no antigo Optimus Alive), por ironia do destino, no dia 11 de setembro, precisamente quinze anos após o atentado terrorista ao World Trade Center. Como tal, segurança máxima e revista minuciosa a todos os que entravam Coliseu adentro, gerando uma fila de grandes proporções à porta do recinto. Os carros da polícia também não se esconderam e tanto à entrada como à saída da Rua das Portas de Sto. Antão (rua pedonal) exibiam as suas cores azuis e brancas, gerando um clima denso e algo intimidatório. A iminência de um atentado terrorista estava na cabeça de todos, afinal de contas era a junção dos “anjos da morte” do Bataclán com o dia 11 de setembro num país europeu, havendo sempre a probabilidade de alguém querer repetir a “gracinha”. Felizmente tudo correu de acordo com a normalidade.
Ao entrarmos na sala escutamos Queens Of The Stone Age e Ramones (“I Sat By The Ocean” e “Sheena Is A Punk Rocker”, respetivamente) mas é sobre “Magic”, dos Pilot, que os Eagles Of Death Metal se apresentam e cumprimentam, no sentido literal da palavra, o público português. Jesse Hughes aproveita para trocar apertos-de-mão e beijos com a lateral direita da plateia, ao passo que Dave Catching fazia o mesmo no lado oposto, feito que seria repetido por mais um par de vezes ao longo da atuação.
É com a tradicional pergunta “Are you ready for Rock 'n' Roll?” que o coletivo abre as hostilidades, iniciando uma magnífica “I Only Want You” a condizer com os dois banners expostos ao alto (onde se lia essas mesmas quatro palavras de ordem), na retaguarda do palco, fazendo o trocadilho com o cartaz icónico em que os E.U.A. tentavam recrutar soldados para a primeira guerra mundial, desempenhando agora Jesse Hughes o papel de Uncle Sam. Ao centro, a capa de Zipper Down para que não nos esqueçamos do motivo deste regresso.
Jesse é líder claro e comunicador nato, fazendo-nos lembrar, por vezes, os pastores evangélicos, com tanta pregação feita, contando histórias (das quais destacamos a encarnação de Matt McJunkins, baixista que anteriormente era uma estátua e foi transformado num excelente músico, e a que envolve clínicas de reabilitação e uma jeitosa psiquiatra portuguesa), movimentando-se de um lado para o outro do palco, mexendo-se freneticamente sem ter medo de encarar o seu público, lançando-lhes reptos frequentes e alguns piropos ao sexo feminino. Pelo meio, a música atiçava a plateia e Hughes interpretava-a com o mesmo feeling com que nos contava as suas histórias de vida.
“Can you feel this shit?” questiona Jesse antes de “Whorehoppin' (Shit Goddamn)”, seguindo-se o primeiro cover da noite: “Complexity” dos Boots Electric, referidos por Jesse como “uma banda da qual gostamos muito”. Os outros covers recaíram sobre os Duran Duran (com uma “Save A Prayer” menos baladeira e bem mais rockeira) e sobre uma “Moonage Daydream” de David Bowie. Esta última foi a primeira do encore mais demorado que presenciámos na nossa vida (5 minutos de espera), onde o vocalista regressa a palco de casaco laranja envergado (puro 80s) onde se podia ler um “Bowie” estilizado na sua parte traseira, envergando-o orgulhosamente até ao final da canção.
Em termos de reportório, este foi um concerto curto: catorze músicas, sendo que três delas foram covers e ao fim de uma hora exata, a banda já saía de palco antecedendo um encore. Pouco antes, o pedal da bateria havia-se partido, tal era a descarga enérgica. “Cherry Cola” liberta o público da sua energia acumulada e dá o mote para o início do primeiro mosh pit do concerto. Tardou mas chegou para nunca mais parar.
“Wannabe In L.A.” arrasa a audiência, não antes de mais um discurso do vocalista sobre como adoram Lisboa, afirmando que estão onde queriam estar: ali mesmo! Historietas à parte, mais uma sessão de cantoria em plenos pulmões dentro de um Coliseu mais do que preparado para receber a injeção rock destes Eagles Of Death Metal. “Speaking In Tongues”, aqui numa versão alargada e introduzida por uns versos de “Hey Mickey” de Toni Basil, leva Jesse Hughes, de guitarra na mão, ao camarote presidencial e dá aso aos mais estapafúrdios (num ponto divertido) solos que ouvimos este ano, culminando numa jam de baixo e bateria em que foi interpretada a introdução de “The Final Countdown”, dos Europe, antes da restante comandita regressar ao palco e dar por terminado o show.
O quinteto, à boa maneira americana, não se limitou a tocar música: utilizou a sua música como base para proporcionar um espetáculo de puro entretenimento, onde o padre (Jesse Hughes) pregou durante hora e meia e fechou a missa deixando claro que “nada pode parar o Rock 'N' Roll!”, essa religião que fez com que milhares de pessoas saíssem dos seus lares na noite de Domingo. É caso para dizer que o rock venceu o medo.