Efrim Manuel Menuck, conhecido pelo trabalho desenvolvido com os Godspeed You! Black Emperor e A Silver Mt. Zion, passou no último domingo pelo Passos Manuel, em mais uma noite com a assinatura da Amplificasom. Tendo o aclamado Pissing Stars na bagagem, e contando com a companhia em palco de Kevin Doria (Growing, Hiss Tracts), o artista canadiano proporcionou uma soberba viagem pelo universo musical que cria a solo, esculpindo esculturas sonoras à base de melodias etéreas envoltas em densas camadas de distorção electrónica, numa prova de como o experimentalismo noise pode soar tão belo quanto ensurdecedor.
Acima de tudo, pode ser transcendental – e foi precisamente o que aconteceu nesta noite: enquanto os nossos corpos permaneciam sentados nas cadeiras do auditório, as nossas mentes viajavam pelos lugares que o ambicioso músico de Montreal nos convidava a visitar – locais por vezes sombrios, mas sempre dotados de um inexplicável encanto. A própria sala onde nos encontrávamos – escura e intimista – melhorou uma experiência já por si maravilhosa, tornando-a mais poderosa do que teria certamente sido noutro local. Neste mítico espaço portuense – casa de alguns dos mais memoráveis eventos da Amplificasom – pudemos sentir na pele a frágil e emotiva voz de Efrim numa eterna batalha com o registo maquinal da componente instrumental, como se ambos os mundos se complementassem. Na verdade, por muita maquinaria que tenha sido usada, a música de Efrim funciona, sem dúvida alguma, como um fértil campo de exploração emocional. É música que nos invade o corpo, que nos arrepia, que tem um efeito catártico - arte que encanta ao mesmo tempo que desafia. Quando o serão chegou ao fim, tudo o que tínhamos acabado de viver parecia um sonho, mas não, foi bem real… e encantador.