
Envoltos entre várias histórias e mitos, os Eyehategod regressam a Portugal para a última data daquela que se supõe ser a última tour Europeia, após três meses intensos bem visíveis na cara dos músicos.
Mas antes do prato principal do dia ainda se serviram os aperitivos. E que aperitivos!
Crossed Fire, banda recente do Algarve, subiram ao palco pouco passavam das 21h40, debitando o seu rock furioso com traços de stoner para o pouco público presente. Apesar dos concertos decorrerem num sábado quente e a horas, ditas decentes, a afluência do público aos primeiros concertos foi sempre em menor número do que aquela que assistiu à banda de Nova Orleães. Se era expectável? Sim, era. Pois é o que acontece em quase todos os concertos, agora compreensível? Nem por isso... pelo menos no nosso ponto de vista.
No final, os Crossed Fire acabaram a tocar
para pouco mais de 30 pessoas. À exceção dos fotógrafos e de duas almas que se encontravam ao centro da plateia, as outras permaneciam recatadas atrás, encostadas ao bar, e nem os sucessivos pedidos por parte do vocalista da banda (David Rosa) para se chegarem à frente e curtirem um pouco mais bastaram para que o público lhes fizesse a vontade.
Ao longo do concerto, o quarteto mostrou-se orgulhoso das suas origens realçando o facto de serem algarvios e demonstrando-o com o pedido de uma salva de palmas para o Reino dos Algarves. A banda ciente de que a maioria do público esperava ansiosamente pelos Eyehategod, seguiu com o seu trabalho, fechando o alinhamento com “Got The Medicine”, que agitou algumas cabeças (e mãos) no recinto.
Já com uma plateia mais bem composta, a furiosa Besta, entra, sem prestar grandes declarações, e destrói tudo em seu redor. Músicas geralmente de 1 minuto, super rápidas com blast beats à mistura, juntamente a uma voz que espalhava terror em todas as direções possíveis. Foi o suficiente para se soltarem os primeiros headbangs da noite.
Percorrendo ambos os LPs e mais alguns EPs e splits, foram quase 30 as músicas que devastaram por completo a audiência. A Besta chegou tão depressa como saiu, deixando no ar um total caos auditivo. Um ataque súbito que resultou em cheio!
Chegou a hora! Os Eyehategod já se encontram em palco e preparam-se para iniciar cerca de 1h30 de concerto nonstop. Após o clássico “We're Eyehategod and we came from New Orleans, Louisiana” dito na voz de Mike Williams, pois claro, e os típicos feedbacks da banda: “Agitation! Propaganda!” extrai o espírito punk de todos os presentes e depressa se inicia um moshpit. Não haveria de durar muito tempo, é certo: nem todas as músicas dos Eyehategod são tão rápidas como esta mas naquelas em que a rapidez proporcionava a ação, havia festa da certa.
À quarta música entendemos o porquê de dizerem que esta será a última tour da banda: Mike encontra-se visivelmente alterado devido a substâncias químicas, supomos. Em "Sisterfucker", o vocalista brinca ainda com o técnico de som, dizendo “the soundman is great haha”, não entendemos se foi uma piada ou um elogio. Seguem-se “Zero Nowhere” e “Dixie Whiskey”, ambas resgatadas de Dopesick, talvez o disco que mais define a sonoridade destes norte-americanos. O malhão “Take As Needed For Pain” veio logo a seguir. Escusado será dizer que o headbang foi o prato do dia: não faltou em nenhuma música. Alguns corajosos aventuravam-se inclusive em cantar imitando a voz do próprio Mike.
Por entre um dos seus muitos devaneios ao longo do concerto, ouvimos Mike proferir a frase “Lucifer has my soul”. Não duvidamos. “Framed To The Wall” ressuscitou o moshpit que já acontecera por diversas vezes e que se manteve durante “White Nigger”. Por esta altura, já toda a gente na sala se tinha rendido à genialidade sonora destes Eyehategod. Olhávamos em redor e percebíamos que havia mais pessoas com os olhos fechados que com eles abertos. A viagem estava no seu auge.
Após algumas palavras e perante um corpo bamboleante observamos Mike acertando com o tripé do microfone várias vezes na sua própria cabeça para, logo de seguida, se pendurar nele e soltar a sua voz abrasiva nas músicas que ainda restavam. “Run It Into The Ground” (numa versão aumentada), tirada de In The Name Of Suffering (o primeiro disco da banda) concluiu de vez com o concerto que já chegara à hora e meia de duração.
Não houve tempo para encore, houve sim para uma troca de palavras e uns apertos-de-mão com os fãs das primeiras filas que perdoaram bem aquele “Gracias” a meio do concerto. De louvar também a força do guitarrista Jimmy Bower em ter permanecido em pé quase o concerto inteiro apesar de sofrer de dor ciática e de ser visível o seu “sofrimento” nas partes em que permanecia encostado ao amplificador.
Não há muito mais a dizer sobre este excelente momento que nos foi proporcionado por estes gigantes do Sludge. Resta-nos agradecer à Amazing Events pela oportunidade e esperar que a banda “atine” e decida provar que os rumores são falsos e que daqui a uns anos volte à estrada, quiçá com um álbum novo. Os feedbacks ainda permanecem nos nossos tímpanos.