O segundo dia do Festival para Gente Sentada ocorreu no Sábado, dia 18 de Novembro, e depois do concerto maravilhoso na noite anterior de Perfume Genius, o público já estava desejosos por mais.
O Theatro Circo abriu assim as suas portas com o que prometia ser um boom de energia, mas que no final se tornou uma das coisas mais enfadonhas que vimos este ano: Capitão Fausto. Domingos, Francisco, Manuel, Salvador e Tomás desde o início que estão habituados a ser levados ao colo pela imprensa nacional, que prontamente os apelidou dos Tame Impala de Portugal, no entanto, estes cada vez mais se aproximam de serem os Tame Impala do Canal Panda. Independentemente das opiniões, o que se passou em Braga foi um dos exercícios de maior egocentrismo que há memória. Desde logo o conceito, que os apresentava quase como se fossem um nome incontornável da música. O semi-concerto, semi-exibição cinematográfica, total falta de noção, intercalava partes do documentário Pontas Soltas de Ricardo Oliveira, onde é retratado as gravações de Capitão Fausto Têm os Dias Contados, com interpretações de músicas do mesmo álbum. Não nos cabe a nós comentar a qualidade do documentário, mas o concebido simplesmente não funcionou para ninguém: o público, bem mais adulto do que os Lisboetas estão acostumados, não reagiu, e a banda aparentava amorfo por todo o lado. Geralmente associamos os Capitão Fausto a diversão e energia, mas tudo aquilo foi simplesmente aborrecido, sendo o único elemento de irreverência o fato branco à gringo americano que vai de férias a Cuba que Tomás Wallenstein envergava (uma analogia a um vestido de noiva poderia implicar uma sensação de algo positivo. Não era o caso.)
No entanto o vergonha alheia que sentimos pela banda Portuguesa não parou aqui: Depois de todo aquele aparato, sobe ao palco Julien Baker. Apenas uma guitarra e um teclado, sem aparato, vestida de forma super casual, como quem vai ali ao lado comprar pão para o pequeno-almoço, e uma presença e magia que encantou todo o Theatro Circo. Miudinha, e com um ar tímido, ninguém consegue adivinhar pelo olhar o imenso poderio da sua voz, que se encontra cada vez mais no ponto. Entre o álbum de estreia de 2015, e este Turn Out the Lights a evolução é notória, e ao vivo, a cantora americana consegue provar que é uma das poucas artistas que consegue transformar meras experiências do quotidiano em algo deliciosamente poético. A abertura fez-se ao som de “Appointments” e durante uma hora ficamos presos na teia de intimismo que fora criada naquela sala. Envergonhada para uns, encantadora para outros, conseguiu criar um elo com quem a assistia, e entre risinhos e palavras, em cabisbaixo lá ia conversando e brincando com a assistência. Alguém muito sortudo recebeu uma dica para um possível date com a artista. Logo de seguida atira-se para “Everybody Does” e o ecoar das suas palavras enche cada canto do espaço, e cada nervo sensorial do nosso corpo. É a alimentar-nos a alma e o coração que passa para as teclas em “Televangelist” e a magia continua a acontecer. Alguém na assistência gritara por “Something” e Baker prometeu que eventualmente a iria tocar, algo que foi deixado mesmo para o final, o derradeiro cavaco na fogueira de emoções de onde todos fazíamos parte. Assim finalizava mais um maravilhoso concerto, que acabara de uma forma, que para nós soou demasiado abrupta naquela atmosfera de calma que se havia instaurado.
No entanto, a noite pedia algo mais mexido e energético, e só depois do doce melodramatismo de Luís Severo, já no GNRation, é que podemos, aliás, fomos forçados a mexer o nosso corpo. Moullinex tem novo trabalho, e com Ghettoven a fazer de cicerone, Hypersex ganhou vida - a extravagância com que dançava, cantava, fazia lip sync e sincronizava o seu corpo com a batida electro-disco era hipnotizante - e colocou todo o público apinhado na BlackBox a dançar freneticamente. A festa continuou depois num djset tropical, entre o MPB e uma temporada de “Narcos”. A surpreender pelas selecções mirabolantes que iam de Meridian Brothers a Elza Soares, confraternizações foram feitas nos passos de dança incessantes, que culminaram e terminaram num canto colectivo ao som dos dois maiores sucessos de Nelson Ned.
Depois de dois dias, custou deixar Braga, e só podemos esperar para o próximo ano para ver e viver um outro tipo de festa única que só o Festival para Gente Sentada sabe proporcionar.