O fim-de-semana é sempre bem-vindo e, quando se começa com um brinde de música ao vivo numa sexta-feira à noite, melhor ainda. O frio percorria as ruas do Porto e havia que procurar o melhor sítio para aquecer o corpo e a alma. Nada tão ideal como um autêntico braseiro elétrico e uma noitada de concertos na cidade Invicta. Apesar da noite gélida, nada impediu uma sala bem composta no Maus Hábitos para receber os Fugly, que iriam apresentar oficialmente o seu novo disco, Millennial Shit.
Parecendo adivinhar as nossas pretensões, os Fugly arrancaram imediatamente a grande velocidade com “Hit a Wall”, tema de abertura do disco, mostrando desde logo ao que vinham. Durante toda a atuação, a banda portuense manteve a electricidade nos píncaros e revelou uma contagiante boa disposição, bem como uma atitude e intensidade bem punk que combina na perfeição com o seu som garage rock temperado de noise na dose certa. O público, esse, não se mostrava à altura do que se passava em palco, demorando um pouco a acordar. Só aquando a chegada de “Take You Home Tonight”, a malha mais radio friendly do disco, se começou a ver algum entusiasmo, que a partir daqui cresceu gradualmente ao longo do resto do concerto. A isto muito ajudou a energia do frontman Pedro Feito, que para além de constantes brincadeiras com os seus colegas em palco, se aventurava também em crowdsurf pelo meio da plateia, puxando assim pelas pessoas que não temiam aproximar-se do palco.
Pedro Feio é o mentor deste projeto mas, ainda assim, soube rodear-se de excelentes músicos. Em qualquer banda, a diferença é abismal entre ter um bom ou apenas um razoável baterista, estando neste capítulo mais que salvaguardados com um autêntico “animal” das baquetas: Gil Costa, um catalisador constante na dinâmica dos Fugly. Mas é o baixista que mais se destaca e diferencia pela positiva o som desta banda de muitas outras do mesmo segmento. Rafael Silver metralha notas de baixo a uma tal velocidade e potência que é capaz de deixar em vergonha muito bom baixista de thrash metal. E neste concerto fez com o baixo aquilo que no fundo se pretende e poucas vezes se obtém, fazer o chão tremer a cada nota emanada.
E a ausência deste elemento diferenciador nota-se imenso, por exemplo, nos El Señor, banda que fez a primeira parte esta noite. Estes mostraram um som demasiadamente despido em que, pior que a falta de um baixo pujante, era mesmo a total ausência de fuzz e reverberação na guitarra. Estes sim, totalmente monótonos e desinteressantes. Dão a ideia de ainda se encontrarem em fluidez de identidade, sem se decidirem se querem seguir um caminho indie rock lo-fi que morreu na década passada ou se seguem as pisadas do garage, não conseguindo ter a atitude e energia necessária para tal.
Pelo contrário, os Fugly sabem bem quem são e o que querem, têm um som cada vez mais consolidado e executam as suas ideias com uma enorme qualidade e determinação. Numa altura em que não aparecem propostas nacionais em quantidade e qualidade como há um punhado de anos atrás, os Fugly assumem-se como uma das mais vigorosas do rock, juntamente com os seus amigos Sunflowers que também não faltaram a esta festa.