
Custa acreditar que seja da mesma Baltimore escura e depressiva que vemos em The Wire que saltam dois dos mais excitantes nomes da indie pop actual. Beach House e Future Islands são cada vez mais um porta-estandarte de uma cidade vibrante a nível musical, não só com estes dois projectos assumidamente pop como também com projectos de electrónica como Dan Deacon ou Holy Ghost Party. Falando do que realmente interessa neste momento, os Future Islands nada têm de escuro ou depressivo. A pop solarenga da banda liderada (em todos os sentidos) por Samuel Herring invadiu um Hard Club totalmente esgotado, o que diz muito do crescendo de popularidade que a banda tem tido desde o lançamento do seu primeiro álbum numa major, no caso a editora britânica 4AD, que fez da banda do estado do Maryland companheira de editora de nomes de ponta da cena indie actual como The National, Deerhunter, Bon Iver, Grimes ou tUnE-yArDs.
Em relação a esse mesmo disco, muito poderia ser dito. Mas um dos aspectos cruciais a referir encontra-se logo no seu título: Singles. O álbum lançado em Março último pelos Future Islands é um autêntico conjunto de músicas que noutro qualquer disco seriam um potencial single. Hinos, hinos, hinos e mais hinos despertaram os sentidos de um público adormecido por um concerto morno de abertura de uns Celebration que nem com uma bem-disposta synth-soul conseguiu vingar no palco portuense. Esse carácter antémico da banda norte-americana ficou também bem patente neste concerto no Porto.
Começando com "Give Us The Wind", a pop irresistivelmente dançável dos Future Islands foi aumentando de ritmo com "A Dream Of You And Me" ou "Sun In The Morning", dois dos "singles" do novo disco, até chegarmos a "Balance", momento da primeira apoteose. Por entre músicas de On The Water e In Evening Air, os dois discos que precedem Singles, "A Song For Our Grandfathers" marcou o primeiro momento de maior acalmia e introspecção, liderado, claro está, pelo autêntico animal de palco que é Sam Herring. Num formato voz-baixo-teclados-bateria cada vez menos comum no indie pop actual, os Future Islands são uma das bandas que este ano passaram por Portugal com uma maior coesão entre os membros da banda e os sons de cada instrumento. A limpidez com que soam os sintetizadores de Gerrit Welmers a juntar ao ridiculamente imaculado baixo (e bigode) de William Cashion, combinam na perfeição com a voz fora do vulgar de Sam Herring e com a batida acelerada imposta por Michael Lowry.
O concerto teve mais um dos seus grandes momentos quando irrompeu pelo sistema de som do Hard Club a fantástica "Seasons (Waiting On You)". É uma das canções que marcou este ano a nível musical, quanto mais não seja pela performance surpreendente da banda perante milhões de espectadores no Letterman Show, mas, amigos, esqueçam o YouTube: esta é mais uma das malhas que, interpretada da forma mais fiel possível em relação ao álbum, ganha uma força incrível num formato ao vivo. O concerto caminhava a passos (de dança) largos para o seu final. Ao olhar em volta, era bem notório que o espírito revivalista da banda tinha influenciado o tipo de público que estaria no Hard Club: média de idades nos late-twenties ou talvez mesmo thirties para cima, o que revela que, sim, ainda há muita gente com saudades dos anos 80. E, arrisco dizer, ainda bem que assim é.
Por fim, o encore teve em "Fall From Grace" e nos vocais mais agressivos vindos das profundezas de Sam Herring, mais um grande momento. A presença em palco do vocalista e letrista dos Future Islands faz com que qualquer concerto da banda se torne numa verdadeira once-in-a-lifetime experience. "Vireo's Eye", com o baixo em destaque, terminou um concerto fisicamente extenuante como poucos, mas nunca no mau sentido. E mesmo numa altura em que os revivalismos aparecem com cada vez mais frequência, resta-nos dizer que poucos o fazem tão bem como os Future Islands. Um dos grandes concertos do ano.