No dia 23 de junho, véspera de S. João, aguardava-se por um dos concertos mais esperados do ano. A estreia de uma grande referência do post-hardcore americano, Glassjaw. Uma noite que prometia uma reunião de um público tão diverso como expectante por esta visita. Mesmo calhando a um domingo, o Lisboa Ao Vivo preencheu-se, e de que forma, com caras sorridentes e um muito amigável ambiente onde o reencontro de caras familiares pareceu ser um panorama recorrente. É inegável o impacto que Glassjaw tiveram em tantas adolescências presentes na sala, mas se isso não bastar, observem-se as bandas de abertura, Algumacena e Ash Is A Robot, a prevalecer com uma jovialidade inegável e uma recusa incessante a baixar os braços nesta festa.
A dupla de Algumacena, composta por Alex d’Alva Teixeira e Ricardo Martins, ergueu alguns dos ânimos que já povoavam a sala. Ditando as boas-vindas com um emocore dissonante e ruídoso, o duo conseguiu tomar algum proveito de um som de sala algo embrulhado e confuso, para imprimir e pressurizar crueza e emoção. Mesmo com tão poucos em palco, o som parece crescer em conformidade com a própria entrega. A receção calorosa brindou-se com um culminar de energia tão gritante e fulgurante, que se viu a intensidade a abater um prato da bateria. Aplausos merecidíssimos. Seguiram-se os sadinos Ash Is A Robot, e mesmo notando algum cansaço, um som de sala ainda embrulhado e alguma frustração com o strap do baixo, não houve nada que impedisse a habitual energia e espírito caótico de pavimentar a já composta sala Lisboeta. Com uma ânsia para ver mais algum movimento do público, Claúdio persistiu em quebrar barreiras e distâncias ao integrar o público. Louvem-se gestos como este.
Algumacena e Ash Is A Robot
Até à chegada dos oriundos de Long Island, viu-se a sala a condensar cada vez mais à frente do palco, cada vez mais ansiosa pela aparição da familiar e algo esperançosa boa disposição de Daryl Palumbo. Com uma cara sorridente, Super Bock na mão e na maior descontração, pede que as luzes se apaguem e que o fundo fique escuro, haja espaço e muito amor pelo que Glassjaw entregou logo a seguir. Abrindo com “Cut and Run”, faixa de fecho do mais recente disco, viu-se o público a reagir de imediato a um som encorpado, denso e nada pacifista. Livrando primeiro uma grande porção de clássicos do muito elevado disco Worship and Tribute, como “Tip Your Bartender”, “Pink Roses”, “Ape Dos Mil”, “Two Tabs of Mescaline” e tantas outras, assistiu-se, ao longo destas, a uma reação ensurdecedora e quase íntima do público a ressoar as letras de pulmões abertos. Grande parte do alinhamento dividiu-se entre o segundo e o mais recente disco da banda, não havendo quaisquer motivos para ignorar as mais rejuvenescidas contribuições de Material Control. Mesmo com a sonoridade da sala a mostrar ainda algum atrito com um lamaçal de volumes e balanços entre guitarras e voz, a banda ainda se sucumbiu a alguns problemas técnicos ao longo do espetáculo.
Ao fim do concerto, terminando ao som da “Siberian Kiss”, não houve carência de reação, carinho, nem louvor. Todo o legado que Glassjaw têm propagado até aos dias de hoje cimentou-se de forma imponente e querida diante de um LAV bem composto e bem entregue à nostalgia e à felicidade dos presentes envolvidos. Há que notar, no entanto, que se existem problemas de som há que os resolver e não deixá-los persistir até à última banda da noite. De uma forma ou de outra, o bolo sonoro fez-se sentir como uma comichão incansável e permaneceu até à última música da noite.
Glassjaw