Foi na noite enevoada e parcialmente chuvosa de sexta-feira, 22 de janeiro, que José Camilo decidiu apresentar pela primeira vez, ao vivo, a maior parte dos temas de Obra Camiliana, o seu segundo longa-duração, ainda sem data de lançamento previsto. O bar Popular Alvalade foi o local escolhido.
Reparamos no ambiente descontraído que por ali se vive, com a banda sentada, toda junta, numa mesa defronte à entrada da sala, falando e, possivelmente, limando as últimas arestas do espectáculo que aconteceria pouco tempo depois. A sala, ainda despida, enchia-se de amigos e desconhecidos: o preço era convidativo, apesar de o dia não o ser. Nada que comprometesse verdadeiramente aquilo que viríamos a assistir pouco depois das 22h30.
José Camilo sobe ao palco junto com os seus Cúmplices para logo interpretar “Eu Penso, Eu Acho, Eu Sei” e “Cala-te E Sangra”, dois temas presentes no seu futuro registo discográfico, tal como a maioria daquilo que foi tocado hoje, para só depois se apresentar e dirigir-se ao público, sempre com a sua postura de stand-up comedian: mão no tripé, corpo balbuciante e microfone junto à boca pronto a soltar a “punchline” e partir para a próxima canção.
O single “Sangram Os Dias”, já disponível e divulgado em todas as plataformas digitais, foi tocado de seguida, seguido pela primeira incursão a 24h No Subúrbio em “Luz Em Mim”. E é aqui que se percebe a diferença entre Obra Camiliana e o anterior disco. As novas canções de José Camilo estão bastante mais rápidas e mais assertivas, transpondo um sentimento de raiva quase punk.
Já na reta final do concerto somos surpreendidos por uma versão de “Queluz Está A Arder”, original de Guel, Guillul & O Comboio Fantasma, descrita como uma canção punk (“não no início que começa calminho, mas mais lá para o meio”) que o remete para os seus tempos de adolescência, quando ia a concertos do género em Queluz (“uma zona não muito exótica”). Com o “build up” da canção a acontecer, o cantor salta do palco, subindo para um banco que se encontrava na sala enquanto interpreta o segundo verso da canção da forma mais enérgica possível, tentando cativar e acordar o público que permanecia, maioritariamente, sentado nos bancos da sala. O público estranhou, poucos conheciam a versão original, mas os sorrisos e as palmas foram notórias após o término da música.
“Homicídio” e “Deus É Um Grande Cinéfilo”, já clássicos, terminaram em beleza este concerto de pré-apresentação do novo disco.
Foram cerca de 50 minutos de descoberta, tanto nossa como dos músicos, que aproveitaram para testar as canções ao vivo e analisar a reacção do público às mesmas. Um bom regresso às prestações ao vivo, servindo assim para saciar os mais de dois anos de espera. O público ficou satisfeito, nós também. Agora que venha o álbum!