
“I saw the best minds of my generation destroyed by madness, starving hysterical naked, / dragging themselves through the negro streets at dawn looking for an angry fix, / angelheaded hipsters burning for the ancient heavenly connection to the starry dynamo in the machinery of night, / who poverty and tatters and hollow-eyed and high sat up smoking in the supernatural darkness of cold-water flats floating across the tops of cities contemplating jazz (…)”
Desde o lançamento de The Epic, o nome de Kamasi Washington foi catapultado para as bocas do mundo: este álbum de 2015 conquistou não só os fãs como a critica, que considera este como a reinvenção do jazz tal como assistimos no passado a uma reinvenção da poesia americana por Ginsberg. Até nos podemos conter nos elogios, mas não há forma de negar que a música de Washington chega a tudo e todos, unindo pessoas de várias gerações a uma só causa. Kamasi Washington chegou à Casa da Música apoiado na peculiar bengala, trajes africanos e umas Adidas Superstar douradas; quase podíamos descrever o seu projeto desta forma sem o querer diminuir a futilidades ou trivialidades: uma base de jazz clássico e de free jazz que já nos corre nas veias como clássico - Sun Ra, Miles Davis, John Coltrane; - mas com um toque de excentricidade, de várias influências desde o gospel, o funk, os blues e o hip hop – de lembrar que Kamasi participou no To Pimp a Butterfly de Kendrick Lamar e que o The Epic contou também com a participação de Thundercat, - sempre munido de um "je ne sais quoi". Foi logo abordado por umas duas ou três dezenas de fãs que o rodearam a pedir autógrafos e fotografias, de caras incrédulas e as mãos a tremer, apetrechadas de vinil ou câmaras fotográficas.
21h, Sala Suggia. O concerto arrancou com “Change of the Guard” e foi logo na terceira faixa, "Henrietta Our Hero", que se viveu um dos pontos mais altos e comoventes da noite: para além de ser uma faixa dedicada à avó, Kamasi chamou o pai Rickey Washington ao palco para tocar um solo emotivo, apenas ultrapassado pela voz fenomenal e cheia de soul de Patrice Quinn. Para além de passar por The Epic, Washington apresentou uma faixa nova “Abraham” escrita por Miles Mosley (contrabaixo) e ainda cedeu os holofotes aos dois bateristas Ronald Bruner, Jr. e Tony Austin para uma conversa entre baterias que intitulou de “The Talking Drum Set” – um momento que parecia tirado de Whiplash. Já no encore chegou o segundo momento mais alto de um concerto constituído apenas de momentos altos: “The Rythm Changes” arrancou o maior aplauso da noite com um solo soberbo de Kamasi e o seu saxofone tenor.
23h. Presenciamos decerto um dos melhores concertos do ano: balançamos entre esquizofrenia e sensibilidade, entre ficar parados a contemplar o que ouvíamos e a vontade extasiada de dançar, balançamos entre baterias convulsas e vozes transtornadas. Transbordámos de tudo, de nada, de qualquer coisa. Levantamo-nos três vezes para aplaudir de pé e pedimos por mais. Acima de tudo sabemos que um bom concerto é bom quando estamos duas horas fechados e sentados e mesmo assim queremos mais, queremos que se prolongue. Aguardamos o regresso já.