Afinal de contas, o último disco do quinteto foi produzido por um português em Lisboa, mais concretamente por Bruno Pernadas no lendário Valentim de Carvalho. Coube a Tiago de Sousa fazer a mixagem e masterização, e o resultado final é algo de transcendental e bonito. Dito isto, não admira ver uma receção aos japoneses tão calorosa como esta. Na verdade, com esta sala a ser preenchida com toda a facilidade (duas vezes), está na altura de mobilizar o grupo para salas maiores. Fica a dica para a ZdB. Quanto à banda, esta teve direito a uma sala cheia a aplaudir o seu som em êxtase absoluto. Essa é uma palavra que surge frequentemente quando Kikagaku Moyo toca ao vivo. A energia deste grupo transcende qualquer senso de banalidade. Aspetos como o espetáculo, o exibicionismo e a atitude de superstars recaem como brutalmente secundários. Para eles, isso significa zero. A banda encontra o seu cerne e perfeita harmonia através da melodia, do ritmo, da expansão e de uma mútua procura entre músico e público, ao clímax total.
A primeira parte do concerto foi totalmente composta por registros do House In The Tall Grass, onde a sala se viu totalmente entregue ao groove floral do Japão. A presença mágica da sitar de Ryu banha o público com um espectro sónico refrescante e transportador. Tanto a “Green Sugar”, “Kogarashi” ou até em formato de rendição acústica na “Cardigan Song”, não há um instante que esta banda não consiga elevar cada um dos ouvintes presentes. O passo da dança foi progressivamente surgindo à superfície, com um estado de presença despido do conceito de passado e presente, onde o momento atual está em foco e desfoco sonante para com este ritual. A “Entrance” ditou a muito aguardada apresentação do Masana Temples. Toda a dinâmica, textura e vivacidade da melodia encarnou de forma tão justa e surpreendente com o desenvolvimento da “Gatherings” e “Nazo Nazo”, mas foi na “Dripping Sun”, uma das faixas mais bem conseguidas do último álbum, que a noite se pintou com o inigualável charme deste grupo. Momento da noite, sem tirar nem pôr.
A vibe nostálgica dos 70’s, mais o compasso algo acelerado cobram a tela com uma combinação de movimentos equilibrada mas apaixonantemente excêntrica. A tonalidade geral da sonoridade lembra uma miríade de cenários de filmes, tão coloridos pela candura humana, que quase despe qualquer ouvinte por consequência direta. Ninguém quer descartar o momento e o maior receio recai no término de tudo isto. Com alguma esperança, ainda cá voltam, para mais uma vez, fazerem tudo isto parecer um sonho. É como se fosse.
ありがとう
Obrigado

Fotografia da autoria de Vera Marmelo, gentilmente cedida pela própria e pela Galeria Zé dos Bois.