Há duas ideias-chave a reter do concerto dos Knower, que certamente impingiu o público a aparecer no Hard Club e que são um motivo de infelicidade para quem não os conhece: 1 - eles não se levam a sério. 2 - têm um dos melhores grooves que ouvimos este ano, que entra na pele e chocalha o corpo.
As duas tornam-se evidentes logo no início. Louis Cole, baterista e um dos mentores, põe-se de braços estendidos como uma estrela enquanto o resto da banda se prepara. No final da gag, arrancam com "Time Traveler". O primeiro estalo é o da bateria: absolutamente selvagem. Parece que está a ser tocada num estúdio ao nosso lado. Juntam-se sintetizadores ritmados, uma escala a subir em expectativa, o acompanhamento matador de Sam Wilkes (este baixista é um concerto só por si!) e a voz de Genevieve Artadi. A única falha a apontar é o facto desta estar baixa em alguns momentos, engolida pela força do instrumental, mas não ao ponto de comprometer o espectáculo.
Durante uma parte substancial do set, esta sensação física, impregnada no público, bastou por si, como nos momentos endémicos / EDMicos de "Butts T**s Money" e "Lose My Mind". Mesmo nas “slow songs” (palavras de Louis Cole) assistimos a esta espantosa transformação da electrónica do álbum (Life) numa música palpável, interativa, como em "Hanging On", com a voz da vocalista a encontrar-se com a da audiência.
A música falou muito por si, mas não o suficiente pelos Knower, que parecem ter a necessidade de se expressar de outras formas. O solo do baterista fez-lo levantar-se e atirar a baqueta para um prato a 4 metros de distância; numa performance sem banda, por cima de um conjunto de loops, ele canta e experimenta um falsetto longe do seu registo; na intervenção para apresentar os músicos o segundo teclista faz malabarismo com maçãs. No clímax desta disposição houve uma coreografia de Genevieve e Louis, síncronos no centro do palco, num momento de delícia pop.
O “não levar a sério” dos Knower, independentemente do fundamento, é sério. Torna ativamente o concerto numa oportunidade de brincadeira, e reflete-se no à vontade do público, que não precisa de ser puxado para interagir. A única frase que a vocalista sabia dizer em português, uma obscenidade, foi pedida em repetição.
Ainda desconhecidos por estas bandas, não impediu que não se sentissem em casa (outra vez, palavras de L. Cole). A prestação foi uma partilha, que terminou com os músicos na plateia a conversar com a audiência que se deixou ficar. Antes disso ainda ouvimos o hit "Overtime", onde os ingredientes musicais dos Knower são misturados com a máxima eficácia. No encore que se seguiu ("One Hope") ainda tínhamos o corpo a recuperar.
Os Knower deram-nos uma bomba de energia e, enquanto se divertiam, um grande, grande concerto.