O Kristonfest é já um festival incontornável na agenda habitualmente carregada de maio. Desde há uns anos sediado em Madrid, foi com muita expectativa que decidimos viajar ao encontro da oitava edição do evento. De forma excecional, o festival contou este ano com um dia extra. Da equipa da Wav, só a nossa excelsa fotógrafa pôde estar presente na Sala Mon nesta noite de arranque, por onde passaram Earthless, Mondo Generator e Årabrot. Para sábado estava reservado o dia gordo, com todos os caminhos a levarem à Sala Riviera.
Årabrot, Mondo Generator e Earthless
Pelas imediações, rápido se sentia o ambiente característico de pré-concerto, com centenas de pessoas a “invadir” os bares limítrofes, regando a boa disposição com a típica cerveja. E foi com uma pontualidade imaculada que os Church of the Cosmic Skull se apresentaram em palco, perante uma plateia já bem composta. O que se seguiu foi uma autêntica viagem ao passado. Uma hipnose LSD puramente auditiva, como se de repente tudo se tivesse teletransportado para os anos 70. Sons Hammond, um coro angelical, uma leveza de espírito quase hippie, conseguindo pôr gente a… dançar!
Seguiram-se os minutos mais áridos da noite com Dozer, históricos europeus da cena stoner. Com Tommi Holappa ultimamente focado nos Greenleaf, paira sempre alguma dúvida sobre as condições em que se apresentará uma banda que pouco tem tocado ao vivo. Mas a verdade é que estes nórdicos mostraram uma excelente coesão, tendo em conta todo esse contexto. Tommi Holappa é um espetáculo dentro do próprio espetáculo e os êxitos foram-se sucedendo uns atrás dos outros.
Mas foi com Kadavar que os ânimos começaram realmente a aquecer, ainda que a algum custo. A banda alemã apresentou-se com todo o rigor, atitude e intensidade já habituais, e foram naturalmente fan favourites com “Doomsday Machine” ou “Comeback Life” a causar os primeiros grandes momentos de entusiasmo da noite. O verdadeiro momento mindblowing do concerto, porém, foi com a versão algo estendida de “Purple Sage”. Uma imersão sónica inacreditável, que só não roçou a perfeição porque nos momentos mais sensíveis do tema se conseguiam ouvir as conversetas, ao longe, daqueles que não estavam com muito interesse no concerto.
Church of the Cosmic Skull, Dozer e Kadavar
Ainda o palco dos Hellacopters estava a ser montado e já se sentia a tensão no ar. Ao nosso lado ouviu-se: “Nunca os viste ao vivo? Nem imaginas o que está para vir!”. Não podia ter sido melhor prenúncio do autêntico vendaval a que se assistiria logo depois. Mal a banda entra em palco, assiste-se a uma transfiguração total do público, como se até então estivesse tudo a dormir. Por entre momentos puramente punk, com Dregen a saltar e espernear como se não houvesse amanhã, e outros mais Hard Rock FM a fazer lembrar Bon Jovi, em que os singalong se intensificavam, os denominadores comuns são energia, intensidade e pura diversão.
Sem qualquer descanso ou pontos mortos, passagens por temas como “Hopeless Case of a Kid in Denial” e “Carry Me Home” mais a abrir, ou “Toys and Flavours”, acabaram por ser dos momentos mais celebrados da noite. Com a saída de palco da banda após “By The Grace of God”, foi ensurdecedor o pedido de encore, que haveria inevitavelmente de acontecer, pois ainda faltava a essencial “I’m in the Band”, recebida a plenos pulmões por todos. Sendo o nome um belo descritivo do que tinha acontecido até então, ficava para “(Gotta Get Some Action) Now!” a honra de coroar o verdadeiro hino ao rock n’ roll que é um concerto desta banda.
Após uma descarga desta magnitude, e já com o avançar da hora, o esvaziar da sala foi notado sem muitas surpresas. Tal como no futebol, quando se veem pessoas a sair da bancada a escassos minutos do fim do jogo, estes arriscam-se a perder um golo nos descontos. E, passando a analogia, foi o que aconteceu com todos aqueles que perderam Turbowolf. Estes britânicos, liderados por um vocalista que encarnava uma figura freak, como se de uma mistura entre Freddy Mercury e Robert Plant nos seus tempos áureos se tratasse, agarraram por completo a atenção de todos que decidiram arriscar e ficar até ao fim. Na plateia, um misto de espanto e de festa, e a verdade é que esta atuação se revelou uma aposta ganha. Quem é que precisa de DJs?
The Hellacopters e Turbowolf
No Kristonfest há a particularidade rara de ser o público a escolher a ordem de atuações. Uma democracia que ditou um alinhamento mais que acertado, com um crescendo perfeito desde o início até Hellacopters e o fim de festa com Turbowolf. O festival continua a trilhar um caminho de crescimento, cimentando a sua posição no panorama europeu com uma curadoria sempre cuidada. Um dia de festival com ambiente de concerto em nome próprio, destino essencial para qualquer amante de rock e música ao vivo.