Depois de um período mais conturbado com saída de vocalista e baterista, os noruegueses Kvelertak regressam este ano a todo gás com com um novo disco e respetiva digressão. Splid surpreendeu. Traça claramente um novo caminho, bem evidenciado com a abordagem mais punk e hard rock, sem com isso se perder a essência única da banda. A par da lufada de ar fresco que a sua sonoridade representou na última década, os Kvelertak alicerçaram também fama como uma das mais vibrantes e intensas bandas ao vivo, sendo então muita a expectativa de se perceber como esta nova era é transposta para palco. O ponto de encontro escolhido foi Hamburgo na Alemanha, na lindíssima sala Gruenspan (de inspiração industrial), que esgotou por completo para esta noite.
E não foi preciso esperar muito para se escutarem as novas malhas. “Rogaland” abriu o concerto, tal como o disco, seguindo-se uma ordem quase fiel da primeira metade do álbum, apenas com ”Bruane Brenn” e “1985” pelo meio. De imediato também se percebeu que qualquer expectativa quanto à performance de Kvelertak ao vivo seria fielmente confirmada. Um verdadeiro vulcão de energia, que de início ao fim induz um calor infernal e em que a cascata de lava se propaga em forma de crowdsurfers. Explosão que se faz acompanhar por um autêntico furacão de riffs a uma intensidade tal, que varre tudo que aparece à frente. Fica novamente provado que os Kvelertak são das bandas que melhor consegue fluir a energia entre palco e público.
O novo vocalista, Ivar Nikolaisen (já há um ano na banda) integrou-se de uma forma completamente natural na estética destes noruegueses, apesar de um estilo próprio e totalmente distinto do seu antecessor. Trouxe ainda mais irreverência punk e uma atitude absolutamente frenética. É impossível passar uma noite sem se atirar constantemente ao crowdsurf ao longo de um concerto.
A intensidade avassaladora viria apenas a baixar momentaneamente à passagem da dupla mais expansiva “1985” e “Tevling”, e por um problema técnico numa das guitarras que obrigou a uma ligeira paragem. Momento aproveitado para algumas tiradas de humor entre os membros da banda e para o público recuperar um pouco do fôlego, para uma reta final de concerto ainda mais caótica com temas maioritariamente mais antigos. “Blodtørst” e “Mjød” foram celebradas com o maior dos entusiasmos e, de uma ponta à outra da sala, era literalmente impossível vislumbrar-se alguém pregado ao chão. A cada blast beat, mais possuída se mostrava a multidão e mais furioso ficava o moshpit ao centro. O público alemão revela-se sedento por rock e adere ao concerto de uma forma verdadeiramente apaixonada, acabando por se mostrar como ingrediente ideal para compactuar com a energia de Kvelertak.
Ainda se abriria um nova janela a Splid. A viciante “Bråtebrann” foi o tema escolhido para a enorme apoteose aparentemente final. Mas quem já viu Kvelertak sabe que faltaria certamente um encore, pois o ponto final é dado pelo autêntico hino que é “Kvelertak”, faixa tradicionalmente acompanhada pela carismática bandeira a esvoaçar perante o público. É quase impossível que os inconfundíveis riffs deste tema homónimo não fiquem a murmurar na cabeça de qualquer um a caminho de casa. Uma despedida épica de uma banda épica.