No terceiro espetáculo de promoção ao homónimo novo disco, os Linda Martini apresentaram-se perante um Hard Club completamente esgotado, provando que há muito que se tornaram num dos mais acarinhados nomes do panorama nacional - espécie de astros do rock (palavra demasiado abrangente para descrever uma sonoridade tão única, bem o sabemos) que levam multidões ao delírio. Assim foi nesta noite de sexta-feira, assim o seria em qualquer outra noite. Já atingiram um estatuto que lhes permite ter a audiência conquistada mesmo antes de subirem ao palco e sem terem que fazer muito para manter o interesse elevado. Não são mais a banda emergente a tentar singrar no seu ramo, são o grupo consagrado que dá concertos – ouvimos o termo em conversas posteriores – “de banda grande”. Não deixa de ser estranho, para aqueles de nós que acompanharam a sua evolução, observar esse crescimento: sentimos orgulho, mas também somos forçados a lidar com a passagem do tempo: ainda “ontem” eram “putos” de Lisboa, agora já chegaram à idade adulta.
A sala encontrava-se completamente cheia quando o quarteto subiu ao palco ao som de “Semi Tédio dos Prazeres”, deixando desde logo claro que o novo disco ia ser o destaque principal do alinhamento - outra coisa não seria de esperar. Contudo, talvez devido à inevitável falta de rodagem desse material, o concerto foi em certos momentos relativamente morno, como se a adaptação de palco à mais recente criação de estúdio não estivesse ainda concluída. Daqui a uns tempos, no entanto, com certeza que os veremos (ainda) mais coesos. Ainda assim, mesmo nesta fase, ouvir temas como “Gravidade”, “ Boca de Sal”, “ Domingo Desportivo” ou “Se Me Agiganto” constituiu uma experiência bastante agradável, não fosse a novidade que vieram apresentar um dos mais inspirados trabalhos da sua carreira. Todavia, recordar é viver e por isso mesmo músicas mais antigas como “Panteão”, “As Putas Dançam Slows”, “Amor Combate” ou, já no encore, “Cem Metros Sereia” foram igualmente escutadas.
Sentiu-se imenso, ao longo da noite, um espírito de celebração, sobretudo quando o público cantou os parabéns ao baterista Hélio Morais, como se de um velho conhecido se tratasse… e certa forma, não o deixa de ser. Muitos dos presentes tiveram nos Linda Martini uma banda sonora que os acompanhou desde a adolescência até aos dias de hoje, pelo que cada momento junto da banda reveste-se de uma certa familiaridade. O concerto, de certa forma, representou o conceito presente no álbum que acabaram de editar: a ideia de consolidação artística e a vontade de comemorar junto do público esse percurso. Ao longo de hora e meia, brindaram a audiência com uma atuação inegavelmente competente, em que o ambiente se construiu com base nos habituais contrastes que caracterizam a sonoridade do grupo: intensidade e contemplação, doçura e amargura, explosões de energia e explorações melódicas. Chegados ao final, e mesmo com algumas falhas, abandonamos a sala com a sensação de que vimos uma banda orgulhosa do passado e com os olhos postos no futuro, que sabe exatamente o que quer ser e como sê-lo.