
Still here I carry my old delicious burdens, / I carry them, men and women, I carry them with me wherever I go / I swear it is impossible for me to get rid of them, / I am fill'd with them, and I will fill them in return - “Song of the Open Road”, Walt Whitman
Uma onda de nostalgia invadiu o Maus Hábitos no passado sábado, a uma única voz: Elias Bender Rønnenfelt. Sem nunca desprezar os restantes membros dos Marching Church, a figura central da noite foi, sem dúvida, o vocalista de Iceage. As reações à sua voz e à sua presença foram difusas. Se para alguns é irritante, para outros é única e transmite alguma coisa. O quê? Não sabemos, a busca é incessante. No entanto, nem só os tons azuis depressivos da voz de Rønnenfelt desenharam essa noite especial pois uma das partes essenciais destes Marching Church é a sua secção de sopros que, ao vivo, se encontra muito mais presente do que nos registos de estúdio. Ainda que não fossem munidos de uma secção propriamente dita, apenas um trompetista encheu-nos moderadamente as medidas, já que Lisboa teve o privilégio de ter um saxofonista, Pedro Sousa, que vai continuar a tour europeia com os Marching Church.
Se começamos com uma “Calling Out a Name”, com uma pujante bateria e um trompete de fundo que de qualquer forma nos salta ao ouvido e nos remete para o início de uma viagem recheada de esperança faiscante, acabamos com um contraste total com “The Dark End of the Street”, também ela última faixa do álbum This World Is Not Enough, uma cover de uma balada de James Carr. A pujança já não é a mesma, uma decadência apodera-se do espírito, enquanto o trompete dança com a voz de Rønnenfelt, como numa imagética de uma Beat Generation já derrotada que escreve poemas ao som de jazz melancólico, envolta em fumo e rum. Uma geração perdida que não encontrou um fim na sua “quest” tal como Whitman lhes havia prometido. Se para Whitman este mundo é suficiente - The Earth, that is sufficient, / I do not want the constellations any nearer / I know they are very well where they are / I know they suffice for those who belong to them - para Marching Church, este não é nem nunca será um mundo suficiente.
O ponto alto da noite traduziu-se em “Your Father's Eyes”, com um arranjo diferente, com uma presença forte dos sopros e de coros que disfarçaram por momentos a (já um bocadinho repetitiva, já que se encontrava sempre no mesmo registo) voz de Elias. Este que dançava pelo palco perdido noutro qualquer mundo que não este, de certo, remetendo para uma hipnose quase digna de um Ian Curtis, numa câmara lenta potenciada por uma qualquer substância ilícita consumida antes da saída de Rønnenfelt da casa de banho, diretamente para o palco.
O que não foi suficiente, também, foi a afluência do público a uma das melhores “segunda casa” deste Porto, numa noite organizada pela Revolve e aberta pelos portugueses PAPAYA. Estava uma sala meramente composta, talvez pela metade – quem faltou não imagina o que perdeu. Um concerto que supera definitivamente o registo em estúdio.