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Milhões de Festa 2016: "I was in such bliss, my brothers". Parte 2

04 de Agosto, 2016 ReportagensSara Dias

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Milhões de Festa

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Milhões de Festa 2016 – Dia 3 [24Jun] Photo Galleries – Wav
 

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“A perverse nature can be stimulated by anything. Any book can be used as a pornographic instrument, even a great work of literature if the mind that so uses it is off-balance. I once found a small boy masturbating in the presence of the Victorian steel-engraving in a family Bible.”

Prólogo: A agressão como um diamante em bruto. O dia 0   do Milhões de Festa foi essencialmente marcado por dois grupos, na sua essência violentos. Se em Eat the Turnbuckle temos mais agressão física do que propriamente sonora, em Aggrenation encontramos o inverso. Os Eat the Turnbuckle, começaram o concerto de foma descontraída, com samples de palmas e pessoas a entoar “ETT” como na faixa “Human Highlight Reel”, mas foi só mesmo o inicio, assim que o concerto começou o caos da ultra-violência instaurou-se quer nas sonoridades hardcore com punch de heavy metal, quer na sua ligação mais que directa ao wrestling. Não fosse o nome da banda remeter para o canto de um ringue de wrestling (“turnbuckle”) e alguém a comê-lo, o que não é de todo a imagem mais agradável. Demarca-se a ultra-violência, o sangue, a “violence for the sake of violence” e a veneração ao wreastling, já o som, perde-se nisso, parecendo mais música de fundo para toda a algazarra que temos em palco. Logo de seguida, no Palco Taina ainda, levamos um soco sonoro e juvenil de Aggrenation, tirando a parte que de juvenil a banda pouco tinha. Talvez se estivéssemos perante miúdos acabados de atingir a maioridade, teríamos achado mais interessante, mas a maturação da banda ao longo dos anos foi tão nula como o dia 0 do Milhões de Festa. Serviu o propósito: uma banda que toca sem um objetivo para além da diversão através do crust frenético e do caos sonoro, e um dia 0 que serviu de aquecimento para os dias vindouros – e que realmente interessaram – do festival.

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Capitulo I: Um diamante de sangue em lapidação.  Do topo do seu noise rock com influências de sludge, ou vice-versa já que nunca ficamos bem a perceber, os Part Chimp revelaram-se uma das surpresas da noite. Não que esperássemos muito menos, mas sim porque não esperávamos tanto. Com entrega e exímia execução, os Part Chimp encheram o Palco Lovers com uma robustez raramente replicável. De paredes sonoras que quase nos deixaram claustrofóbicos, os riffs distorcidos tanto se arrastavam como aceleravam, numa dinâmica que poucas bandas conseguem alcançar de forma tão harmoniosa – a ironia deste adjetivo quando aplicado aos ingleses Poucas eram as cabeças que não baloiçavam para trás e para a frente num headbanging ora frenético, ora arrastado ao som de uma banda que para alem de robusta, toca alto pa caralho. Outra explosão sonora e de agressividade deu-se dois pares de horas mais tarde, nesse mesmo Palco Lovers: os Ho99o9, ou apenas horror, ocuparam o palco, saltaram para o meio do publico, saltaram pelas colunas, deixaram rastro da sua passagem por todo o lado, especialmente no público que ficou surpreso com a entrega dos americanos que só não subiram a parede lateral, onde podíamos ver o logotipo da Lovers & Lollypops, porque não lhes era humanamente possível. Apesar da entrega, as expectativas altas saíram-nos furadas já que Ho99o9 não trouxeram nada de inovador: no fundo soaram-nos a uma banda de hardcore com influências punk banal sem rastos da influência de hip hop que é muito mais demarcada nos registos de estúdio, mais pesado, menos rítmico, mais barulhento sem ter grande “ruído per si”. Um concerto que valeu mais pela entrega e pela performance do que propriamente por aquilo que ouvimos.

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Capitulo II: Da lapidação à consumação. Num tipo de agressão mais sublime, encontramos a colaboração entre Varg, Marshstepper e HHY: numa conjugação de noise “de impacto físico” e claustrofóbico, como se durante uma hora de vida fossemos Will Byers, perdidos no The Upside Down de atmosfera tóxica e quasi-irrespirável, com um demogorgon à espreita em cada esquina, sempre pronto a devorar-nos a uma dentada. Esta colaboração bem que podia ser a banda sonora de “Stranger Things”, já que tal como a série nos enviou para um mundo de suspense, um mundo de privação sensorial e de 0 gravidade. Num misto de mistério, culto e exercícios sobrenaturais, Marshstepper + HHY + Varg foram uma das maiores revelações do Milhões de Festa, um set que esperamos, algum dia, ver repetido. Nesse dia, nesse mesmo Palco Lovers, um par de horas mais cedo, recebemos os Goth Money Records, ou pelo menos quatro dos seis membros que fazem parte do coletivo. Numa agressividade diferente das anteriores, os Goth Money Records dispararam rimas e batidas, num arraial de sonoridades que a imprensa tem vindo a descrever como goth rap – “I don’t like goth rap it sounds weird and corny” afirmou Black Kary em jeito resposta, na LA Weekly. Concordamos. As sonoridades são uma amálgama de hip hop e trap, sonoridades apoiadas nos subgraves e nas letras que vão buscar muito ao gangsta rap. O resultado foi o previsto: uns odiaram e meteram-se a milhas do Palco Lovers, outros dançaram como já não dançavam há muito tempo, sempre com o incentivo dos Goth Money.

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Capitulo III: A apreciação da obra. Dia 22 foi um dia recheado daquilo que o Milhões teve de melhor. Desde Sons of Kemet a Goat, de Goth Money Records a Marshstepper com HHY e com Varg, assim foi desenhado o melhor dia do festival, que contou com o repetente The Bug. Desta feita trouxe consigo Miss Red e as texturas mais jamaicanas do dub com a sua label Acid Ragga. Sem querer descurar The Bug, Miss Red foi o epicentro deste terramoto - para além da sensualidade embutida nos passos de dança da israelita que fizeram com que os nossos olhares se concentrassem nela. É uma MC como poucas(os) no mundo, com um sentido rítmico ainda mais soberbo que tudo o resto, disparando sempre versos certeiros em todas as direções.  A energia simbiótica entre o público e The Bug e Miss Red foi palpável e apesar de termos estado perante um The Bug mais virado para os ritmos quentes do dancehall, o habitual Kevin Martin não se elipsou, tendo-nos atingido com uma parede sonora inacreditável, com graves de outro mundo e, como sempre, explorando os limites do som e do PA, tocando assombrosamente alto. No entanto, o grande destaque vai para GAIKA que também subiu ao palco com The Bug e Miss Red no dia anterior ao seu set – e que não deixou de andar pelo recinto “à civil” com a maior naturalidade e à vontade. Se as expectativas eram altas, o inglês não só as alcançou como ultrapassou com uma larga margem de vantagem. Numa miscelânea de dub, dancehall e hip hop, GAIKA chegou a Portugal com Security, um dos álbuns mais interessantes do ano que inclui colaborações com Miss Red e Trigga. Com uma imagem e uma estética peculiar, GAIKA apresentou um set exímio, não só pela qualidade de execução e pela presença gigante em palco, mas também pela maneira como é capaz de contrastar as sonoridades tão dançáveis com uma performance vocal tão emotiva, longe de ser superficial. Foi nesse limbo estreito que o público dançou, numa reciprocidade de energia sublime com GAIKA; o resultado foi um dos nossos concertos favoritos do ano.

Até 2017, Milhões de Festa.

“Oh it was gorgeousness and gorgeosity made flesh. The trombones crunched redgold under my bed, and behind my gulliver the trumpets three-wise silverflamed, and there by the door the timps rolling through my guts and out again crunched like candy thunder. Oh, it was wonder of wonders. And then, a bird of like rarest spun heavenmetal, or like silvery wine flowing in a spaceship, gravity all nonsense now, came the violin solo above all the other strings, and those strings were like a cage of silk round my bed. Then flute and oboe bored, like worms of like platinum, into the thick thick toffee gold and silver. I was in such bliss, my brothers.”

 

Fonte das citações: A Clockwork Orange de Anthony Burgess.
por
em Reportagens
fotografia Hugo Adelino


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