
Com o anúncio oficial do encerramento da Cave 45, instalou-se na comunidade de melómanos um forte sentimento de melancolia: afinal, passamos muito tempo nos últimos anos a colecionar memórias neste espaço único, dotado de um espírito que simplesmente não se encontra actualmente em mais lado nenhum; mais do que uma mera sala de concertos, a Cave tornou-se a casa do rock na Invicta, um local de descoberta e convívio. Contudo, por muito que nos custe admitir, tudo tem um fim, ainda que este seja cruelmente prematuro.
Ainda assim, até ao final do ano muito temos para ver e ouvir, e na quarta-feira passada foi a vez de assistirmos ao regresso dos alemães Mother Engine, aqui a promover a novidade Hangar.
O grupo, que já por cá tinha estado para uma atuação no Sonic Blast, em Moledo, não acrescenta necessariamente nada de novo, mas a ausência de inovação é compensada com um rock de inegável qualidade: com as bases no stoner de tons psicadélicos, o trio adiciona refrescantes elementos progressivos, tornando as suas composições mais dinâmicas e ricas. Há momentos rockeiros e outros de natureza contemplativa, mas independentemente da opinião que tenhamos sobre o som que praticam, é impossível não nos sentirmos entusiasmados ao ver uma banda a dar tudo o que tem.
A atuação dos Mother Engine – que até direito a encore teve – foi, acima de tudo, uma sessão intimista, suada e enérgica de puro rock retro. Numa noite em que os portuenses Orangotango e os barcelenses West Grave também marcaram presença e proporcionaram belos aquecimentos – os primeiros num registo mais intenso e direto e os segundos numa onda mais bluesy, sem esquecer o peso - celebrou-se a arte do riff e provou-se que o rock continua vivo e saudável. Concertos como estes, ao contrário do local que os acolheu, viverão para sempre na nossa memória.