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Mucho Flow 2018 [6Out] Texto + Fotogalerias

13 de Outubro, 2018 ReportagensJorge Alves

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Mucho Flow

Anna Calvi - Hard Club, Porto [19Out2018] Texto + Fotos

Voivod - Hard Club, Porto [26Set2018] Foto-reportagem
O Mucho Flow atingiu este ano a sexta edição, reunindo a habitual montra de talentos emergentes dentro do universo da música alternativa mas apostando igualmente em nomes mais conhecidos do público português, decisão que certamente contribuiu para que o CAAA (Centro para os Assuntos da Arte e Arquitectura) tenha estado muito bem composto.

No entanto, o Mucho é - e provavelmente sempre será - um evento de pequena dimensão, e não dizemos isto de forma pejorativa; é essa identidade que, na verdade, lhe confere um encanto muito especial, aquela magia de estarmos num espaço intimista a descobrir algumas das bandas cuja música fará futuramente parte da nossa rotina.

Uma delas subiu ao palco logo ao final da tarde, vinda de Brighton. Falamos dos Ditz, quinteto que adota uma fórmula musical semelhante, em muitos aspetos, à dos canadianos METZ, e que proporcionou um poderoso ataque de post-hardcore e noise que, no meio das camadas de distorção frenética, conseguiu incorporar igualmente uma surpreendente sensibilidade pop. Ainda são novos, precisam de passar mais tempo na estrada, mas o potencial que possuem fez desta estreia uma das mais agradáveis surpresas de todo o festival.

Potencial é também a palavra que descreve a irlandesa Hilary Woods; contudo, ao contrário da banda que a antecedeu, ainda se encontra muito longe de o atingir. A sua sonoridade abraça os universos da folk e da pop contemplativa – pense-se num cruzamento entre Grouper e Marissa Nadler, ou mesmo uma Josephine Foster - mas falta-lhe a maturidade artística necessária para realmente instalar uma atmosfera mágica e sonhadora e assim oferecer um espectáculo emocionalmente arrebatador. Para já, o que aqui vimos foi uma prestação inegavelmente competente e bonita, mas que não chegou a ser realmente memorável. Curiosamente, tratam-se das mesmas características que sentimos quando escutamos o álbum de estreia da artista de Dublin, intitulado Colt e com selo da conceituada Sacred Bones. Todavia, Hilary Woods tem tudo para construir um percurso sólido e criativamente gratificante, pois o talento está lá – apenas ainda não foi devidamente explorado.

Colocar os Fire!, um dos grupos mais esperados pelo público presente, à hora de jantar é, no mínimo, uma decisão estranha. Contudo, o trio liderado pelo saxofonista Mats Gustafsson não pareceu minimamente importado com isso e levou-nos numa excitante viagem pelo seu mundo onde o free jazz, o rock e o noise coexistem e onde o espírito de improvisação e a mestria instrumental andam de mãos dadas. Um concerto curto mas muito bem conseguido, numa verdadeira lição de experimentalismo sonoro protagonizado com inteligência e requinte.

Logo a seguir, a produtora belga Sky H1 passou pelo Mucho Flow para assinar um dos mais impressionantes concertos do evento. Apoiada numa eletrónica tão emocionalmente densa quanto dançável, constrói magistrais paisagens sonoras que, mesmo nos momentos mais ritmados, revelam-se extremamente delicadas. Na verdade, tudo no seu trabalho nasce e vive de emoções fortes: o EP Motion foi gravado após o falecimento do pai, pelo que as suas composições são o resultado da mais pura catarse, de uma intensa mas necessária batalha com a escuridão de modo a atingir a luz ao fundo do túnel. Durante cada segundo deste esplêndido concerto nadamos livremente num oceano de introspecção sonora, sendo que quando terminou, um sentimento agridoce invadiu o nosso coração, num misto de tristeza pelo fim de uma atuação tão bela e felicidade por termos tido oportunidade de experienciar algo tão encantador. Nem de projeções precisamos para poder sonhar.

DITZ, Hilary Woods, FIRE! e SKY H1

De sonhos - aqui no campo da realização pessoal - parece ser feita a curta carreira dos Black Midi: pouco material editaram até agora e a presença nas redes sociais é mínima e quase enigmática. Apesar disso, têm alimentado um fortíssimo hype à custa de explosivas atuações – os conterrâneos Shame atribuíram-lhes o título de melhor banda londrina nos dias de hoje – e desta forma pouco ortodoxa mas altamente eficaz vão ganhando nome por onde passam, sendo que a estreia em Portugal não foi exceção.

Será, aliás, seguro afirmar que levaram para casa o prémio de banda revelação, tendo passado da obscuridade para o estrelato (a nível underground) numa só noite. Para isso muito contribuiu a ousada e dinâmica sonoridade do grupo – uma complexa mistura de math rock, noise e post-punk tão desenfreada como sofisticada, tão ruidosa como melódica, num constante jogo de contrastes que originou uma imprevisibilidade entusiasmante. Acima de tudo, destacam-se pela forma como evocam nomes do passado - lembramo-nos de uns Slint, de uns Don Caballero – sem nunca soarem a uma mera cópia, apenas exibindo as referidas influências como consequência de uma incansável busca por uma identidade própria. Os Black Midi que vimos nesta noite certamente que não serão os mesmos de amanhã: sentimos neste jovem coletivo a vontade eterna de explorar novos territórios, de evoluir com cada subida ao palco, e aquilo que no Mucho Flow apresentaram foi, muito provavelmente, uma simples amostra daquilo que pretendem ser num futuro próximo. Será talvez prematuro vê-los como a melhor banda atualmente em Londres, mas são uma das mais promissoras propostas do panorama internacional contemporâneo. Aguardamos o inevitável e desejado regresso a terras lusas.

Gaika foi, tecnicamente, o cabeça de cartaz do Mucho Flow, mas não foi responsável pelo melhor concerto do festival, ou mesmo por uma grande prestação. Não há dúvidas quanto à qualidade que o artista de Brixton exibe em estúdio - Basic Volume, lançado este ano, é um fantástico disco tanto a nível musical como conceptual –, mas, em palco, essa magia parece estar algo ausente. Não podemos dizer que o músico tenha realmente desiludido pois o seu grime de influências jamaicanas conseguiu arrancar, em diversos momentos, um considerável movimento de pés por parte da plateia, simplesmente faltou mais intensidade emocional a uma atuação minimamente satisfatória mas, infelizmente, afetada por um ritmo demasiado estável e ocasionalmente monótono. No final, Gaika cumpriu. Simplesmente gostávamos que tivesse também encantado.

Já os catalães Mourn protagonizaram uma das melhores e mais enérgicas atuações da noite. Na estrada a promover os temas que compõem a novidade Sorpresa Familia, puseram todos a dançar ou a abanar a cabeça ao som de um rock alucinante, de alma punk e orgulhosamente inspirado nos saudosos anos 90. Possivelmente motivados pela batalha legal com a antiga editora espanhola Sones (encontram-se agora na Captured Tracks), sentem a necessidade de provar continuamente a sua vitalidade artística, resultando em prestações incendiárias e apaixonadas que constituem uma espécie de grito de libertação. No final, foram autores de uma festa verdadeiramente épica.

Black Midi, Gaika e Mourn

Por esta altura já algum cansaço se ia acumulando, mas a vontade de festejar permanecia, influenciada não só pelo maravilhoso set de house, techno e kuduro de Nídia, uma das maiores pérolas da Príncipe Discos, como também pela curta duração do evento. Afinal, enquanto que outros festivais oferecem uma aventura de três ou quatro dias, o Mucho termina ao fim de doze horas ininterruptas. Foi por isso mesmo que fizemos o esforço de chegar a tempo de ver os concertos da tarde, com entrada gratuita, onde destacamos o dos Vaiapraia e as Rainhas do Baile. Já conhecidos dos melómanos mais atentos, voltaram a mostrar que são um dos mais fascinantes projetos nacionais da atualidade. Punk e pop psicadélico são os ingredientes musicais usados nesta receita artística que expõe abertamente temáticas queer num mundo por vezes ainda demasiado fechado e conservador. Podem ter uma postura descontraída em palco, mas basta observar a paixão e força com que o frontman Rodrigo Vaiapraia canta estes temas para nos apercebermos da ansiedade e da urgência que os mesmos contêm, numa fragilidade emocional apresentada numa veia tão confessional quanto provocadora, com vista a promover um sentimento de empoderamento. Simplesmente fantásticos.

Ainda no mesmo palco, os Huggs provaram ser donos de um rock direto e orelhudo, de virar do século (notam-se algumas influências dos The Strokes), sendo que apenas necessitam de mais tempo e experiência para se tornarem numa das melhores bandas rock da cena nacional.

Vaiapraia e as Rainhas do Baile, Huggs e Nídia
por
em Reportagens
fotografia Hugo Adelino


Mucho Flow 2018 [6Out] Texto + Fotogalerias
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