A primeira banda a subir ao palco foram os veteranos Steal Your Crown. O MSHC (Margem Sul Hardcore) permanece em força, e basta observar uma receção de sala cheia para o confirmar. Caras adultas, jovens, uma amplitude de idades que sublinha o quão universal este nome tem sido nas últimas vagas de anos para cá. Quer se seja familiar a este ambiente ou não, a fossa de meia lua que une o público à banda é frequentemente invadido por ecos das letras e stage dives. Tal o espírito que se vive, conjugam-se sorrisos irónicos, abraços e coisas um pouco menos amigáveis mas, francamente, faz parte! Passando por malhas como “OMF”, “Black Souls”, “Last Chance” com uma eficácia diabólica, foi mesmo com “Family Heritage” e a já muito familiar “Streetly Street” que se viu o abismo a revirar com malícia acrescida.
Curto e grosso é como se quer, e quer se goste ou não, a cena pertence a estes momentos. Mesmo a propósito de como o vocalista Dice brindou a noite com um discurso que sublinha a importância de fazer tudo isto pela cena, e nada mais nada menos. Tendo em conta a ligeira mudança de alinhamentos nos últimos tempos, o concerto marcou o retorno de Freddy às quatro cordas, e testemunhou-se o cimentar de um co-frontman cujo nome não deve ser esquecido: Domy. A promulgar ameaças a uma sala cheia e com uma presença em palco incontestavelmente ameaçadora, tudo isto tem de vir por acréscimo com uma t-shirt de Congress (rijo!).

Next up, No Warning. A antecipação é cada vez maior e, estranhamente, denotam-se agora ainda mais caras adultas do que em SYC. A sala está cada vez mais composta e com cada vez menos ar para respirar. Apesar do soundcheck atrasado e observando um guitarrista que mais parecia retirado do universo do psych rock dos 70’s, o pujante início da banda foi arrebatador. Observam-se agora corpos a voar de um lado para o outro, caos no seu estado puro, e uma pintura que quase se assemelha a uma gravura de Gustave Doré do Inferno de Dante. Cilindradas malhas como a primeira, clássica e fulgurante “Behind These Walls”, a interligar guitarradas bem mais crossover e corridas de arrasto como “Beyond the Law” ou “In the City”; é fácil perceber como é que o público não consegue ficar indiferente a este estrilho todo.
As músicas recentes podem muito bem desencadear uma chama destemida com alma e os pés bem assentes na terra, mas são os clássicos do O.G. Ill Blood que metem cabeças a rodar. A meio do concerto já se nota suor, uma bola de cristal próxima da queda e o vidro da lateral do palco a contar as suas últimas vidas em pé. “We don’t do encores. We only play half an hour, we’re not Aerosmith, well not some of us.” aplicou o frontman Ben Cook que depois explicou que após tantas visitas a Portugal, esta acabou por ser a primeira com a banda ao seu lado. Com aplausos, risos e uma cumplicidade entre banda e público que não se vê em mais lado nenhum senão num concerto de hardcore, a banda ditou a última gota com a memorável “Ill Blood”.

“Everybody knows and everybody talks. Everybody sees but no one’s saying nothing. It’s no use - get a clue.”
Após o caos, o movimento passou para a rua, onde um desértico Bairro de Alvalade recebeu convívio, pizza, bebida e muita amizade nas suas ruas. Bem-haja.
(Fotografias da autoria de Solange Bonifácio, gentilmente cedidas pela própria e pela Hell Xis.)