Sensivelmente dois meses passados desde que
Tranquility Base Hotel & Casino aterrou no radar das rádios indie, os britânicos
Arctic Monkeys chegam ao Alive ao fim de o apresentarem para regozijo do público maioritariamente adolescente presente. Com uma fanbase totalmente renovada, assim como a sua música (não que isso seja propriamente bom, muito pelo contrário), o quinteto apresenta-se com um visual à setentas com Alex Turner de blazer branco e óculos à Elton John, a passar mais tempo junto do seu teclado do que da guitarra. Vale a pena referir Elton John novamente? O cenário, todo ele renovado, transmite uma falsa ideia de época: lê-se um Monkeys luminoso e em itálico. Lembramo-nos de cenários semelhantes, especialmente aquele apresentado pelo conjunto The Monkees, esses que, de facto, viveram os anos setenta.
O público que povoava a zona mais fronteiriça do palco NOS demonstrava saber e viver tanto o seu mais recente disco como também
AM, claramente o mais amado pelo público presente. Ficou claro que para os presentes os discos pré-
AM não existem, algo que parece pronunciar-se também dentro da própria banda, ou não tivesse esta retirado o peso que sempre conferiu a “505” (de
Favourite Worst Nightmare), agora longe de terminar concertos, junto com a tirada humorística que Turner profere antes de investir em “I Bet That You Look Good On The Dancefloor”, assumindo o crowd-pleasing deste que parece ser o único dos temas antigos que sobreviveu à nova geração de fãs.
A atuação em si revela-se pouco sumarenta, algo que já se esperava tendo em conta a parca qualidade dos seus últimos anos enquanto banda. Houve “The View From The Afternoon”, uma “Cornerstone” digna de fazer chorar meninas de 15 anos e uma “Pretty Visitors” arrebatadora apesar da mudez da plateia. “Star Treatment”, aquela que será a melhor canção do disco, não passando mesmo assim da banalidade, foi deixada para aquecer o encore, sendo este seguido por “Arabella”, o tal tributo a Black Sabbath, e encerrado por “R U Mine?”. Plateia ao rubro, concerto requentado.
Após
Product (2015), funcionando como uma compilação de singles, e o novíssimo
Oil Of Every Pearl’s Un-Insides assumindo-se como candidato sério a álbum do ano de muitas webzines e imprensa independente,
SOPHIE estreia-se em Portugal a fim de apresentar o seu trabalho enquanto produtora musical emergente. Não se sabendo se esta se apresentaria em live act ou DJ set, apercebemo-nos que talvez esta atuação tenha caído mais sobre a segunda opção. Foi uma atuação curta e dividida em duas fases: a primeira – cerca de vinte minutos de tech/chillhouse, música de clubbing não particularmente memorável, portanto, onde a artista interrompe o set para ir beber algo deixando o público, maioritariamente desconhecedor do seu trabalho, completamente atarantado. A segunda – play/pause da última faixa do seu disco “Whole New World / Pretend World”, a funcionar como resposta a um suposto encore prolongado, depois de uma pausa de uns minutos onde não aconteceu nada. Adjetivos para isto, dois: inesperado e desilusão.

Arctic Monkeys © Everything is New / Arlindo Camacho
Ao início do segundo dia o
Eels mostraram que eram os cinquentões mais cool do pedaço, sempre bem dispostos, conversadores e debitando um rock alternativo clássico de fim de 90’s/early 00’s que apesar de não muito exploratório, é invariavelmente bem feito, conseguindo captar a atenção pelo modo descomprometido e verdadeiro como é tocado. A surpresa de todo o festival. Ainda sobre os noventas (década em claro destaque neste dia), aos
Yo La Tengo bastaram cinco músicas ampliadas (e amplificadas) ao máximo para lhes conferir uma das melhores atuações do festival. “Autumn Sweater” deu início ao holocausto sónico, icónico tema de 1996, revitalizado vinte anos depois. Mais ruidoso, assim como todo o repertório que os norte-americanos apresentaram. Duas incursões a esse
I Can Hear The Heart Beating As One, um tema novo – “Shades Of Blue” - e outros dois de
I Am Not Afraid Of You And I Will Beat Your Ass (2006) culminando com os vinte minutos de “Pass The Hatchet, I Think I’m Godkind”, faixa de abertura (aqui de encerramento) onde Ira Kaplan assume posição de guitar hero, perdendo-se em solos frenéticos e ruidosos, cordas partidas e feedback, duas guitarras em palco a extrair a potência máxima que os amplificadores Marshall lhes poderiam conferir. Performance imaculada, rock a sério.