O serão iniciou-se assim ao som dos canadianos First Fragment, que no meio da inevitável exibição de virtuosismo mostraram ter ideias interessantes e, sobretudo, uma clara preocupação em incorporar melodia no meio da brutalidade técnica, o que faz deles uma proposta claramente mais refrescante e ambiciosa do que outras do género. O mesmo não se pode dizer dos Allegaeon, que apesar de toda a garra exibida, acabaram por se revelar a banda menos imaginativa no campo da composição, apresentando uma sonoridade repetitiva e algo enfadonha; conseguiram, ainda assim, provocar significativas manifestações de entusiasmo na plateia.
Seguiram-se os norte-americanos Fallujah, responsáveis, a par dos Obscura, pela sala bem composta que aqui se verificou e por uma das mais impressionantes prestações da noite. Notoriamente mais viscerais do que os outros grupos que pisaram o palco da Sala 2, ofereceram um balanço saudável entre competência instrumental e uma violenta avalanche emocional, originando uma prestação inegavelmente mais crua e agressiva do que as restantes. Com um alinhamento que tanto viveu de novidades como “Ultraviolet” (retirada do novo disco a ser lançado no próximo mês de março) como de recordações de trabalhos anteriores – destacamos as interpretações de “Abandon” ou “Scar Queen”, por exemplo - assinaram uma atuação tecnicamente proficiente mas que também se revestiu de uma atmosfera intensamente catártica.
A finalizar, os Obscura foram recebidos de braços abertos por uma plateia desejosa de os rever – afinal, muito tempo já se tinha passado desde a última visita do grupo alemão a terras lusitanas. Essa longa ausência foi, aliás, referida pela própria banda ao longo do espectáculo, mas ficou no ar a sensação de que não teremos de esperar muito pela próxima passagem, pelo menos tendo em conta o ambiente fantástico que aqui se viveu e do qual certamente a banda tão cedo não se esquecerá.
Com o mais recente “Diluvium” na bagagem - a obra que encerra o ciclo de discos conceptuais iniciado há uma década - os Obscura mostraram estar no topo da sua forma, tanto a nível criativo como em palco. Seguros de si próprios e com vontade de deixar o público português com uma inesquecível colecção de boas memórias – talvez, em parte, como modo de nos recompensar pelos quase dez anos de intervalo entre actuações no nosso país - brindaram-nos com uma prestação deveras competente e profissional, alterando entre novidades como “Emergent Evolution”, “ Mortification of the Vulgar Sun” e recordações como a “ velhinha” “The Anticosmic Overload”, a fechar com chave de ouro uma bem- sucedida prestação que deixou bem claro estarmos perante um colectivo confiante e talentoso, capaz de compor temas tão complexos quanto apelativos (um equilíbrio nem sempre fácil de atingir) e que domina igualmente a arte de cativar uma audiência.
E assim se encerrou uma noite memorável para os apreciadores de música pesada e recheada de virtuosismo.

Obscura. Agradecimento especial a Emanuel Ferreira, autor da fotografia, pela cedência da mesma.