
Pouco faltava para a hora que constava no programa e a sala já se encontrava bastante composta. Na segunda noite de Vodafone Mexefest, e com Elza Soares a atuar no Coliseu, seria fácil antever a dificuldade de encher o Tivoli. A expectativa que era já alguma, redobrou-se com a ausência da bateria. Relembrando Paredes de Coura uns meses antes: “Mas não eram 5 ou 6 em palco?”. Queria-se o mesmo, ou melhor. Apenas duas cadeiras, um amplificador, respetivos microfones.
Heis que entram Max, Julien e... Mais ninguém? Não, apenas o guitarrista e o vocalista/baterista. Vem então à memória que os próprios tinham anunciado que iria ser um concerto diferente. E foi. Diferente do que tivemos oportunidade de ver em agosto, diferente dos que se foram vendo na digressão.
Estiveram notoriamente acanhados ao início, talvez devido à ausência dos restantes membros (que “foram para casa para o Dia de Ação de Graças, fazer o que quer que seja que os americanos fazem nesta altura”, segundo as palavras do próprio Julien), ou talvez pela sensação de pavor que assola quem não é assim tão antigo nas lides de palco.
O concerto decorreu com uma troca de afabilidades entre o palco e a audiência que se revelava em muitos sorrisos, palmas ansiosas do público a cada segundo de silêncio, exclamações de amor platónico entre duas entidades que estavam ali unidas por uma hora de música que diz muito e de forma que relembrará sempre as margens do Coura e aquele serão chuvoso de novembro.
Ainda que o calor etéreo fosse muito (tal como tinha sido em Paredes de Coura), a adaptação da banda para um formato acústico teve os seus óbvios percalços. Julien habitualmente central e rodeado da sua bateria, surgia com uma guitarra eletro-acústica, que preenchia as melodias enquanto Max se encarregava de pormenores mais intrincados. Esta abordagem às músicas de Light Upon the Lake e às três covers revelou que apesar do esforço para atingir um nível técnico semelhante ao que demonstra na bateria, Julien nem sempre conseguiu cumprir o que nos propunha.
Esta é, sem dúvida, uma banda movida pela energia pós-adolescente de músicos que parecem adorar o palco, mas que ainda não atingiram a plenitude daquilo que podem vir a ser quando atuam ao vivo. O que sobejou em proximidade e cariz intimista, não fez esquecer totalmente as pequenas imperfeições (que em Paredes de Coura não foram tão evidentes). Com uma banda completa e a necessidade de equilibrar instrumentos e participações não existe tanto espaço para não preparar convenientemente a atuação.
Independentemente de nos ter sido dado a conhecer mais sobre a história por trás de cada música do que em Paredes de Coura, sentiu-se a falta da variabilidade instrumental a que o concerto anterior e as repetidas audições de Light Upon the Lake nos tinham habituado.
Saímos contentes. Quentes para o frio da rua, onde ainda os fomos encontrar na porta dos atores do Tivoli. Estivemos à conversa. Ali eram como colegas de faculdade a dizer como tinha sido complicado gravar o primeiro verso de “No Woman”, e a prometer mais uma vez que diriam qual tinha sido a música composta em Lisboa durante as férias que por cá passaram antes do concerto.