Estes primeiros enrolam uma mixórdia interessante entre os elos centrais do noise rock e garage rock enquanto mantêm o corpo, forma e entrega do UK punk. As malhas são curtas, bem encabeçadas e com melodias e hooks que ficam no ouvido. O baixo, que muito parece ser o maior défice em bandas deste gênero, esteve em grande foco. Frequências bem formadas e uma abertura à altura. Venha No Age. A dupla americana, composta por guitarra e bateria, Randy e Dean, subjuga as sensações a um espectro de doçura e excentricidade. Um som que pode deixar os mais céticos de pé atrás, mas que promete um especial apreço pela complexidade e textura, sem por um instante, soluçar na energia. Tanto um como o outro, vêem no presente momento, o mais íntimo motivo para saborear a vida. Cada pulsação rítmica, o transporte de palavreados gemidos em bom volume ou até mesmo a pressa para trocar uma corda partida da guitarra, quanto mais depressa possível, para não quebrar o ritmo. O público estava todo lá para eles e vice-versa.
Main event da noite, Pigs! Uma lufada de ar fresco… de início ao fim, suar até dizer chega, non-stop, malha atrás de malha. É admirável poder ver um coletivo que gosta, com todas as letras da palavra, daquilo que faz. Cinco amigos, uma indiferença total aos críticos e uma vontade inabalável de fazer barulho, dançar e louvar o decibel. Com uma atitude punk até dizer chega, os Pigs devem de ser das poucas bandas a escrever doom da forma mais refrescante e dinâmica, sem nunca quebrar regras, emoldurando no processo a atitude “fuck you” que tão bem conhecemos da old school britânica. Com uma sala composta e um público bem atento, ninguém quis perder um único momento de apreciação, à forma como os uivos tresloucados do Baty ou a bateria enfática do Christopher se empenharam para elevar os ouvintes ao êxtase máximo. A conexão imediata que surge da intensidade, do pulsar e da vibração que estes lads criam, é inigualável. Tocando malhas como a “Icon”, “Sweet Relief” e muitas contribuições do mais recente álbum King Of Cowards, a ser lançado dentro de semanas, não houve problemas nem hesitações em conquistar o público lisboeta.
Após as primeiras visitas no Reverence em 2016 e no Milhões de Festa no ano passado, é bom vê-los voltar, desta feita em palcos onde brilham com mais clarividência e timbre. Tomando em conta a sequência de energia que veio a acumular desde o início do serão, era mesmo deste colapso que estávamos a precisar. Bem haja Pigs! Dito isto, não percam esse bom hábito por favor, e não falhem a visita para o ano. Já estamos com saudades.
