Galeria com Wednesday, Blondshell, My Morning Jacket e Built To Spill.
O cabeça de cartaz da noite eram os míticos Pet Shop Boys, que não chamaram tanto público como antecessores Kendrick Lamar e Rosalía. Enquanto tocavam, Self Esteem começava a despertar algum interesse no palco ao lado. O projeto de Rebecca Lucy Taylor, que integrou a banda indie folk Slow Club, é como um recomeço para a britânica. Agora num registo mais pop, ela abraça com todas as suas forças este novo título de diva pop sem medo de expor as suas inseguranças, medos, críticas à sociedade e luta contra preconceitos. Esses temas aparecem em “Prioritize Pleasure”, de 2021, que apresentou no Palco Plenitude. No público, a paixão com que os fãs proclamavam as suas letras mostra este vínculo com uma comunidade farta de represálias e de serem ostracizados. Não só a sua voz é encantadora, como toda a sua performance detalhadamente calculada e coreografias de danças teatrais criaram um ambiente de resiliência e superação. A sua vulnerabilidade em palco é visível, acolhendo o choro e o abraço sentido com as suas companheiras de palco.
No palco Vodafone, St Vincent já tinha os céus de Nova Iorque estampados no seu palco. Annie Clark, Portugal já é considerado um habitué nas suas tours e é sempre recebida de casa cheia. A maioria deslocou-se para ver a nova persona que a artista norte-americana encarnou em “Daddy’s Home”, o mais recente trabalho de St. Vincent. Agora com inspirações nos anos 70, Annie fez um disco intimista, e talvez o mais pessoal, que retrata os tempos de encarceramento do pai. Puxando influências em Pink Floyd, Clark deslumbra sempre na guitarra e consegue dar um pouco mais de si cada vez que volta. Não faltaram as suas outras fases musicais, começando com “Digital Witness” e “Birth in Reverse” do álbum homónimo, passando pelo aclamado “Masseduction” com “New York” e “Los Ageless” e até “Cheerleader” e “Year of the Tiger”, de “Strange Mercy”.
Por aqui, os cabeças de cartaz eram Le Tigre. O trio, formado em 1998 pela Bikini Kill Kathleen Hanna, continua a ser um pináculo do movimento riot e feminista, cheio de revolta e celebração como era esperado. Juntamente com Johanna Fateman e JD Samson, Hanna é um símbolo da força punk na crítica político-social, elevando a voz e fazendo com que nos juntemos a ela através de todas as letras visíveis no ecrã. Em “Keep On Livin”, Hanna exibiu compaixão por vítimas de abusos sexuais, incluindo-se. Mesmo “existindo dias que não consegue sair da cama”, dá força já que “todos os dias em que estão cá já é um dia melhor”. Com músicas extremamente ativistas, esta partilha o que outrora disseram de a banda ser “de karaoke” e orgulhosamente diz que tudo o que vêm é feito pela banda, desde coreografia, a música e vestuário. Neste seguimento, existe um apelo a que artistas continuem a fazer a sua arte, sem desistir. Com elementos de punk, pop, eletrónico e noise, tornaram o palco Vodafone numa pista de dança, principalmente em “Phanta”, “TKO” e na final deslumbrante“Deceptacon”. Parece que a chuva esperou que se ouvisse “See you later” na última música para que chuviscos caíssem, terminando um dia menos intenso, mas devidamente cheio de pontos fortes.