Ainda eram perto das nove horas da noite no grande edifício encarnado junto à Ribeira. A lua cheia dava as boas vindas aos que se deslocavam para o Hard Club no dia 20 de março, data que assinalava o regresso, sempre caloroso, dos Radio Moscow ao Porto. Existem certos concertos que parecem transportar por si próprios uma legião que se conhece quase sem se falar, talvez por comparências constantes em tudo o que gire em torno do que emana blues, psicadélico e stoner rock à mistura e que faz relembrar as grandes tardes e serões de verão em Moledo. Desde setembro de 2017 que a banda de Iowa, nos Estados Unidos da América, não brindava o público português com um concerto em nome próprio, voltando agora para um espetáculo completamente esgotado dias antes da data assinalada.
Os primeiros acordes dos The Black Wizards soavam a bom som e a plateia que ainda estava lá fora apressava-se em deslocar-se à Sala 2 do Hard Club. Já com dois álbuns na manga, Lake of Fire (2015) e o mais recente What the Fuzz! (2017), os The Black Wizards aqueceram bem o público que já estava presente em grande número, pronto para absorver ambos os concertos na sua totalidade. Sem serem estranhos nenhuns a performances memoráveis, muito pelo contrário, o quarteto português faz realmente estrondosas explosões de rock pulsante em palco. Com um vistoso check em vários festivais por toda a Europa – com confirmação na próxima edição do Resurrection Fest –, Joana Brito (voz e guitarra), Paulo Ferreira (guitarra), João Lugatte (bateria) e João Mendes (baixo) espalharam o desbravamento cerrado, fazendo parte da setlist a já sua imagem de marca “Freaks and Geeks”, em que o abrangimento vocal de Joana Brito se eleva sem igual.
The Black Wizards
Sem vergonhas, o público estava bem próximo do palco para receber as personagens principais da noite. Já habituados a marcar comparência no país, Griggs aproxima-se do microfone para cumprimentar o público e a cidade com um sorriso de orelha a orelha. Ainda entre interações com os presentes, destaca-se um fistbump de Anthony com um fã que não hesita em elogiar a banda.
À semelhança do espetáculo que trouxeram em 2017 ao mesmo local, e em jeito de viagem no tempo para os mais assíduos, “New Beginning” despertou os riffs e ritmos do trio composto por Parker Griggs (voz e guitarra), Anthony Meier (baixo) e Paul Marrone (bateria). A trote largo seguia-se “So Alone”, faixa integrante do antecessor de New Beginnings (2017), Magical Dirt (2014), onde o vozeirão áspero de Griggs parece arranhar fervoroso os breaks nos riffs de guitarra.
Quando as primeiras três faixas são de álbuns distintos e que captam diferentes oscilações temporais da banda, é possível notar o som que os Radio Moscow têm vindo a explorar. Apesar de pertencerem ao espectro do revivalismo do psicadelismo dos anos 60, existe uma exploração intempestiva que não faz cansar o público de os ver em Portugal (ou onde quer que eles vão), ora seja pelo solo de bateria abismal em “No Good Woman”, ora pela incansável rapidez rítmica imparável com que se seguiam faixa após faixa.
O concerto ainda contou com uma faixa integrante do disco epónimo e mais hendrixiano, a carregada de blues (e como o nome indica) “Deep Blue Sea”. Para iniciar o encore, o grande apogeu imprescindível que é “250 Miles”, sempre marcada pelo leve devaneio mental que proporciona no início e que depois se desdobra em movimentos convulsivos para o maior agrado de todos. Por fim, a agressiva e elétrica “Pacing”, para começar e acabar o concerto com duas das mais vibrantes faixas do mais recente disco.
O Porto ficou bem resvés nesta pequena tour que abrangia França, Espanha e Portugal no início deste ano. Veredicto: nunca desiludem.
Radio Moscow