O último dia do festival nasceu com a intenção de dar força à expressão “deixar o melhor para o fim”. Via-se uma multidão ainda maior e havia um elemento identificador vincadíssimo: Kiss. Camisolas de Kiss, pinturas faciais à Kiss, acessórios de Kiss, poses de Kiss…
No palco principal os apetites são abertos por Somas Cure, com o seu último álbum Ether, e pelos britânicos Oceans Ate Alaska abrindo as hostilidades moshistas com o seu metalcore frenético. Diretamente vindo de Portugal, entra em ação o famoso guitarrista de Alter Bridge, Mark Tremonti com o seu projeto a solo. O fantástico guitarrista e frontman roda os êxitos maiores da sua discografia incluindo o seu mais recente trabalho A Dying Machine. Sem grande interacção com o público, compenetrados em executar os temas com perfeição, Tremonti somou mais uma atuação de respeito.
Oceans Ate Alaska, Pūrpura e Tremonti
A grande surpresa (sem o ser) do dia faz soar as sirenes e rapidamente se aglomerou uma multidão imensa diante do palco principal. Frank Carter, acompanhado pelos seus Rattlesnakes, está aí. O antigo vocalista de Gallows é constantemente aquilo que se espera (e mais). Enérgico, energético e energizante. Não pára. Vem com grande parte do seu repertório, rodando Blossom e Modern Ruin, é acompanhado pelos ResuKids, caminha tal qual Jesus sobre os ombros da audiência, salta, pulta e faz o pino. Incita o maior circle pit do festival, recusando-se a prosseguir o espetáculo enquanto a multidão não correr freneticamente à volta da torre de controlo. Desde “Wild Flower”, passando por “Devil Inside Me” e finalizando com “I Hate You”, o britânico mostra aos grandes cabeças de cartaz que veio para deixar uma marca (e uma bem profunda).
No palco Ritual era servida a maravilha gourmet de Igorrr e do seu freak show sublime. Misturando electrónica arrojada com tudo o que de bom se faz nas sonoridades mais extremas, juntando-lhe a voz angelical (e gutural) de Laure Le Prunenec e salpicando com elementos do barroco, do clássico e da bela vida parisiense dos anos 20, o francês Gautier Serre apresentou-se com um concerto potente e imponente, tocando muitos temas do seu mais recente trabalho, Savage Sinusoid.
Frank Carter & The Rattlesnakes e Rotten Sound
Igorrr e Process of Guilt
Novamente voltados para o palco principal, o público foi presenteado com três quartos de Rage Against The Machine, elementos de Public Enemy e de Cypress Hilll. O supergrupo Prophets of Rage (que não se deixou fotografar), pautado pela indumentária de revolução vermelha e nergra, vem com a ambição do costume: trazer o jogo político e o manifesto anti-Trump para a festa. O concerto é intenso, com um ritmo alucinante, passando pela energia dos homens da voz e culminando nas maravilhosas seis cordas de Tom Morello. Tocam-se temas originais, mas também vários temas de cada uma das bandas de proveniência (“Fight The Power” e “Bring The Noise” de Public Enemy), e atinge-se o pico máximo do festival com o retorno ao palco de Frank Carter para acompanhar o grupo em “Killing In The Name” e fechar as contas na decisão de melhor momento do dia, deixando para a história esta performance brutal.
Os australianos Thy Art Is Murder trazem o seu deathcore com toques de grind ao palco Ritual, acompanhados pelos ResuKids neste retorno a Viveiro, e são responsáveis pelo início da formação de multidão que aguarda ansiosamente pelo cabeça de cartaz do dia.
Rodeados de material cénico e pirotécnico surgem os norte-americanos Kiss (que também não permitiram captação de imagens) e todo o peso que o seu nome e legado carregam. Paul Stanley e o sempre controverso Gene Simmons aparecem em excelente forma num espetáculo que começa com uma descida de elevador pelos elementos da banda e com o soar de “Deuce” e “Shout It Out Loud” a bom som. A setlist é muito semelhante à que tem pautado a tour europeia da banda e o auge da plateia atinge-se evidentemente com temas como “Rock & Roll All Nite”, “I Was Made For Lovin’ You” e “Detroit Rock City”. Apesar de notório o cansaço da voz de Paul Stanley (sobrecarregado com os deveres vocais desta pesada tour), destaque para a boa performance do grupo no geral e extra pontos para todo o espetáculo envolvente, o habitual fumo e fogo, os confettis e papelinhos, as explosões e as peripécias aéreas caraterísticas tanto de Stanley como de Simmons. Fica plenamente justificada a aposta e a audiência aplaude fervorosamente.
Quando tudo parecia terminado, sobram ainda uns bons milhares de festivaleiros arrojados (a hora era tardia) que se deliciaram com a festa de Alestorm e a sua galhofice habitual, com os poderosos The Bronx e mais um concerto brutal, com os clássicos do trash metal de Exodus e com os Eyehategod imponentes e de respeito.
Alestorm e The Bronx
Exodus e Eyehategod
Bem pesadas as coisas, o festival que parecia mais agradável aos olhos comerciais face a outras edições, revelou-se uma aposta de sucesso, com concertos (e organização) de nível altíssimo e claro agrado generalizado. Aguarda-se ansiosamente pelo próximo ano e sonha-se com voos mais altos na escolha dos cabeças de cartaz: as hipóteses para novidades não são muitas, e há uma “cunha” com o amigo Corey Taylor. Fica a dica.