1
QUI
2
SEX
3
SAB
4
DOM
5
SEG
6
TER
7
QUA
8
QUI
9
SEX
10
SAB
11
DOM
12
SEG
13
TER
14
QUA
15
QUI
16
SEX
17
SAB
18
DOM
19
SEG
20
TER
21
QUA
22
QUI
23
SEX
24
SAB
25
DOM
26
SEG
27
TER
28
QUA
29
QUI
30
SEX
1
SAB

Rewire Festival 2018 [6-8Apr] Live coverage

31 de Maio, 2018 ReportagensRafael Baptista

Partilhar no Facebook Partilhar no Google+ Partilhar no Twitter Partilhar no Tumblr
Rewire Festival

North Music Festival [25-26Mai2018] Foto-reportagem

SWR Barroselas Metalfest XXI [27-29Abr2018] Texto + Fotogalerias
Rewire, o festival holandês de techno e música “aventureira” é acima de tudo, um festival cruel. Muita qualidade musical para tão pouco tempo e tão pouco espaço. Palcos eram muitos – uma antiga fábrica, duas igrejas e uma série de salas e teatros espalhados pela cidade – mas o que falta é espaço. Seria possível, pagar pelo passe do festival e não conseguir entrar num único concerto. O que nos deu a entender é que foram vendidos bilhetes ilimitados e que a maior parte dos concertos ocorreram em espaços com menos de 300 lugares. Mas o Rewire é muito mais do que enormes filas. Tem pseudo-raves no icónico Paard, tem experimentalismo e cacofonias várias, uma forte presença de artistas femininas e muito do crescente deslumbramento pela música do oriente.

Após um dia a vaguear pela bela e gentrificada cidade de Haia, o plano foi ver Royal Conservatoire String Ensemble tocar aquele que é, provavelmente, o trabalho mais desinteressante de Tristan Perish, o Active Field. Sem surpresas. O que valeu foi Raphael Vanoli, guitarrista holandês que, com a sua técnica de soprar nas cordas, faz a guitarra soar como se nunca tinha ouvido antes. Com pena, saiu-se entre músicas e aplausos para tentar ver Širom na Koorenhuis Zaal. Infelizmente, a zaal estava esgotada. Ficou-se para ver Ben Vince, nome recente da cena experimental britânica, na Koorenhuis foyer. Vince utiliza repetição em forma de loops para criar paisagens sonoras minimalistas e progressivas muito ao estilo de Colin Stetson, um bocado mais calmo e com bass bem mais acetinado e profundo, recomenda-se! Era hora das primeiras decisões difíceis da noite: ver Mia Zabela James Plotkin & Benjamin Finger e depois Fatima Al Qadiri ou Joshua Abrams e companhia? Optou-se pela quantidade, não se refletindo em qualidade. Na igreja, Finger sintetizava soundscapes ambiente com melodias chatas, Plotkin manuseava a sua guitarra praticamente inaudível enquanto Zabela se encarregava de dar vida às composições empregando dissonância e textura. Saiu-se a meio, mas o violino de Mia rendeu a estadia.

Da Hyperdub, Fatima Al Qadiri apresentava Sha7eem que na prática, apresenta uma série de músicas que parecem inacabadas e maioritariamente arrítmicas com grandes influências do médio oriente, felizmente acompanhada por um bom espetáculo audiovisual, permanecendo sentada, de costas para o público e de cabeça tapada. Foi-se até à sala ao lado por Amar 808, autoproclamado “futurista do norte de África”, Sofyann Ben Youssef, acompanhado pelos conterrâneos Cheb Hassen Tej e Mehdi Nassouli, tal como o cantor argelino Sofian Saidi.  De futurista não teve muito, mas foi incrível o resultado da mistura dos sons acústicos do Magrehb com o bass bem profundo da TR-808. Mais decisões: voar sobre os mantos psicadélicos dos sintetizadores de Kathlyn Aurelia Smith ou o clarinete e guitarra de Zimpel/Ziolek? Moeda ao ar, ganha Zimpel/Ziołek à melhor de três! Ainda boquiabertos com a produtora espanhola Jass e desconsolados com Deena Abdelwahed, eis uma escolha fácil para a noite: Floating Points e a fraca abordagem progressiva/minimalista que foi Ratio, ou os monstruosos beats & bass da Discowoman Ziur? Ziuuur, fácil! Por vezes inclassificável, a produtora de Berlim entregou o que U Feel Anything? prometia. Beats mutantes de uma série de influências díspares, culminando em faixas originais, no real sentido da palavra. E a seguir? Três horas do high-octane techno de Umfang e Volvox! O que mais se podia pedir? Mais três horas ainda!

Raphael Vanoli ©Pieter Kers

 

O segundo dia começou com o concerto de Irreversible Entanglements, que é como quem diz Camae Ayewa (Moor Mother) na voz, Keir Neuringer no saxofone alto, Aquiles Navarro no trompete, Luke Stewart no contrabaixo e Tcheser Holmes na bateria. Deram ao Rewire o seu free-ish jazz dançável de alta voltagem com spoken word a tresandar a segregação, proporcionando uma constante batalha entre o corpo e a mente. Pouco depois viu-se um dos melhores concertos do festival, a combinação explosiva entre os americanos Arto Lindsay (guitarra desafinada e voz) e Zsmighty Greg Fox (percussão), mighty Patrick Higgins (guitarra) e mighty Sam Hillmer (saxofone tenor). O resultado foi um free rock monstruoso com uns toques tropicais e letras maioritariamente em brasileiro. O sotaque de Lindsay foi por vezes perturbador, o que só acrescentou ao surrealismo das composições. A bateria de Fox foi texturada, tribal e pesada, como nos tem habituado, reafirmando-se como um dos bateristas mais importantes da atualidade. A guitarra de Higgins foi mais livre e psicadélica do que tem sido hábito quando toca como Zs, mostrando o porquê de ser um dos melhores guitarristas a surgir do outro lado do Atlântico. Hillmer foi Hillmer, no melhor sentido. Com o seu saxofone, ora sustido e minimalista, ora livre e percussivo e vice versa. Para acabar em grande, uma versão Lindsay-esca de Corps para deleite de muitos que gritavam e assobiavam aos primeiros sinais do tema.

Para aquecer para a noite que viria, Stephan Meidell & Ensemble, onde a música barroca e o techno se encontram, eram destino imperdível. Soa horrível não? Se já ouviram Metrics, sabem como é incrível. Meidell é primariamente guitarrista, mas o álbum é tudo menos centrado na guitarra. Munindo-se de uma drum machine, um mixer sem input, uma tape machine e um sintetizador, Meidell podia gravar um álbum e dar concertos sozinho, mas são os arranjos clássicos que tudo seguram e que fazem deste, um dos melhores álbuns do ano passado. Pesado no som e no conteúdo lírico, eis Chino Amobe. No pouco tempo que restava deu para ver Amobe rappar e gritar sobre a sua club music industrial com o ocasional pica miolos “welcome to Paradiso” e “you are now listening to worldwide radio with Chino Amobe” tal como no álbum. Recomenda-se.

Na sala ao lado, começava Karen Gwire, que iria tocar Rembo ao vivo. Durante 40 minutos oscilou entre o kick-clap ghetto house de “The Workers Are on Strike” e os broken beats de “Yes, But I Didn't Know They Were Owls”, com os sintetizadores sempre a pingar ácido. Nina Kraviz, produtora e DJ de Irkutsk, Sibéria, trouxe um dj set especial repleto de faixas de produtores de Haia. Entre techno minimal e industrial, com algum experimentalismo e sloppy-djing à mistura, Nina não desiludiu.

Stephan Meidell & Ensemble ©Pieter Kers

 

Para primeiro concerto do último dia tivemos Ivan Vukosavljevic & Il Hoon Son. Piano e guitarra no seu estado mais íntimo, onde a ressonância da guitarra e do piano colidem numa  refinada e minimalista palete de sons. Belo concerto a antecipar Beatriz Ferreyra. A compositora argentina de 81 anos, fez bom uso do efeito stereo para nos dar três peças, todas compostas antes dos anos 90. A primeira de cordas, a segunda de voz – de uma rapariga que queria ser cantora, mas morreu cedo num acidente, contou Beatriz –  e por último, uma peça mais barulhenta, empregando uma panóplia de sons que pareciam ser de origem eletrônica, oferecendo dos 45 minutos mais bem passados do festival.

Em Rupert Clervaux & Ben Vince encontraram-se variações entre krautrock minimalista com saxofone, baixo e um free-jazz-rock nas passagens. Foi bom, abanou-se a cabeça, o corpo e o espírito num estado permanente de quase-trance. Não inventaram nada de novo, mas fizeram-no bem. Com algum jogo de cintura, dava tempo para visitar a compositora coreana Park Jiha e o experimentalista japonês Sugai Ken, mas quando chegamos ao Korzo já se fazia fila para Sugai Ken. Valeu a pena a espera? Se valeu!  “Naaturaaal… Artificiaaal…” Mais um excelente momento deste festival. O produtor japonês apresentou-se numa sala completamente escura onde a única fonte de luz eram os seus instrumentos. Aplicou sons eletrónicos esparsos sobre mandos de field-recordings com a ocasional voz metálica pitched-down monocordicamente dizendo: “Naaturaaal… Artificiaaal…” – foi tudo como um sonho. Durante o festival vimos uma série de artistas que gostam de turvar a barreira entre o natural e o artificial, mas ninguém o fez tão bem como Sugai Ken.

Tomando em conta o contexto económico que se vive na Holanda, este é um festival que pelo seu preço de inclusão, dispensa qualquer dúvida que haja no que toca a “valer a pena” ou não. Não só vale a pena como ainda pode valer por uma experiência única e extraordinária pelo preço que exige Há questões a abordar e tomar em conta, como a lotação limitada e o pouco ou quase nenhum controle na venda de passes e bilhetes, ou frequentes sobreposições e filas. A vida é feita de sacrifícios, e o Rewire lembra-nos que há males, que por vezes vêm por bem.

Ivan Vukosavljević & Il Hoon Son ©Bram Petraeus
por
em Reportagens


Rewire Festival 2018 [6-8Apr] Live coverage
Queres receber novidades?
Comentários
Contactos
WAV | 2023
Facebook WAV Twitter WAV Youtube WAV Flickr WAV RSS WAV
SSL
Wildcard SSL Certificates
Queres receber novidades?