
Foi já na passada quarta-feira que o Musicbox Lisboa rebentou pelas costuras. O prato principal era o americano Shlohmo, que regressaria à capital lusitana para apresentar o seu mais recente trabalho Dark Red, que, ao que parece, os portugueses assimilaram com entusiasmo.
Meia hora após o horário previsto, entra em cena o não-menos-entusiasmante Purple. O beatmaker, da mesma editora que Shlohmo (Wedidit), cumpriu bem o seu trabalho defronte de um público, que já enchia a casa por esta altura, maioritariamente, desinteressado. Enquanto Purple dropava beats cativantes e obscuros, e rapava/cantava sobre os mesmos, a plateia aproveitava para falar e meter a conversa em dia, tanto com os amigos como nas redes sociais. Bastava olhar para trás ou para os lados para vermos as luzes dos smartphones estampada na cara dos iluminados que preenchiam a sala. À exceção de algumas pessoas nas primeiras filas, o restante público, certamente, já nem se recordará quem foi o jovem que abriu Shlohmo ou sequer aquilo que apresentava. Pena porque valeu bem a pena e os que prestaram atenção, apesar de por vezes ser difícil com a barulheira que os circundava, não se arrependeram!
Bons beats, bom groove, bom flow... Concluindo: bom deep house.
Por volta da 23 horas sobe ao palco a atracão principal da noite. O californiano, contrariando as nossa suposições, veio com banda atrás: baterista e guitarrista/teclista completavam aquilo que, com Shlohmo, se revelava num trio vencedor! A banda deu ainda mais corpo à música (maioritariamente) instrumental do produtor, que apostou num alinhamento bastante apoiado no seu mais recente trabalho, porém, músicas como “Places”, “The Way You Do” ou “When Uuu” não foram deixadas de fora, agitando o chão da sala com os seus baixos graves. Os presentes reagiam aos “clássicos” com grandes ovações.
Por entre o fumo e o background luminoso (um portão misterioso com o número 13 em cima, uma serpente e a rosa de Dark Red) Henry Laufer movimentava-se, suavemente, provando o multi-instrumentista que é, tratando de meter a locomotiva em marcha e apoiando-a com algumas guitarras distorcidas pelo meio. Era agradável podermos observar a construção musical desde o seu início, com a crescente introdução de sons pré-gravados e ao vivo. Shlohmo sabe bem o que faz e a intensidade e facilidade de como faz tudo isto só comprova o bom músico que é e o motivo pelo qual o Musicbox esgotou totalmente.
Ainda na transição entre músicas, observamos o ora guitarrista ora homem dos sintetizadores a pedir um cigarro a uma jovem que se situava à sua frente. Uma bonita interação do músico com o seu público. “Ten Days Of Falling” e “Beams” foram deixadas para o final do concerto, que entretanto já atingira a hora de duração. Os músicos foram saindo um a um, deixando Henry sozinho nos últimos minutos de “Beams”, o single do novo disco e a última música do espetáculo, colhendo assim os louros e a ovação dos seus fãs.
Shlohmo revela-se um rapaz de poucas palavras, porém, de grandes ideias, deixando-nos na ânsia de o podermos ver novamente, quem sabe ainda este ano, num qualquer festival de Inverno. Assentava que nem uma luva!