Anunciada com pouca antecedência, e tendo lugar na mesma semana de eventos como Tool ou o VOA, esta nova passagem dos Soulfly pelo nosso país corria o risco de se revelar um fracasso de bilheteira; o cenário, felizmente, não foi esse, pois mesmo não tendo esgotado, a Sala 1 do Hard Club encontrava-se muito bem composta e recheada de fãs prontos para a festa. Admirável, sim, mas não totalmente surpreendente, tendo em conta que é de Max Cavalera que aqui se fala - um nome que, verdade seja dita, não precisa de introduções, mas que continua a merecê-las: antigo vocalista dos míticos Sepultura e uma das figuras que mais ajudou a colocar o Brasil no mapa do metal mundial, Max é uma autêntica lenda - o público sabe-o, e por isso mesmo faz questão de o receber sempre de braços abertos, num gesto de carinho gentilmente retribuído pelo músico.
É verdade que o senhor já não possui a agressividade vocal de outrora, aquela garra que fazia dele um arrepiante animal de palco - os anos passam, a idade começa a sentir-se, é inevitável - mas a paixão continua lá, para não falar no carisma, essa potentíssima arma que lhe permite controlar os presentes com uma facilidade impressionante; qualquer jovem frontman pode, e deve, observá-lo para aprender como isto se faz. Direto e eficaz, comanda a audiência como um general comanda um exército, e qualquer ordem, seja para pular, “abrir a roda” ou pôr as mãos para cima, é exemplarmente cumprida. Algo bonito de se ver, há que admitir. Nem todos o conseguem, mas Max, hoje um artista conceituado com uma carreira consolidada - escreveu capítulos essenciais da história do heavy metal, essa honra ninguém lhe tira - continua a ser um fã, alguém que ainda retira prazer daquilo que faz, e essa paixão genuína sente-se bem.
Contudo, é deveras importante enfatizar o papel crucial que o resto da banda desempenha: Marc Rizzo continua a ser um verdadeiro mago das seis cordas que deverá ser futuramente recordado como o mais talentoso (pelo menos a nível técnico) guitarrista com que Max colaborou desde os tempos de Andreas Kisser, nos Sepultura, ao passo que Mike Leon é um baixista bastante competente e habilidoso. Quanto a Zyon Cavalera - um dos filhos de Max, que chegou a aparecer em já distantes concertos de Sepultura nos anos 90, quando o pai fazia questão de o levar ao palco no final das atuações - tem evoluído imenso, mesmo que não esteja exatamente ao nível de, por exemplo, o tio Iggor; mas quem sabe se um dia não chegará lá?
Falou-se anteriormente em Sepultura, mas foi curioso notar a ausência de temas da ex-banda de Max, algo refrescante, sobretudo tendo em conta que essas canções - memoráveis, eternos hinos - já são, de qualquer forma, recordadas nos concertos protagonizados ao lado do irmão, com quem, nos últimos anos, interpretou o influente Roots e foi igualmente ao baú buscar temas dos “velhinhos” Beneath the Remains e Arise. Não há nada de errado com a nostalgia - pode ser saudável desde que não caia no exagero - mas os Soulfly, que lançaram o primeiro disco em 1998, já construíram um legado sólido, pelo que tocar temas de Sepultura só para que os saudosistas mergulhem novamente no passado glorioso, que alguns ainda sonham que se volte a tornar presente, revela-se desnecessário. Assim sendo, foi bom (só) ouvir composições de Soulfly, num alinhamento que percorreu de forma inteligente o percurso do quarteto - houve novidades como “Ritual”, “The Summoning” ou “Under Rapture”, mas também recordações como “No”, “Back to the Primitive”, “ Tribe” ou ”Rise of the Fallen”. O final - precedido por uma curiosa e engraçada aparição do neto de Max para introduzir “ You Suffer” (cover dos Napalm Death) - deu-se com o habitual medley “Jumpdafuckup/Eye for an Eye”, que encerrou com chave de ouro uma prestação altamente satisfatória, mesmo que Max já não esteja no seu auge. Contudo, também não era isso que se esperava; tudo o que se queria era um concerto divertido, suado, dinâmico; precisamente o que, nesta bela noite de julho, foi oferecido. Voltem sempre!
Na primeira parte, os Revolution Within assinaram uma prestação enérgica e apaixonada. Afinal, como o vocalista Rui “Raça” Alves fez questão de referir, idolatra Max Cavalera, cresceu a ouvir a obra dele e, portanto, este concerto revestiu-se de um enorme significado emocional. Percebeu-se desde logo que isto era, acima de tudo, um momento especial, uma doce memória a ser arquivada nos corações do coletivo, e isso fez com que fosse gratificante testemunhar esta “conquista”, independente da opinião que se tenha sobre o som que praticam. Motivados e enérgicos, os Revolution Within proporcionaram uma sessão intensa de thrash/death com muito groove à mistura que acabou por se revelar o aquecimento perfeito para o que aí vinha.