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Depois de um Alive em full gas, chegámos ainda cansados a um Super Bock Super Rock renovado. O rock voltou à cidade, dizem. Chegámos ao parque das nações e reparamos logo nas intermináveis filas para a troca das pulseiras, despachamo-nos o mais rápido que conseguimos e corremos para apanharmos o concerto dos King Gizzard & The Lizard Wizard no Palco EDP, aquele que frequentaríamos durante mais tempo durante os próximos três dias de festival. Já o nosso fotógrafo ficou preso nas congestionadas filas, razão pela qual não temos fotos dos concertos de King Gizzard & The Lizard Wizard, Perfume Genius e PZ. A fila era a mesma dos convidados, sem que estes deixassem passar à frente as pessoas que tinham que trabalhar. Certamente que estavam cheios de pressa para os croquetes da zona VIP, pois para os concertos tinham uma frontline reservada para que pudessem a qualquer momento assistir a qualquer concerto à frente do "povo" que já lá estivesse.
Atuando de frente para o Rio Tejo e com um sol intenso na retaguarda, os australianos (de onde mais poderiam vir?) apresentam o seu garage psicadélico perante um público meio sentado, meio de pé, que lá ia prestando atenção ao que ali se ia passando. Muito do público ainda se encontrava nas filas para a troca de bilhete por pulseira e o facto do festival só ter uma entrada não ajudou o caso.
Não obstante, a música dos “marsupianos” até ser bastante aprazível para o género que praticam, não entendemos o porquê de serem sete a fazer o que três fariam perfeitamente. Eram necessários dois bateristas a fazerem exatamente o mesmo? Três guitarristas em que dois tocam os mesmos acordes ao longo das músicas? O som estava péssimo, cheio de eco e sem qualquer definição, a harmónica e o baixo eram impercetíveis na maior parte do tempo e mais atrás não se ouvia mais do que um ruído de instrumentos emaranhados pelos choques sonoros da pala do Siza Vieira. Um problema que foi comum a todos os concertos deste palco, mas mais notório aqui, quiçá por ser das primeiras bandas do festival ou pela falta de público. Fomos a um concerto dos King Gizzard que mais parecia um do Merzbow.

Permanecemos no mesmo local para observarmos Perfume Genius, pela segunda vez presente no festival, desta feita com banda, a encantar o público, já mais numeroso, com a sua calma e pacífica música. Mike Hadreas revelou-se não tão profundo na interpretação das suas novas músicas do que o que ocorreu com as antigas, no verão de 2012, onde potenciou um dos sets mais intensos sentimentalmente de que temos memória.
Ainda ouvimos "All Waters", "Take Me Home", "Rusty Chains", "Hood" e "Floating Spit", tocadas de seguida e inteiramente a solo. No entanto, todo o espetáculo foi concebido para ser efectuado com banda e notámos alguns arranjos em canções mais antigas para que estas se enquadrassem melhor no seu novo formato. Preferíamos o modo de composição antigo, é certo, mas a música é assim mesmo, sempre em constante mutação. E Too Bright não é menos brilhante que os seus antecessores.
Juntamente com a sua banda, Mike consegue agarrar durante bastante tempo uma boa parcela do público presente no recinto àquelas horas. Apesar do bom número, o público revelou-se desinteressado, sendo frequente ouvirmos conversas e sussurros até mesmo nas filas da frente, interferindo com a música do norte-americano, e apenas se dissipando aquando do início do concerto dos britânicos The Vaccines.
Nunca é demais referir que apesar de mais dinâmica, a sua música exige o mesmo nível de atenção que se fosse tocada apenas ao teclado, coisa que, aparentemente, os festivaleiros não compreenderam. A paz foi estabelecida a partir do meio do concerto, quando somente os interessados permaneceram no recinto, cantando e interagindo com o artista. Sob um magnífico pôr-do-sol, "All Along" finalizou o concerto, deixando a sensação de paz aparente nas almas daqueles que por lá permaneceram. Valeu a pena.

De plateia cheia e prontos para a cantoria, PZ subiu ao palco fazendo-se acompanhar por mais três músicos, todos de pijama, ou não seria mais um belíssimo concerto de Paulo Zé Pimenta, sempre com uma grande critica social ligada às letras mas cantada sempre com o mesmo ar jocoso. "Sabem" que o público pede sempre as mesmas duas músicas, não atendendo à tal critica social e apenas ao prazer de cantar uma letra meia parva. Assistir a um concerto deste moço de pijama é uma legenda às suas músicas. A ganância de "Croquetes" ou a beleza da "Cara De Chewbacca" fazem com que tudo o resto seja um "enche chouriços", uma molenguisse, um "canta lá mais essa e depois canta os croquetes". Apesar de isto ser uma realidade constante nas performances de PZ, temos de sublinhar os belíssimos arranjos que dão vida às letras, beats daqueles que nos fazem dançar e mexer. Sem conseguir tocar as "Bestas", passou pelo "Mundo", "Introdução Maligna", "Passeio"… mas sem nenhuma outra conseguir conquistar as dimensões dos seus dois hits.
Com um conjunto de semi-triângulos de luzes em palco e com o ecrã desligado, surgem os Little Dragon em palco. Também repetentes do festival, os suecos mostraram a versão mais eletrónica possível das suas músicas, metendo todos a dançar desenfreadamente. O público mostrou-se conhecedor das letras e em Nightlight e Turn Left, tocadas sem pausas, houve refrões cantados em uníssono relegando Yukimi Nagano para segundo plano.
Apesar do público conhecedor e conquistado, os suecos deram-se ao luxo de nem sequer tocarem alguns dos seus maiores êxitos como "Twice", "Feather" ou "Crystalfilm", substituindo-os por faixas novas como a não menos boa "Klapp Klapp" e "Only One", que encerrou o alinhamento numa total apoteose. A música que em estúdio se revela bastante calminha e silenciosa, ao vivo e em versão longa, torna-se num completo hit de house music fazendo saltar todos os presentes com as suas poderosas linhas de baixo. Sem dúvida, uma das surpresas do dia.