Os nova-iorquinos The Men já há muito que se estabeleceram como uma das bandas mais ambiciosas e dinâmicas desta década, exibindo um louvável desejo de colorir um universo artístico outrora dominado por densas esculturas de noise rock. Contudo, se essa constante renovação estilística dá origem a discos deliciosamente imprevisíveis e orgulhosamente ousados (do qual Drift, lançado este ano, é um exemplo), ao vivo a experiência é inevitavelmente afetada pela ausência de uma atmosfera musical estável. Nesta passagem pelo Maus Hábitos, o grupo de Brooklyn alternou constantemente entre o registo abrasivo e a exploração melódica de cariz intimista, misturando a agressividade selvagem e rockeira de temas como “Killed Someone” e “Dreamer” com a toada folk contemplativa de composições como “Sleep” ou “Come to Me”, e deixando ainda espaço para baladas negras e sedutoras como “When I Held You in My Arms” ou para o post-punk de sentimento industrial e incursões pelo free jazz que define “Maybe I'm Crazy”. O próprio uso de instrumentos enfatizou essa busca pela diversidade, com o saxofone e a harmónica a darem ainda mais sabor a esta riquíssima receita sonora.
Contudo, essa panóplia de sons e emoções fez com que se sentissem quebras de intensidade ao longo do concerto, com o mesmo a revelar-se ora soberbo, ora bastante mais morno. À saída, em conversas informais, comentava-se que parecia que se estavam a ver várias bandas ao mesmo tempo, e foi precisamente aí que residiu o problema: não na qualidade dos temas, mas no carácter pouco coeso da apresentação. Todavia, os momentos altos foram demasiado memoráveis para que tenhamos abandonado o Maus Hábitos desapontados: mesmo com algumas falhas, vimos um dos nomes mais criativos e corajosos do atual panorama musical, que evita a todo o custo a estagnação… para o bem e para o mal.